A safra 2024/25 trouxe uma série de desafios para o setor sucroenergético. Depois de uma temporada com clima favorável, que proporcionou um recorde de produção, veio a seca, associada a incêndios, o que prejudicou a produção.
O primeiro terço da safra ainda foi beneficiado por conta da presença de cana bisada – excedente da safra anterior –, como explicou o presidente da Datagro, Plínio Nastari, em evento promovido pela consultoria. Ele também aponta que a temporada 2024/25 está com 28 milhões de toneladas “adiantadas”, pois houve uma menor incidência de dias de atividade perdidos por conta de chuvas.
Assim, mesmo com os problemas enfrentados, a expectativa é de que a moagem termine em meados de novembro, sem a ocorrência de uma “morte súbita”, como alguns especialistas temiam.
Em entrevista ao NovaCana publicada em agosto, o economista do Pecege Consultoria e Projetos, Haroldo Torres, acreditava que haveria uma redução considerável nos níveis de produtividade dos canaviais a partir de agosto e setembro, o que levaria a um término abrupto da safra.
Nastari detalha que o segundo terço da safra teve bons resultados, embora já houvesse redução da produtividade agrícola desde junho. No momento, ainda de acordo com ele, há baixo rendimento como resultado da estiagem, que retardou o desenvolvimento da cana planta de 2024 e, também, o da soqueira.
Mas, segundo a Datagro, 46,5% das usinas planejam encerrar suas operações de moagem durante a segunda quinzena de novembro. A consultoria afirma que, até esta data, quase 75% das companhias teriam finalizado a safra, o que estaria dentro dos padrões do calendário sucroenergético, ainda que o encerramento seja mais cedo do que o observado em 2023/24.
“É preciso lembrar que o ano passado foi ‘anormal’, com a moagem se estendendo até o final de dezembro. Este ano, deve se encerrar a colheita na segunda quinzena de novembro, dentro da média”, explica Nastari.
Queda na produtividade
Apesar de aparentemente não correr risco de “morte súbita”, a safra 2024/25 apresenta diversas quedas em comparação com os recordes registrados em 2023/24. A Datagro prevê uma retração de 11,7% no rendimento agrícola dos canaviais na temporada corrente, totalizando 77,2 toneladas por hectare.
Até setembro, o índice chegou a 68,8 t/ha, o que representa uma queda de 17,4% em comparação com o mesmo período do ano passado. Na média, desde o início da safra, o rendimento dos canaviais foi de 82,8 t/ha, uma retração anual de 9,4%.
Conforme a Datagro, além de enfrentar as consequências da estiagem, os canaviais do Centro-Sul também estão lidando com a isoporização, o que dificulta o processo de cristalização. Como agravante, também há a síndrome de murcha do colmo, causada por um fungo.
De acordo com a consultoria, a doença pode reduzir a qualidade da cana, a produtividade, a longevidade do canavial e até mesmo a população de plantas em cana soca. Além disso, a cana fica mais fragilizada, o que pode facilitar a infecção por bactérias.
Portanto, mesmo com um aumento da capacidade de cristalização em 2,3 milhões de toneladas entre um ano e outro, a qualidade da cana não permite que todo esse açúcar seja fabricado. A Datagro aponta um mix de produção 48,6% voltado ao adoçante, uma queda de 0,2 ponto percentual em relação ao ciclo anterior.
“O rendimento está melhor por conta da seca, mas as usinas não estão conseguindo produzir o açúcar que queriam”, aponta Nastari.
Adversidades para 2025/26
Para a próxima temporada, a consultoria destaca que há um atraso no desenvolvimento fisiológico dos canaviais devido à seca. Assim, mesmo que as chuvas retornem à normalidade a partir deste mês de outubro, a Datagro acredita que ainda levará certo tempo para que a cana se desenvolva adequadamente até o nível de corte, que demora entre 12 e 13 meses.
Além disso, os incêndios afetaram cerca de 450 mil hectares, de acordo com a Datagro, dos quais quase 200 mil hectares eram de áreas já colhidas. Nestes casos, Nastari explica que houve queima de palha, o que pode resultar em falhas de brotação. “Se a cana estava com um a cinco meses de desenvolvimento, você começa do zero”, afirma e completa: “Você passa a ter um problema no desenvolvimento das áreas perdidas”.
Assim, ele afirma que muitas usinas terão que limpar os campos para favorecer a rebrota, o que pode causar problemas de correspondência entre o tempo de desenvolvimento e o estágio de maturação, que pode ser precoce, médio ou tardio. “Vai ter cana que vai precisar ser colhida independente do seu estágio adequado de corte e isso vai impactar os rendimentos agrícola e industrial”, relata o presidente da Datagro.
Ainda como consequência da seca e do fogo, as falhas na brotação e atraso na germinação também podem favorecer uma maior infestação de ervas daninhas, prejudicando ainda mais o rendimento dos canaviais.
Por: Giully Regina | Fonte: NovaCana
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