A Stellantis, dona de marcas como Fiat, Citroën, Peugeot e Jeep, desenvolve no Brasil três modelos híbridos de motopropulsão e um 100% elétrico, com o objetivo de produzir e vender automóveis com essas tecnologias no país a partir do ano que vem. O desenvolvimento dessas tecnologias faz parte do projeto de descarbonização do grupo, que tem como metas globais reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 50% até 2030 e neutralizar 100% das emissões até 2038.
O presidente da Stellantis para América do Sul, Antonio Filosa, disse que todas as marcas do grupo terão modelos elétricos ou híbridos a partir do ano que vem no país, mas os primeiros modelos a serem lançados ainda estão em fase de definição. “Acho que as primeiras marcas a lançar vão ser as marcas de maior volume de vendas, como Fiat e Jeep. Acho”, disse Filosa.
Filosa também disse que os carros híbridos e 100% elétricos terão posicionamentos de preços diferentes, havendo possibilidade das marcas Fiat e Citroën apresentarem modelos com preços mais acessíveis. Até 2030, segundo o executivo, o grupo pretende ter 60% das vendas de veículos híbridos.
Em evento para jornalistas realizado no polo automotivo de Betim, a Stellantis apresentou a tecnologia batizada de “Bio-Hybrid”, que combina uso de energia térmica flex e eletrificação. As plataformas híbridas foram desenvolvidas no centro tecnológico do grupo, em associação com fornecedores, pesquisadores e outros parceiros. Essas tecnologias são compatíveis com todas as linhas de produção das três plantas da Stellantis — em Betim, Porto Real (RJ) e Goiana (PE).
Platamformas
A Stellantis desenvolveu quatro plataformas, Bio-Hybrid, Bio-Hybrid e-DCT, BioHybrid Plug-In e BEV (100% elétrica). Cada uma apresenta um grau distinto de combinação térmica e de eletricidade na propulsão do veículo, segundo o vicepresidente do Tech Center da Stellantis na América do Sul, Marcio Tonani. Das quatro arquiteturas em desenvolvimento, a Bio-Hybrid é a mais acessível em termos de custos e a mais cara é a do carro 100% elétrico (BEV).
A plataforma Bio-Hybrid tem um novo dispositivo elétrico multifuncional, que substitui o alternador e o motor de partida. O equipamento é capaz de fornecer energia mecânica e elétrica, que gera torque adicional para o motor térmico do veículo, bem como energia elétrica para carregar a bateria adicional de Lítio-Íon de 12 volts, que opera paralelamente ao sistema elétrico convencional do veículo.
A plataforma Bio-Hybrid e-DCT possui dois motores elétricos. O primeiro substitui o alternador e o motor de partida. O outro motor elétrico é acoplado à transmissão. Uma bateria de Lítio-Íon de 48 volts dá suporte ao sistema e é alimentada pelos dispositivos. Uma gestão eletrônica controla a operação entre os modos térmico, elétrico ou híbrido, otimizando eficiência e economia.
A plataforma Bio-Hybrid Plug-In possui bateria de Lítio-Íon de 380 volts recarregada com sistema de regeneração nas desacelerações, alimentada pelo motor térmico do veículo ou através de fonte de alimentação eterna elétrica (plug-in). A arquitetura conta ainda com motor elétrico que entrega potência diretamente para as rodas do carro.
Por fim, a arquitetura BEV (100% elétrica) é totalmente impulsionada por motor elétrico de alta tensão, alimentado por uma bateria recarregável de 400 volts, por sistema de regeneração ou plug-in. A arquitetura oferece torque instantâneo, com acelerações rápidas e responsivas.
Competitividade
Os esforços de desenvolvimento dessas tecnologias começaram em 2022, com a criação do Bio-Electro, uma plataforma de aceleração de tecnologias híbridas de motopropulsão. A Stellantis optou por adotar no Brasil tecnologias de descarbonização que combinam uso de etanol e eletrificação, até que seja feita a eletrificação total da frota de veículos.
“Nós acreditamos que a mais competitiva no mercado, a mais disponível e a que os números confirmam ser das melhores é a combinação de eletrificação e do etanol. Nós vamos fazer isso localizando as tecnologias, criando mais riqueza para o Brasil em todos os territórios onde nós estamos”, afirmou Filosa.
“Pelo fato da gente ter uma grande ajuda do etanol na descarbonização, a gente não precisa fazer esse salto de forma disruptiva. Se fizer isso, a gente vai simplesmente jogar fora toda uma cadeia produtiva. Mais de 85% da nossa frota hoje é flex. A gente só precisa ter estratégia de oferecer combinações de híbridos em diferentes níveis”, afirmou o vice-presidente de assuntos regulatórios para América do Sul da Stellantis, João Irineu Medeiros.
Recentemente, a Stellantis fez um teste dinâmico com um veículo quando alimentado com quatro fontes diferentes de energia, para medir a emissão total de carbono em cada situação. O automóvel foi abastecido com etanol e comparado em tempo real com a mesma situação de rodagem em três alternativas: com gasolina tipo C; 100% elétrico, abastecido na matriz energética brasileira, e 100% elétrico abastecido na matriz energética europeia. A comparação considerou o ciclo de vida completo de emissão de CO2 do veículo. A propulsão a etanol emitiu 18% menos CO2 do que um veículo elétrico abastecido com energia europeia, devido à sua geração baseada em fontes fósseis. Na comparação com gasolina, a redução das emissões é cerca de 60%.
Filosa acrescentou que a adoção de modelo híbrido com o etanol é uma oportunidade de reindustrialização e de reconfiguração da indústria nacional de autopeças. Filosa considerou fundamental para a evolução dos negócios a nacionalização de componentes e de fornecedores, além da descentralização da indústria para equilibrar a oferta de componentes em todo o país. “Com produção local estaremos protegidos contra variações do câmbio, protegidos contra custos logísticos de importação. Isso vai nos ajudar a baixar os custos unitários de graus crescentes de eletrificação”, afirmou o executivo.
O vice-presidente sênior dos centros técnicos de engenharia para América do Sul da Stellantis, Márcio Tonani, disse que, atualmente, apenas o carro 100% elétrico ainda não possui fornecedores locais para todos os componentes. “Mas é o futuro ter fornecedores locais. Estamos no momento de desenvolvimento desses fornecedores”, acrescentou Tonani.
Tonani disse ainda que a Stellantis deve desenvolver tecnologia para uso do hidrogênio verde no Brasil no futuro, mas vai ser preciso primeiro reduzir o custo dessa tecnologia. Na Alemanha, a empresa tem modelo movido a hidrogênio com a marca Open.
Desempenho e lançamentos
A Stellantis encerrou o primeiro semestre do ano com receita blogal de 98,37 bilhões de euros (US$ 108,75 bilhões), um aumento de 12% em relação ao primeiro semestre de 2022. O lucro líquido aumentou 37%, para 10,92 bilhões de euros. O lucro operacional ajustado aumentou 11%, para 14,13 bilhões de euros. A margem de receita operacional ajustada foi de 14,4%, ante 14,5% um ano antes.
A empresa informou que, na América do Sul, atingiu participação de mercado e 23,7%, um recorde, com vendas de 411 mil unidades. O grupo consolidou sua liderança no Brasil, com 32,3% de participação de mercado, na Argentina (31,2%), no Chile (12,1%) e no Uruguai (24,6%).
Filosa destacou crescimento de 336% nas vendas do Rampage e o fato da Peugeot ter superado 14 mil emplacamentos em junho no Brasil. A Fiat foi a marca mais vendida no país e no continente. O Fiat Strada foi o modelo mais vendido no país. “Consolidamos a liderança em quatro países e crescemos em todos os países da América do Sul. Ainda temos muito a fazer”, afirmou Filosa.
A Stellantis prevê lançar na América do Sul 43 veículos, sendo 17 SUVs, 9 carros de passeio, 9 vans e 8 picapes, de oito marcas — Fiat, Jeep, Peugeot, Citroën, Ram, Abart, Opel e DS — essas duas últimas fora do Brasil. Entre as novidades está a primeira picape compacta turbo e a industrialização local do Citroën C3 Aircross.
Questionado sobre como vê o cenário brasileiro, Filosa disse ver tendência de queda na taxa básica de juros (Selic) e inflação sob controle, fatores que devem favorecer a aceleração das vendas de veículos e imóveis. Considerando a tendência de melhora nos setores imobiliário e automotivo e o crescimento do agronegócio, o cenário é de crescimento do PIB. O executivo não espera que o governo brasileiro crie incentivos para a venda de carros elétricos no país, devido ao baixo nível de emissões de carbono da frota brasileira por causa do uso do etanol.
Fonte: Valor Econômico
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