A Bahia vai sediar dois projetos que prometem transformar o Estado em um dos principais polos de produção de biocombustíveis do país. Um deles é o Brave (Brazilian Agave Development), programa de pesquisa e desenvolvimento que vai explorar o potencial do Agave como fonte de biomassa para a produção de etanol, biogás e outros produtos no semiárido baiano.
Iniciado no ano passado, por meio de uma parceria entre a Shell Brasil e a Universidade de Campinas (Unicamp), o programa ganhou, no início de abril, a adesão do Senai Cimatec da Bahia, que vai desenvolver os protótipos das máquinas para plantio e colheita do sisal (agave sisalana e tequilana) e também os processos para a conversão dessa biomassa em etanol, visando a produção industrial.
Com investimento de aproximadamente R$ 100 milhões, em um período de cinco anos, o Brave é financiado pela Shell, utilizando recursos oriundos da cláusula de pesquisa, desenvolvimento e inovação da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e da Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial). “O objetivo é criar tecnologia para um novo conceito de produção de bioenergia no país, que pode viabilizar o surgimento de uma nova cadeia industrial e desenvolver a região do sertão brasileiro”, comenta Alexandre Breda, gerente de tecnologia de baixo carbono da Shell Brasil.
A primeira frente do programa, chamada de Brave Bio, deve consumir cerca de R$ 30 milhões e contempla testes de cultivo para as variações da planta, soluções biológicas para a melhoria da produtividade, adaptabilidade e resistência do Agave, além de estudos das tecnologias de processamento para produzir etanol de primeira e segunda gerações, biogás e outros produtos.
Ela estará a cargo do Laboratório de Genômica e Bioenergia da Unicamp, que é coordenado pelo professor Gonçalo Pereira. “O Brave é uma revolução para o sertão, pois vai criar uma cadeia de valor baseada em plantas de altíssima produtividade em zona de semiárido, que se tornará ainda mais comum com as mudanças climáticas”, enfatiza ele.
Os dois outros eixos são o Brave Mec, para mecanização agrícola, e o Brave Ind, para industrialização. “A mecanização do plantio e da colheita é fundamental para a produção em escala industrial, já que o cultivo e a colheita do agave hoje são totalmente manuais”, diz André Oliveira, gerente executivo do Senai Cimatec. A expectativa, segundo ele, é ter um protótipo para a mecanização daqui a dois anos. “Em cinco anos já poderemos ter a segunda geração desse protótipo.”
Outro projeto que será ancorado em território baiano é da brasileira Unigel, maior produtora de fertilizantes nitrogenados no país, em parceria com a multinacional alemã Thyssenkrupp nucera para a construção de uma planta de hidrogênio verde em escala industrial a partir da eletrólise de água. O investimento inicial na fábrica da Unigel será de US$ 120 milhões, que serão integralmente aportados pela Thyssenkrupp para instalação dos eletrolizadores, sistemas auxiliares da planta de hidrogênio e os serviços de construção civil e montagem industrial.
Com início das operações previsto para o fim do ano, na primeira fase, a planta terá uma capacidade total de eletrólise de água de 60 MW e uma capacidade de produção de 10 mil toneladas por ano de hidrogênio verde para produzir 60 mil toneladas/ano de amônia verde. No entanto, em março, a Thyssenkrupp Nucera e a Unigel assinaram um compromisso para aumentar a capacidade da planta de hidrogênio verde de 60 MW para 240 MW de eletrólise de água.
O head de vendas da Thyssenkrupp Uhde para a América do Sul, Luiz Antonio Mello, diz que o projeto é crucial para que se possa acelerar no Brasil o desenvolvimento de uma política industrial para o hidrogênio verde que o viabilize como alternativa para a produção doméstica não só de fertilizantes, mas também de combustíveis verdes para o transporte de cargas e aviação, por exemplo. “Hoje, mais de 80% dos fertilizantes utilizados no Brasil são importados e precisamos que se criem estímulos e políticas públicas que incentivem grandes projetos e, ao mesmo tempo, tragam segurança jurídico-financeira para os investidores no longo prazo”, diz.
Mello sustenta que o custo final da energia elétrica para produção de hidrogênio verde é fator determinante para a viabilidade desses projetos. Nesse sentido, ele defende que a incidência fiscal em cima da energia elétrica destinada à produção de hidrogênio verde precisa ser executada de outra forma, uma vez que ela gera mais energia em vez de apenas consumi-la.
Fonte: Valor Econômico
Extraído do Clipping da SCA
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