O Rabobank, renomado banco especializado em agronegócios, apresenta uma análise abrangente das perspectivas para o mercado de bovinos em 2024, destacando desafios e oportunidades que moldarão o setor
O cenário para o mercado de proteína animal no próximo ano permanece envolto em volatilidade, influenciado por fatores como questões climáticas, geopolíticas, riscos sanitários e o poder de compra da população. Barreiras comerciais continuam sendo um desafio crucial para o setor de exportação, dada a baixa previsibilidade existente.
A significativa elevação no abate de fêmeas ao longo deste ano, aliada ao aumento no estoque de machos, resultou em uma oferta que superou a demanda. Essa condição provocou uma desvalorização recorde do boi gordo em setembro de 2023, alcançando 30% de queda acumulada no ano, estabelecendo um recorde para o período. A redução nos preços, tanto no atacado quanto no varejo, contribuiu para a competitividade da carne bovina em relação às carnes de frango e suíno. Antecipa-se que o consumo per capita apresente uma recuperação após atingir um dos níveis mais baixos da história no ano anterior.
Para 2024, prevê-se que o abate de fêmeas permaneça elevado na primeira metade do ano, desafiando novamente o equilíbrio entre oferta e demanda. No mercado internacional, as projeções indicam oportunidades crescentes para o Brasil, com expectativa de recuperação nos embarques após uma redução prevista para este ano.
Quanto à oferta, o volume de vacas abatidas deverá permanecer alto por mais um ano, especialmente nos primeiros seis meses. Contudo, a participação das fêmeas nos abates tende a desacelerar ligeiramente em comparação com este ano, que registrou a segunda maior participação da história em março de 2023, atingindo 48,9%, superada apenas por fevereiro de 2014, quando a participação foi de 49,1%. Isso sinaliza que as cotações do bezerro, após atingirem o menor nível do ciclo pecuário, devem começar a se recuperar, indicando uma possível inversão no ciclo à medida que os criadores retêm mais fêmeas visando o aumento na produção de bezerros.
As questões climáticas relacionadas ao El Niño também merecem atenção no primeiro trimestre do próximo ano. Previsões de volumes de chuva acima da média na região Sul, que concentra aproximadamente 10% do rebanho bovino, geram preocupações entre os pecuaristas nesse período.
Na região Centro-Oeste, que abriga cerca de 33% do rebanho bovino nacional, prevê-se instabilidade nas chuvas, embora com baixa probabilidade de quedas significativas em relação a 2023. A distribuição dessas chuvas também será crucial, pois pode impactar de maneira distinta em diferentes áreas.
Em regiões onde as precipitações são adequadas, a qualidade da pastagem possibilitará a engorda eficiente do gado, elevando o poder de negociação de alguns pecuaristas em relação aos frigoríficos. A possibilidade de manter o gado no pasto por mais tempo deve limitar as quedas nas cotações do boi gordo, algo comum nos primeiros meses do ano, proporcionando maior estabilidade. A demanda por fêmeas por parte dos frigoríficos, devido aos preços mais baixos em comparação com os machos, deve persistir em algumas regiões em 2024.
Após registrar aumento de 3,1% em 2021 e atingir o maior efetivo da série histórica, os dados de 2022 mostram um novo aumento recorde de 4,3% no rebanho bovino. Esse movimento, impulsionado pela retenção de fêmeas, tem contribuído para o aumento nos estoques de animais mais jovens.
O Rabobank projeta um novo aumento recorde de 1 a 2% na produção de carne bovina em 2024, impulsionado pelo mercado internacional, expectativas de aumento nas importações chinesas e pela retomada do consumo doméstico, que deve melhorar de 0,5 a 1,5% em relação a 2023.
Quanto às exportações, a China continua sendo o maior destino, representando cerca de 52% do volume total exportado de janeiro a setembro de 2023, seguida pelos Estados Unidos e Hong Kong. O Chile tem ganhado destaque, com um aumento expressivo de 32% no volume importado ao longo do ano. Projeções para 2024 indicam que o aumento nas importações de carne bovina pela China, cerca de 5% em relação a 2023, continuará proporcionando oportunidades para o setor de exportação. A dependência mútua entre Brasil e China deve persistir, com o Brasil liderando como maior origem, representando 42% de toda carne bovina comprada pelo país asiático no mercado internacional.
No entanto, espera-se uma maior competitividade, especialmente com a Nova Zelândia e a Austrália, que projeta um aumento de 4% na produção em 2024, mantendo-se altamente competitivas em relação aos Estados Unidos. Vale destacar que a cota em que o Brasil está inserido, de 65 mil toneladas, é atingida no final do primeiro trimestre, com a incidência de uma tarifa de 24,6%, limitando a possibilidade de incremento nos volumes embarcados.
No mercado doméstico, a expectativa de manutenção de preços menores da ração deve beneficiar os custos do confinamento na segunda metade do ano. No entanto, isso também pode aumentar a competitividade das carnes de frango e suína em relação à carne bovina. A previsão de preços médios menores do boi gordo, principalmente no primeiro semestre de 2024, em comparação com o ano anterior, exigirá mais eficiência e produtividade para reduzir os impactos nas margens de produção, que devem retornar às médias históricas.
Fonte: Rabobank
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