A Stellantis vai dar mais um passo este ano rumo ao plano de produção de carros híbridos no Brasil. Por meio de parcerias com a área acadêmica e com empresas fornecedoras, serão desenvolvidos localmente tecnologias e componentes hoje disponíveis apenas em outros países, principalmente da Ásia.
Já estão em curso contatos com a área acadêmica. “Queremos aliar nosso conhecimento a novas ideias”, afirma o presidente da Stellantis na América do Sul, Antonio Filosa. A partir daí, diz, serão negociadas parcerias, com startups, por exemplo. E, em seguida, virá a fase de “incubação” de ideias e testes, que incluirão o uso de etanol em sistemas elétricos.
Evitar a necessidade de importar componentes será um ponto fundamental da estratégia, segundo o executivo. “Outras montadoras que já oferecem essa tecnologia usam itens importados; mas nós queremos nacionalizar a tecnologia”, destaca Filosa.
No Brasil, a Toyota vende carros híbridos – que têm um motor a combustão e outro elétrico – que podem ser abastecidos com etanol. Outras empresas, como o grupo CAOA, também estudam o uso do combustível derivado da cana em veículos híbridos que começam a ser produzidos no país.
Mais detalhes sobre o investimento nas futuras gerações de veículos, que exigirá recursos adicionais aos R$ 16 bilhões anunciados pelo grupo para o período entre 2018 e 2025, serão divulgados futuramente.
Grande parte do trabalho que envolve as novas parcerias, chamado pela montadora de “Bio-electro”, será executado em Minas Gerais, onde o grupo conta com 1,5 mil engenheiros. “Em geral, na indústria, incluindo o período em que surgem as ideias, o tempo de desenvolvimento de um automóvel leva de 18 a 24 meses”, diz Filosa.
O trabalho de ter uma base de fornecedores locais para as futuras gerações de híbridos movidos a etanol seguirá estratégia já adotada nas fábricas do grupo. Principalmente na unidade de Goiana, em Pernambuco, a companhia tem feito grande esforço para atrair fornecedores para a região. Total de 34 já estão instalados em Pernambuco; 16 deles no mesmo parque industrial da fábrica de veículos. Em breve serão mais dois, cujos nomes ainda não foram revelados.
Filosa defende tratamento tributário diferenciado para o desenvolvimento de novas tecnologias de propulsão veicular com energias limpas e também para instalações industriais localizadas em regiões menos favoráveis em termos de logística e tecnologia, como é o caso da fábrica pernambucana.
“Qualquer nova tecnologia, como células de combustível que usam etanol, por exemplo, devem ser pensadas para favorecer a atração da indústria. Se a carga (tributária) não é alinhada a essa ideia, a opção acaba sendo pela importação”, diz. Já em relação à infraestrutura, diz: “em algumas regiões, a rede rodoviária está muito distante do que é, por exemplo, São Paulo, que tem um nível europeu”. O mesmo acontece, destaca o executivo, no uso de conectividade nas operações indústrias. “Enquanto em alguns lugares há disponibilidade do 5G em outros nem o 4G funciona plenamente.”
Na segunda-feira (30), em visita à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse ser um entusiasta da reindustrialização e defendeu que o Brasil aproveite a agenda ambiental para explorar seu potencial de energias renováveis.
Filosa considera “interessante” ouvir a opinião do ministro, mas acrescentou que “a Stellantis nunca deixou de reindustrializar, apesar de a indústria como um todo ter perdido espaço” no país.
A Stellantis surgiu globalmente há exato um ano, da fusão entre os grupos Fiat Chrysler e Peugeot Citroën. Filosa, que já era o presidente da Fiat Chrysler, foi escalado, na época, para assumir o comando do grupo na região.
Desde então, a companhia tem trabalhado no intercâmbio de métodos de produção entre as marcas e uso compartilhado de sistemas de compras. Filosa aponta, como exemplo, o motor do Citroën C3, que é hoje produzido em Betim (MG), na fábrica que originalmente era da Fiat.
A supermontadora foi líder no Brasil e na América do Sul em 2022, quando fez 24 lançamentos de veículos. Segundo Filosa, entre 2021 e 2025 serão 43 lançamentos, entre modelos totalmente novos e alguns importados, principalmente elétricos.
O grupo estabeleceu a meta de ser carbono zero até 2038 e isso, segundo o executivo, inclui o Brasil. “Se pensarmos bem, o Brasil sai na frente. Já tem hoje os carros que usam etanol, uma energia que se equipara, em termos de emissões, aos elétricos vendidos na Europa”, diz.
Fonte: Valor Econômico
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