Com um rebanho superior a 220 milhões de cabeças de gado, a pecuária brasileira pode contribuir, e muito, para o combate das mudanças climáticas.
Um dos principais resultados da COP – 26, realizada em Glasgow – Escócia, foi a assinatura do Compromisso Global de Metano, cujo objetivo é a redução das emissões do gás em 30% até 2030. O Brasil é um dos mais importantes signatários do acordo, com o segundo maior rebanho do mundo, atrás apenas da Índia. Entre os cinco maiores produtores mundiais ainda temos a China, os Estados Unidos e a União Europeia.
O Metano (CH4) virou foco das discussões na COP depois que estudos comprovaram que o gás é, aproximadamente, 28 vezes mais potente do que o dióxido de carbono no aquecimento global. Na verdade, os dados sugerem que CH4 tem sido responsável por cerca de 30% do aumento da temperatura do planeta. Indicaram também as principais fontes: na ordem crescente, a produção de combustíveis fósseis, a decomposição de lixo orgânico (aterros sanitários), e, principalmente, a fermentação entérica de ruminantes – o arroto do animal. Foi quando colocaram “o boi, literalmente, no banco dos réus”.
A princípio, essa má fama até se justificaria. Dados preliminares sugerem que um boi pode liberar cerca de 60 quilos de metano por ano, e, considerando o tamanho do rebanho mundial – 1 bilhão de cabeças-, é fácil entender porque a pecuária contribuiria tanto para as mudanças climáticas. Esses números, entretanto, têm sido criteriosamente revistos por pesquisadores brasileiros.
Cientistas da Embrapa descobriram que a atividade pode emitir bem menos do que estimado pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), especialmente quando adotadas práticas sustentáveis no manejo do rebanho. Uma pastagem bem conduzida, por exemplo, tem capacidade de absorver todo o carbono que as vacas liberam na forma de metano. Se integrarmos pecuária, lavoura e floresta, essa emissão pode ser até negativa.
O sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) é uma estratégia sustentável para o aumento da produção agropecuária, uma vez que reduz a abertura de novas áreas, aumenta a captura de carbono e diversifica a atividade rural. Depois que o Brasil assinou o Acordo de Paris, o ILPF foi incluído entre as tecnologias do Plano ABC – estratégia brasileira para promover a migração da agropecuária para um modelo de baixo carbono.
Entre 2010 e 2018, já conseguimos mitigar 22 milhões de Mg CO2 eq com conversão de 5,83 milhões de ha em área de ILPF – 111% da meta estabelecida no Programa. Além disso, o Plano incentivou a recuperação de pastagens e o tratamento de dejetos animais, o que mitigou outros 20 milhões de CO2 eq. São tecnologias de produção sustentáveis que podem mudar perfil da pecuária brasileira e gerar mais renda para o produtor.
Iniciativa da Minerva Foods, empresa brasileira que comercializa carne in natura, está fomentando a descarbonização da cadeia produtiva bovina por meio do Programa Renove. Apoiando produtores na implementação de melhores práticas de produção, como a medição, o monitoramento das emissões e a conversão de áreas em ILPF, a empresa está conseguindo remunerar a produção de carne menos intensiva em carbono. As fazendas parceiras já emitem 44% menos gases de efeito estufa (GEE) em comparação com a média mundial.
De vilã ambiental, a Pecuária Brasileira pode prestar um importante serviço ambiental para o planeta. O que precisamos é acelerar, ainda mais, essa transição.
Deputado Arnaldo Jardim
Cidadania – SP
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