Essas tecnologias poderiam se tornar realidade nas cadeias do agro, ou são uma moda passageira com aplicabilidade limitada fora do mundo da arte digital?
Como o mercado global de alimentos perecíveis cresceu para cerca de US$ 152,24 bilhões (cerca de R$ 804 bilhões) até o final de 2022 e continua a crescer a uma taxa composta anual de 9,5% ao ano, espera-se que os setores líderes dessa cadeia de suprimentos perecíveis levem esse crescimento a taxas notáveis utilizando todas as suas capacidades para empreender.
Com essa incrível expansão em todo o setor, uma série de questões estão sendo postas para as empresas de tecnologia, provedores de logística e operadores em seus respectivos campos. A indústria de perecíveis é conhecida por ser notoriamente lenta em adotar novas soluções tecnológicas e normalmente opta por implementações simples que não interferem nas operações diárias.
Por sua vez, será interessante ver quais tecnologias nascentes esse setor vem escolhendo, de olho no futuro.
Com a rastreabilidade de mercadorias, inspeções de frescor e qualidade, encaminhamento de frete, remessa e logística, que hoje estão no dia a dia dos líderes da cadeia de suprimentos, questões relativas ao setor surgem continuamente. Entre elas, como diminuiremos o desperdício de alimentos, quando quase 40% do suprimento de alimentos dos EUA é desperdiçado todos os anos? (nota redação: A estimativa global de desperdício de alimentos é da ordem de 93 milhões de toneladas por ano, 17% da produção total).
Os consumidores poderiam se tornar mais informados sobre seus produtos e rastrear seus alimentos até o ponto de origem no caso de um surto de doença transmitida por alimentos?
Como continuamos a reduzir os prazos de envio e entrega nos canais de distribuição?
Ou ainda, que medidas podemos tomar para mitigar os efeitos de uma interrupção na cadeia de suprimentos, como a obstrução do Canal de Suez em 2021?
Claramente, há muito a considerar, pois as operadoras de mercado são forçadas a escolher entre uma infinidade de provedores de tecnologia que atendem a esse setor.
Como tal, compradores, fornecedores, produtores e transportadores precisam entender qual tecnologia é adequada para ter vida longa de utilização e poder impactar positivamente suas práticas de negócios, e o que é uma moda passageira ou uma solução que pode ser incompleta e obscurecida pela moda ou hype da indústria.
A pesquisa de mercado Global Perishable Food Market estima que o mercado global de alimentos perecíveis alcance US$ 218,89 bilhões (R$ 1,2 trilhão) até o final de 2026. Esse valor não leva em consideração as taxas de crescimento nos setores de não perecíveis, bens duráveis ou CPG. A pergunta é: como as cadeias de suprimentos podem criar resiliência, por meio de novas tecnologias para dar conta dessas mudanças?
Alguns dos varejistas, fornecedores e operadores mais experientes em tecnologia já estão empregando ferramentas baseadas em IA (inteligência artificial) para facilitar um cenário mais visível de ponta a ponta em sua rede e ajudar na tomada de decisões em tempo real com mais dados.
A implementação de modelos de aprendizado de máquina de IA, juntamente com ferramentas de visualização de dados, pode ser usada para prever quando e onde ocorrem disparidades em uma cadeia de suprimentos, como otimizar rotas de remessa ou até mesmo como combinar melhor parceiros comerciais, entre outros casos de uso.
Um estudo recente da McKinsey demonstra quantas implicações impulsionadas pela IA existem em verticais como marketing, vendas, compras, planejamento, logística e distribuição e até produção.
Outra tecnologia voltada para o futuro, que muitos operadores e executivos do setor têm considerado, é a blockchain. Em termos básicos, um blockchain é um database distribuído entre os nós em uma rede orientada ponto a ponto, também conhecido como registro distribuído.
Essa rede descentralizada cria um registro ideal para guardar transações de várias fontes de maneira certificável e inalterável depois de on-chain. A maioria das pessoas provavelmente entende blockchain como a tecnologia subjacente, sobre a qual criptomoedas como Bitcoin e Ethereum são construídas.
Apenas alguns anos atrás, blockchain era uma palavra da moda na indústria da cadeia de suprimentos, já que muitos fornecedores de tecnologia usavam esse palavreado em soluções subdesenvolvidas, tentando estabelecer algum tipo de vantagem pioneira como o principal arquiteto para ferramentas blockchain. Agora que muito do hype inicial diminuiu, a indústria está começando a ver algumas das aplicações práticas do blockchain nas cadeias de suprimentos. Incumbentes de tecnologia, como IBM, Microsoft e SAP, bem como startups inovadoras, já começaram a incorporar esses recursos em novos produtos blockchain.
As transações financeiras e baseadas em estoque entre varejistas, fornecedores e distribuidores podem ser registradas na cadeia, o que tem grandes implicações para aumentar a transparência e visibilidade para todas as partes.
Os erros de execução de envio podem ser registrados em tempo real para que a análise retrospectiva possa ser realizada e as alterações operacionais necessárias possam ser feitas no futuro. Além disso, a rastreabilidade de mercadorias por meio de etiquetas RFID e scanners pode ajudar os compradores a rastrear doenças transmitidas por alimentos até os pontos de origem, até o palete exato.
Embora a adoção inicial de tecnologias blockchain em vários setores tenha sido lenta e fragmentada, a aceitação recente de soluções tecnológicas que incorporam blockchain tem sido promissora. Até 2029, a indústria de blockchain está projetada para valer US$ 163,83 bilhões (R$ 865 bilhões), com um CAGR impressionante de 56,3%.
Claramente, existem inúmeras utilizações para blockchain na cadeia de suprimentos, então a pergunta é: “Bem, e os NFTs?” Quando a maioria das pessoas ouve NFT, provavelmente pensa no desenho de um macaco que viu no Twitter ou em alguma outra obra de arte digital que os entusiastas afirmam ser investimentos.
Esses são apenas casos de uso iniciais e bem conhecidos de NFTs. A sigla NFT significa token não fungível, que é um identificador digital exclusivo que não pode ser replicado, intercambiável ou alterável, conforme registrado no blockchain. É fácil pensar em um NFT como uma espécie de recibo digital usado para confirmar autenticidade e propriedade.
Embora grande parte do uso atual de NFTs ainda seja popular no mundo da arte digital e dos ativos, muitas indústrias avançadas de tecnologia já adotaram casos de uso de NFT. A indústria de jogos usa a tecnologia NFT para facilitar a transferência e a propriedade de itens colecionáveis no jogo. A área de saúde adotou o uso do NFT para auxiliar na manutenção dos registros dos pacientes. Até mesmo o cenário de IP e patentes está sendo alterado por NFTs, indicando quais marcas registradas são atribuíveis a uma determinada entidade, todas apoiadas por um contrato inteligente ou recibo armazenado no blockchain.
Então a pergunta, naturalmente, é: “Existem aplicações NFT realistas para a cadeia de suprimentos de perecíveis?” Jason Varni, diretor sênior de soluções da iTradeNetwork, líder global no espaço de tecnologia da cadeia de suprimentos, diz que sim, mas na medida em que o NFT vêm em conjunto com as soluções de blockchain existentes. “Devido à sensibilidade do tempo das transações comerciais e logísticas na cadeia de suprimentos perecíveis e à necessidade de confiança, os contratos inteligentes habilitados para blockchain ajudam as empresas a automatizar seus fluxos de trabalho”, diz Varni. “Ser construído sobre o registro imutável de um blockchain significa um registro digital confiável desse processo e que pode ser posteriormente auditado de maneira confiável.” Ou seja, a utilização dos NFTs poderia ocorrer quando necessário nos processos.
Embora o hype público em torno dos NFTs tenha diminuído, sua adoção pode crescer em todos os setores, em conjunto com o uso do blockchain. Para se preparar para essa mudança, há várias etapas que as empresas podem seguir para aumentar a adoção do NFT.
Posto isto, a pergunta é: quão longe ainda estamos da implementação da tecnologia NFT nas cadeias de suprimentos? É difícil avaliar quanto tempo isso demandaria, porque o setor geralmente reluta em adotar soluções como essa que não foram totalmente testadas, considerando tudo o que está em jogo na otimização da cadeia de suprimentos. Os meios de subsistência e até mesmo as vidas das pessoas podem estar em risco com a revisão tecnológica nesta indústria. No entanto, das empresas que adotam tecnologias voltadas para o futuro, Jason acrescentou: “Cada vez mais, os processos de negócios estão sendo suportados por contratos inteligentes e as empresas que adotam a tecnologia podem ver o valor real, incluindo passivos reduzidos, tempo de pagamento mais rápido e rastreabilidade confiável.” Com a aceitação geral dessas soluções promissoras, o suporte NFT em maior escala pode estar mais próximo do que imaginamos.
Fonte: Forbes Agro
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