As ameaças dos mais radicais são constantes, mas o agronegócio não vai parar. Nunca parou por causa de pandemias e de crises econômicas e não vai parar por questões políticas.
Essa a avaliação de Marcello Brito, empresário do setor, em relação a manifestações mais radicais após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva.
“Não vivemos de política, mas de consumidor e de mercados. E o mercado, qualquer espaço que você deixa, é ocupado rapidamente por outros.”
O país vive um choque dicotômico. E isso ocorre por culpa da elite econômica, financeira e intelectual e de todos os que acharam que o melhor era um enfrentamento de uns com os outros. Faltou a construção de uma via que pudesse ir adiante, afirma o empresário.
Dentro do setor, muita gente tomou partido. Isso é democracia. Terminada a eleição, no entanto, é hora de uma relação amistosa, uniforme e de reintegração do Brasil no mundo, diz.
Um dos pontos positivos desta eleição foi o reconhecimento do resultado imediato de vários parceiros comerciais do Brasil logo após o pleito, como França e Estados Unidos. A demora do presidente Jair Bolsonaro em se manifestar, porém, é preocupante para a democracia.
“Se nós quisermos superar essa fase de fome, precisamos fazer com que as coisas aconteçam. Daqui a quatro anos teremos novas eleições e, novamente, alguém vai ficar triste, e outros, felizes.”
Brito diz que a vida do novo presidente não vai ser fácil, mas que não são necessárias soluções para amanhã cedo. O país precisa de promessas críveis, o que não vinha acontecendo há sete anos, desde os governos de Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro.
Ele cita o caso do desmatamento. As estruturas foram desmontadas, mas o governo precisa montar um programa de médio e longo prazos e ir cumprindo aos poucos. Se tudo for cumprido, os louros virão apenas no próximo governo, afirma.
O novo governo vai ter uma oposição forte e ele espera que Lula não faça o que fez Bolsonaro, que não entendeu que teve apenas 30% dos votos do eleitorado em 2018. Os demais eram fugitivos do PT.
No caso de Lula, boa parte dos votos vem de uma frente ampla, que deve ser considerada nas ações de governo. “Espero que as suas palavras no discurso sejam cumpridas.”
O cenário do agronegócio não será tão pujante como o dos últimos anos porque está se fechando o maior ciclo de preços altos de commodities no mundo. “Nunca ocorreu um ciclo de preços tão elevados e por tanto tempo.”
O Brasil estava bem posicionado na pandemia e na guerra da Rússia contra a Ucrânia, e o produtor ganhou muito dinheiro, principalmente o grande. O mesmo, no entanto, não ocorreu com o pequeno, afirma ele.
O governo vai ter um grande desafio pela frente. Não tem dinheiro e vai ter de gerar condições para atrair capital privado de fora.
Os mercados agora tendem a entrar em equilíbrio, a inflação está elevada e há uma crise econômica mundial. Além disso, ocorre uma destruição da demanda na China.
Em sete meses, as importações de óleo de palma, importante no processo industrial alimentar, recuaram 75%. E não houve reposição por outros óleos.
É um desafio gigante para o agronegócio brasileiro essa destruição de demanda, uma vez que o Brasil tem uma forte dependência dos chineses nesse setor.
Dentre as novas diretrizes, o país precisa buscar por um planejamento para o setor. Atualmente, cada um olha para o seu lado e rema sozinho.
O planejamento atual é um “boom colapso”, afirma o empresário. Quando algo vai bem, todos vão para o mesmo produto. Quando ele se esgota, há um colapso na produção, e aí se corre atrás de redução de taxas de importação ou de um país salvador.
“Nós, do setor, deveríamos ter uma autocrítica e ver que um setor do tamanho do nosso necessita de um planejamento.” Ele cita o exemplo do biodiesel. Em plena safra recorde de soja, o governo diminuiu o percentual de mistura de biodiesel ao diesel.
Fonte: Folha de S. Paulo
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