“Um dos dilemas da transição energética é que existem desafios em todos os lugares, mas as soluções superam as barreiras. É por isso que há uma curva de crescimento”, disse Vikram Singh, Diretor Sênior do Sul Global do Rocky Mountain Institute (RMI), em entrevista à EXAME.
O especialista está à frente de um estudo exclusivo da RMI sobre a expansão das energias renováveis no mundo divulgado nesta terça-feira (15) e que revela que a implementação de fontes limpas está avançando mais rápido em países em desenvolvimento do que em economias desenvolvidas.
Segundo Vikram, o cenário acontece por várias razões: estas economias estão em uma posição estratégica para crescer rapidamente no uso de renováveis e possuem recursos abundantes, tem menos obstáculos iniciais para superar, um forte incentivo econômico e uma demanda energética que está apenas começando a crescer. “Estão aproveitando a oportunidade em um momento em que as economias mais avançadas já reduziram os preços e resolveram muitos dos gargalos”, explicou.
A exemplo, estariam questões regulatórias e de escala da tecnologia. Além disso, a maioria destes países dependem da importação de petróleo, gás e carvão, o que torna a transição para fontes limpas economicamente mais vantajosa, enquanto países como EUA ou a Rússia — grandes exportadores de combustíveis fósseis — não têm o mesmo incentivo.
“Os maiores desafios enfrentados pelas economias mais avançadas incluem a construção de redes, as políticas desatualizadas que precisam ser adaptadas para a era das renováveis, a resistência à mudança por parte de poderosos de combustíveis fósseis e a inércia. E as forças que estão os superando incluem fatores econômicos (preços mais baixos), segurança energética e a corrida por empregos e crescimento sustentável”, destacou Vikram.
Por outro lado, a falta de financiamento climático dificulta a meta de triplicar as renováveis globalmente, firmada na COP28 de Dubai. O tema é peça-chave nas negociações da COP29 em Baku, no Azerbaijão, momento em que os líderes mundiais devem negociar um novo objetivo coletivo de recursos para apoiar os países mais pobres — inclusive em soluções de energia limpa.
Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), para atingir a meta até 2030, seria preciso quadruplicar os investimentos nestes mercados emergentes.
Nigar Arpadarai, Campeã de Alto Nível da ONU para a Mudança Climática na COP29, disse em nota que a COP traz uma oportunidade real de aproveitar coletivamente o crescente impulso da transição, garantindo que economias emergentes sejam totalmente apoiadas em seus esforços para desenvolver capacidade renovável — junto com atualizações de redes e armazenamento de baterias. “À medida que o mundo busca alcançar as metas e dobrar a eficiência energética, devemos garantir que a transição seja justa e equitativa, para que nenhum país fique para trás”, escreveu.
Com investimentos, estas economias emergentes na América Latina, África, sul da Ásia e sudeste da Ásia podem alcançar as nações mais ricas dentro de cinco anos, apontou o estudo. Além disso, três quartos da demanda de energia delas já se encontram em “ponto ideal” de mudança, com base no nível de importação de combustíveis fósseis, renda e recursos naturais disponíveis.
A análise também considera que existem diferenças regionais importantes: a América Latina atingiu mais de 13% de participação de solar e eólica e o Brasil se destaca como potência do G20 — batendo o segundo maior aumento anual provindo destas fontes em 2023, atrás apenas da China.
O país teria cerca de 400 vezes mais recursos naturais do que produção de combustíveis fósseis. “A oportunidade para o Brasil e para o sul global em geral é aproveitar formas de explorar esses enormes recursos solares e eólicos. E usá-los para gerar mais eletricidade barata, aumentar o consumo e consequentemente, a riqueza da população. Preços mais baixos também irão atrair mais indústrias e gerar empregos”, acrescentou Vikram.
Tendências-chave das economias emergentes
Os pesquisadores também concluíram que os países em desenvolvimento apresentaram algumas tendências em comum: 87% dos investimentos em energia estão direcionados para tecnologias limpas em 2024. Ao mesmo tempo, a geração de energia solar e eólica aumentou a uma taxa média de 23% ao ano nos últimos cinco anos, e até 2030, esses países poderão adicionar tanta capacidade renovável quanto as economias desenvolvidas.
Outro destaque é que a paridade de custos abre caminho para uma mudança mais rápida, com a redução pela metade dos custos de energia solar em 2023. Ao mesmo tempo, 70% dos recursos naturais do mundo estão nas economias em desenvolvimento, enquanto a segurança energética é uma preocupação para 80% dos países em desenvolvimento.
Por: Sofia Schuck Fonte: Exame
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