Pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG) iniciaram os primeiros ensaios para a produção de hidrogênio verde a partir do processamento de resíduos agroindustriais, como o bagaço da cana-de-açúcar.
No início deste mês, a UFG inaugurou em Goiânia o Laboratório de Pesquisa em Processos Renováveis e Catálise (GOH2), fruto de parceria com a Agência Técnica de Cooperação Alemã GIZ (Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit GmbH), que investiu ? 762 mil, ou cerca de R$ 4 milhões, em equipamentos.
O laboratório é o primeiro do país a fazer ensaios para a produção do combustível sustentável a partir de resíduos da agropecuária. Curitiba e Natal devem inaugurar outros dois no início de 2023, para estudos sobre a produção de hidrogênio verde a partir de glicerina e biogás, respectivamente. Os investimentos fazem parte do projeto H2Brasil, da GIZ, que já aportou ? 36 milhões.
O objetivo do projeto é desenvolver tecnologias alternativas para restringir os impactos climáticos da queima de combustíveis fósseis no setor aéreo. A princípio, os ensaios no laboratório conseguem produzir petróleo sintético por meio de processos químicos industriais aplicados ao bagaço da cana combinados com energia renovável. O próximo passo da pesquisa é “fracionar” esse produto para extrair hidrocarbonetos renováveis, como hidrogênio ou querosene de aviação verdes.
A GIZ aposta que o Brasil poderá ser um grande produtor e exportador desse tipo de combustível, que deverá ser introduzido na aviação internacional de forma obrigatória a partir de 2027. “Existe uma demanda estabelecida em escala internacional, mas ainda não existe a produção”, disse Marcos Oliveira, coordenador no projeto H2Brasil.
Markus Francke, diretor do projeto, disse que a produção de hidrogênio verde é “relativamente fácil” no Brasil, já que o país dispõe de energia renovável suficiente e, principalmente, de carbono disponível para o processamento. “Essa é a grande vantagem no Brasil. E não precisamos aumentar a produção agrícola para isso”, explicou.
Segundo ele, só o resíduo da produção de cana-de-açúcar em São Paulo é suficiente para gerar biogás para todo o país. “O agronegócio pode comportar todo esse desenvolvimento”, completou.
Agroindústrias da região metropolitana de Goiânia fornecem amostras de produtos para os ensaios no laboratório. A GIZ não vai produzir o hidrogênio verde, afirma Francke. A intenção é fomentar o desenvolvimento dessa indústria no Brasil e dar condições para o aproveitamento total dos resíduos na agroindústria.
“Os próprios industriais podem ter interesse de comprar o equipamento para processar seus resíduos e gerar energia renovável com isso”, explicou Marcos Oliveira. Além do hidrogênio e do querosene de aviação, há outras possibilidades de extração de produtos, como gás carbônico, metano e até itens para os ramos farmacêutico e de cosméticos, que hoje utilizam derivados de petróleo fóssil. Ao final do processo, obtém-se uma água “quase potável”, que pode ser reaproveitada na indústria.
Para o agronegócio, as possibilidades são ainda maiores, como a produção de “fertilizantes verdes”, disse Markus Francke. “O hidrogênio verde pode ser uma alternativa promissora para diminuir a dependência do Brasil de fertilizantes químicos importados. [A partir desse processo], o país tem potencial de produzir todo fertilizante que consome e até exportar”, disse. Segundo ele, além de exportar combustíveis e adubos renováveis obtidos a partir do processamento de resíduos agrícolas, o país pode melhorar sua imagem no exterior e aumentar o valor da produção nacional.
Fonte: Valor Econômico
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