Divulgado pela APqC, estudo sobre o estado foi realizado pelo Instituto Geológico e pela Cetesb. Pesquisadores analisaram dados climáticos de 1961 a 1990 e os compararam com projeções para o período de 2020 a 2050, em cenários distintos de preocupação com as mudanças climáticas.
m estudo realizado por pesquisadores do Instituto Geológico e da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) aponta que parte do estado pode ficar até 6°C mais quente até 2050, além de ter ondas de calor que passam dos 150 dias.
O artigo foi divulgado pela Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC), que cobra do governo paulista medidas para conter o avanço do aquecimento no estado (leia mais abaixo).
Em nota, o governo afirma que “a Secretaria do Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística de SP tem compromisso com a sustentabilidade ambiental e resiliência climática e possui um aparato de programas voltados para o equilíbrio ambientalista do Estado. Desde 2022, a pasta possui o Plano de Ação Climática (PAC) 2050 e o Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE-SP), que mapeiam cenários climáticos globais para aplicação e gestão de riscos ao estado” (leia a íntegra mais abaixo).
Os pesquisadores analisaram dados climáticos entre 1961 e 1990 e os compararam com projeções para o período de 2020 a 2050.
O estudo foi assinado por Gustavo Armani e Nádia Lima, do Instituto de Pesquisas Ambientais, por Maria Fernanda Pelizzon Garcia, da Cetesb, e Jussara de Lima Carvalho, da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de SP, e publicado no fim de 2022.
Para chegar aos números, o estudo projetou dois cenários possíveis para os próximos anos:
Otimista
Pressupõe que os níveis de concentração de CO² (gás carbônico, um dos principais causadores do aquecimento global) fiquem estáveis após o final do século XXI;
Estima um futuro com redução das emissões a partir da implementação de programas de reflorestamento;
Diminuição das áreas de cultivos agrícolas;
Adoção de políticas climáticas rigorosas;
Menor consumo de energia proveniente de combustíveis fósseis (petróleo e carvão natural, por exemplo).
Pessimista
Pressupõe um nível mais elevado de CO² até o final do século;
Estima um futuro em que não haverá mudanças das atuais políticas públicas para redução das emissões de gases;
Considera um aumento das emissões de CO² no ano de 2100 três vezes maior do que as atuais;
Considera uma expansão de áreas agrícolas e de pastagens para suprir a demanda devido ao crescimento da população mundial, projetada em 12 bilhões em 2100;
Além de alta dependência dos combustíveis fósseis.
“Os pesquisadores utilizaram modelos climáticos e fizeram uma regionalização dessas simulações a partir da meteorologia. Por exemplo, as previsões para cenários futuros estavam com resolução espacial na casa dos 100 km a 200 km. Essas regionalizações fizeram com que os espaçamentos caíssem para 20 km”, apontou o professor de meteorologia Ricardo de Camargo, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP.
“Ou seja, você aumentou o detalhamento espacial como se você estivesse usando uma lupa mais poderosa”, explicou.
Aumento na temperatura
A pesquisa concluiu que deve haver um aquecimento da atmosfera menos intenso na faixa litorânea (devido ao controle exercido pelo oceano), e maior na região Noroeste, mais afastada do Oceano Atlântico.
Para a temperatura máxima anual, os pesquisadores identificaram um aumento em todo o estado, variando de 0,5°C a 1,5ºC no Litoral Norte e na Baixada Santista.
Os maiores valores de aquecimento partem de 3°C a 4ºC acima da temperatura normal (considerando o intervalo entre 1961 e 1990), até 6°C no limite superior do cenário mais pessimista, com maior aquecimento do estado projetado na faixa central.
Ao final do texto, veja a legenda numérica das divisões regionais do estado.
Falta de chuva
O estudo concluiu que é projetada para a maior parte do estado a redução nos totais anuais de precipitação, ou seja, da possibilidade de chuva, sendo que, no Norte e Noroeste, todos os cenários indicam tendência de redução.
“Do ponto de vista climatológico, e com as projeções consensuais na temperatura, a redução na precipitação é o pior cenário a ser enfrentado, dado o caráter essencial à vida que a água se reveste”, destacaram os pesquisadores.
“A agricultura e o abastecimento de água nas cidades podem sofrer seriamente nessas condições caso ajustes nas ações de consumo, armazenamento e recuperação de áreas produtoras de água (nascentes) não sejam adequados à nova realidade.”
Ondas de calor
No cenário pessimista, o estado inteiro pode ter redução de ondas de frio entre 1 e 3 dias, com pequenas áreas isoladas apresentando redução de até um dia.
A partir da projeção, o estudo também verificou que pode haver um aumento significativo do indicador de duração de ondas de calor ao considerar o número máximo de dias consecutivos no ano com altas temperaturas.
No cenário mais pessimista (abaixo, na figura B), o aumento é superior a 150 dias no Norte do estado. No cenário otimista (figura C), o menor aumento projetado é de 25 dias, no Sul.
Apesar de o número chamar a atenção, o professor de meteorologia Ricardo de Camargo pondera que, mesmo com indícios de que isso possa acontecer, pode não ser bem assim: “Isso porque foi considerado o período 1961-1990, quando pouquíssimas ondas de calor haviam sido registradas”.
Consequências
Helena Dutra Lutgens, presidente da APqC, destacou a importância da pesquisa, afirmou que a emergência climática é real e criticou os gestores estaduais.
“A emergência climática é real e pode trazer consequências devastadoras para o planeta e para o estado, cuja economia pode ser fortemente atingida se as projeções se confirmarem.” Segundo ela, o governo estadual não dá a atenção devida aos alertas da ciência.
“O estado tem adotado, nos últimos anos, medidas que fragilizam o sistema paulista de ciência e tecnologia, como a extinção do próprio Instituto Geológico, autor do estudo, do Instituto Florestal e do Instituto de Botânica, além da Sucen [Superintendência de Controle de Endemias], que também poderia contribuir diante deste cenário, estudando a mudança de comportamento de vírus e de vetores.”
Eventos extremos
O estudo também prevê chances de eventos climáticos extremos, com alternância entre clima seco e chuva forte, causando escorregamentos de encostas, inundações e erosões, especialmente nos litorais Sul e Norte.
“A gente está vendo o quanto esses eventos extremos têm ocorrido. A gente acha que não pode piorar, mas o pior não tem limite. A gente viu o Vale da Morte, na Califórnia, chegando a quase 50°C, o Norte da África, Trípoli, na Líbia, ou mesmo todos esses incêndios que estão tendo no Sul da Europa. É o globo inteiro, não é aqui ou acolá”, pontuou o professor Ricardo de Camargo, da USP.
“Do ponto de vista de abastecimento, a gente remete para uma questão de energia. Se não tem chuva, entra neste aspecto de geração de energia por outras formas que podem ser mais caras. Além de uma questão de efeito para os seres vivos, tem efeito no nosso bolso, porque a energia pode ficar mais cara.”
“Se a gente pensar nos cultivos também, seja na parte de cultivos agrícolas ou mesmo da parte de animais, de granjas, abatedores, isso deve ter uma implicação danada, a gente sabe o quanto manter condições ideais para essas criações de animais pode encarecer o produto”, continua o professor.
Risco de morte
Ricardo de Camargo ressaltou que as consequências podem ser tão severas a ponto de colocar em risco as pessoas mais vulneráveis, como crianças pequenas e idosos.
Ele deu o exemplo das mortes causadas pelas ondas de calor na Europa nos últimos anos. “A nossa população está envelhecendo, isso pode representar um problema de saúde pública.”
Mais de 61 mil pessoas morreram de calor na Europa durante o verão de 2022 no Hemisfério Norte, de acordo com um estudo publicado pela revista científica Nature Medicine.
Críticas ao governo de São Paulo
A partido do estudo, a Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo cobra algumas medidas do governo estadual, como:
Plano de ação contra o aquecimento em SP;
Medidas para garantir a preservação das áreas de conservação ambiental;
Recriação dos Institutos Geológico, Florestal e Botânica, bem como da Sucen (Superintendência de Controle de Endemias);
Fortalecimento do sistema paulista de pesquisa e tecnologia, com mais investimentos.
“É urgente fortalecer o sistema paulista de pesquisa e tecnologia, exigindo investimentos financeiros e em recursos humanos. Enquanto isso, o governo Tarcísio de Freitas tenta entregar áreas de conservação para a iniciativa privada, uma afronta ao futuro dos paulistas”, criticou Helena Lutgens.
A presidente da APqC se referiu à licitação de concessão de áreas públicas de preservação e pesquisa ambiental do interior do estado de São Paulo, que foi suspensa pela Justiça.
A concessão tem por objetivo liberar a exploração comercial a empresas privadas de unidades florestais por 15 anos, em Águas de Santa Bárbara, Angatuba, Piraju, além das Estações Experimentais de Itapeva e Itirapina.
Por: Gustavo Honório Fonte: G1
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