Tecnologia terá profundo impacto na atividade, mas não dispensará o “olhar do produtor”
Granjas repletas de sensores integrados a sistemas de inteligência artificial (IA) para monitorar 24 horas por dia cada ave e gerar decisões cada vez mais assertivas e eficientes.
Esse é o cenário da avicultura daqui a 10 anos descrito por Susanne Gäckler, gerente de projetos em produção animal da DLG (Sociedade Rural Alemã, em tradução livre), no pavilhão dedicado ao tema durante a Eurotier 2024.
Segundo ela, a aplicação da IA já é realidade e avança rápido, mas, dado ao grande potencial da tecnologia, ainda é difícil prever todos seus impactos na atividade.
Ainda assim, muitos aspectos são certos como o ganho de eficiência, a melhoria do bem-estar animal e, também, a otimização do uso da mão-de-obra em granjas, entre outros.
A seguir, confira a íntegra da entrevista que a especialista concedeu ao Agrofy News durante o evento:
“Como a inteligência artificial está sendo usada na avicultura?
Ela é utilizada de várias maneiras. Para te dar alguns exemplos, temos sistemas de monitoramento para o comportamento e saúde dos animais. Existem sistemas que observam o comportamento dos animais ou os próprios animais 24 horas por dia, gerando dados que são analisados para deduzir medidas de manejo se houver algum desvio do padrão.
Por exemplo, se há uma ave deitada no chão. Ela está viva, morta ou doente?
A inteligência visual pode ser treinada para identificar exatamente o que está acontecendo com o animal naquele momento. Esses sistemas não apenas monitoram o comportamento coletivo, mas também o comportamento individual dos animais.
Quanto à questão de como a inteligência artificial pode ser mais eficaz para reduzir custos ou melhorar a rentabilidade e eficiência, existem muitas possibilidades.
Ao longo da cadeia de produção, por exemplo, temos o caso da Omega, uma empresa que trabalha com sexagem de ovos. A sexagem é um tema muito discutido, especialmente na Europa, mas também em outras partes do mundo.
Há avanços em robôs de vacinação, que podem economizar tempo de trabalho e reduzir a necessidade de mão de obra intensiva.
Na Europa, especialmente na Alemanha, é difícil encontrar trabalhadores qualificados para cuidar bem dos animais, por isso, sistemas como esses são muito úteis.
E qual o impacto disso para os avicultores?
A digitalização e os processos baseados em IA são muito vantajosos para os agricultores e também para as empresas antes e depois da produção primária. No entanto, o uso de tecnologias avançadas exige um tipo diferente de preparo por parte dos trabalhadores.
Algumas pessoas têm grande afinidade com tecnologia e gostam de trabalhar com ela, enquanto outras podem ter dificuldades para entender como usá-la e quais benefícios podem obter dela.
Sobre o impacto da inteligência artificial na redução de trabalhadores necessários para cuidar de um determinado número de aves, é difícil fornecer números exatos.
Por exemplo, no passado, precisávamos de 10 trabalhadores para cuidar de 3 mil aves.
Hoje, com o uso de IA, isso pode mudar, mas ainda não temos dados concretos, pois este é um tema em progresso.
Existem muitos projetos em andamento e tecnologias, que ainda estão em desenvolvimento e não foram amplamente implementadas nas fazendas.
Assim, é cedo para dizer exatamente quanto podemos economizar em termos de mão de obra.
A adoção da IA está avançando rapidamente na Europa, com muitos exemplos de sucesso, especialmente em sistemas de monitoramento animal, que ajudam os agricultores a economizar tempo de trabalho.
Pessoas qualificadas são raras, especialmente na Europa, o que motiva a adoção dessas tecnologias.
No entanto, ainda é uma pequena parte dos agricultores que já estão usando IA. Existem sistemas como computadores de controle climático que podem ser controlados por IA, o que é uma tendência para o futuro.
Mas, no momento, ainda há desafios para integrar todos esses sistemas de forma eficiente.
Quais soluções de IA são mais promissoras?
Novas tecnologias estão surgindo, mas ainda estão em fase de desenvolvimento antes de entrarem no mercado.
Os sistemas de monitoramento animal são promissores, pois são ferramentas que qualquer agricultor pode utilizar e se beneficiar.
Eles são uma assistência valiosa, especialmente se forem fáceis de operar.
Um exemplo interessante é a detecção de aves deitadas em locais incomuns, o que pode indicar problemas, como ventilação inadequada no galpão. Ao conectar dados de diferentes sistemas, como sensores de ventilação, é possível detectar problemas precocemente e prevenir falhas.
Testes preditivos podem levar a produção avícola para mais perto da perfeição, mas sempre será necessário o olhar atento do agricultor.
A IA pode atuar como um “segundo par de olhos”, proporcionando uma supervisão adicional.
Pensando no futuro da inteligência artificial na produção, podemos imaginar um cenário com muitos sensores espalhados pela fazenda, todos interconectados em um sistema integrado.
Hoje, é quase impossível reunir todos os dados de diferentes sensores em um sistema unificado, talvez em uma década. Isso levará a produção de aves para mais perto da perfeição.”
Por: Daniel Azevedo Duarte Fonte: Agrofity
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