Pesquisador avalia que o presidente eleito da Argentina pode acabar com a política de retenciones que prejudicou as exportações agrícolas do país
Milei também pode desestabilizar o Mercosul e colocar em risco acordo com a União Europeia
O presidente eleito da Argentina, Javier Milei, deve colocar o país de volta entre os protagonistas do agronegócio internacional, avalia Felippe Serigati, pesquisador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV Agro). Por outro lado, é possível que o governante desestabilize o Mercosul, bloco econômico do qual também fazem parte Brasil, Paraguai e Uruguai.
Segundo ele, os produtores argentinos perderam espaço no cenário global nos últimos anos devido à alta tributação de commodities exportadas — as famosas retenciones — e pelo crescimento do Brasil.
O pesquisador da FGV Agro lembra que, além de tributar, a Argentina chegou a suspender suas exportações de carne bovina por curtos períodos, na tentativa de segurar os preços da proteína no mercado interno. Na ausência da carne argentina, a brasileira ocupou o espaço.
Agora, Serigati acredita que as retenciones devem ser derrubadas, porque “essa política de intervenção só faz sentido em países que exportam apenas uma commodity, como é o caso dos Árabes com o petróleo”.
A reação positiva das entidades agrícolas da Argentina à vitória de Milei é um sinal de que o setor acredita que o novo presidente vá fazer as escolhas corretas para fortalecer o agronegócio, diz Serigati.
Como fica o Mercosul?
Uma preocupação para o Brasil é a saída da Argentina do Mercado Comum do Sul (Mercosul). Em campanha, Milei justificou que o mercado internacional deve ser livre e que os blocos econômicos estabelecem restrições para o fechamento de acordos bilaterais.
Serigati avalia que a postura do chefe de Estado pode reduzir a participação da Argentina nas negociações do Mercosul, dando mais espaço ao Brasil, e até atrapalhar o possível acordo com a União Europeia, que seria bastante positivo para o agronegócio brasileiro.
Os europeus trabalham para aprovar o acordo com o Mercosul até o dia 7 de dezembro, prazo estabelecido pelos dois grupos. A posse de Milei acontece no dia 10 de dezembro.
Brasil e Argentina
Por falar em comércio bilateral, a Argentina foi o principal fornecedor de produtos agropecuários para o Brasil no acumulado de 2023 até o mês de outubro, indica a Agrostat, plataforma do Ministério da Agricultura.
O país vizinho vendeu US$ 2,74 bilhões ao mercado brasileiro nesse período, superando facilmente a União Europeia, no segundo lugar, com US$ 2,26 bilhões em exportações para o Brasil.
Somando as importações do Uruguai (3º maior fornecedor) e do Paraguai (5º colocado), o Brasil importou US$ 4,85 bilhões em produtos agropecuários do Mercosul nos primeiros dez meses do ano.
O Brasil comprou US$ 1,7 bilhão em cereais este ano (pouco mais da metade em trigo) e US$ 847 milhões em produtos lácteos, os dois principais itens importados do Mercosul. Em terceiro lugar, os produtos de hortifrúti, com US$ 360 milhões.
Enquanto isso, os embarques brasileiros para esses países somaram US$ 3,76 bilhões até outubro. A Argentina comprou US$ 2,68 bilhões, o Uruguai, US$ 564 milhões, e o Paraguai, US$ 514 milhões, mostra a Agrostat.
O sistema do governo também acrescenta à conta das exportações brasileiras para o bloco US$ 787 milhões em produtos vendidos à Venezuela, que está suspensa do bloco desde 2017.
Dentre os principais produtos brasileiros vendidos ao trio de países estão o complexo soja (US$ 2,17 bilhões), o grupo de cereais, farinhas e preparações (US$ 460 milhões) e carnes (US$ 323 milhões).
Fonte: Bianca Anacleto e José Florentino / Globo Rural
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