Especialistas consideram que atual presidente será mantido para um terceiro mandato e apostam em manutenção da demanda forte dos chineses por produtos agrícolas brasileiros
Por Roger Marzochi
Partido Comunista Chinês discute se concede um novo mandato para atual presidente, Xi Jinping Partido Comunista Chinês discute se concede um novo mandato para atual presidente, Xi Jinping Globo Rural
Governos de todos os países estão assistindo atenciosamente um acontecimento que tem implicações na economia mundial. O Partido Comunista da China está reunido para decidir se concede a Xi Jinping mais um mandato para comandar uma das maiores economias do planeta. Se mantido para um terceiro mandato, ele se torna o político mais poderoso do país desde Mao Tsé Tung.
Responsável por US$ 40,1 bilhões dos US$ 61 bilhões do superávit da balança comercial brasileira no ano passado, os rumos do País asiático tendem a afetar diretamente o agro brasileiro, que exporta grande parte da soja, milho, frango e carne bovina para o mercado chinês. É por isso que o produtor precisa ter um olhar atento às mudanças que poderão ocorrer.
Só no mês de setembro, as exportações do agronegócio brasileiro para a China totalizaram um valor de US$ 3,96 bilhões, alta de 13,1% em comparação com o mesmo mês em 2021. O país respondeu por 26,4% de tudo o que o agro brasileiro vendeu para o exterior no mês passado. Uma distância grande para o segundo no ranking, os Estados Unidos, com 6,1% de participação.
Os dados são do Ministério da Agrcultura (Mapa). No acumulado dos nove primeiros meses deste ano, as exportações para a China somaram US$ 41,29 bilhões, aumento de 18,2% em comparação com o mesmo período no ano passado e uma participação de 33,8% no total das vendas externas do setor no período. Os Estados Unidos, segundo maior parceiro comercial do agro brasileiro, respondeu por 6,4%
No mercado, a expectativa é de que Xi Jinping se mantenha à frente do governo chinês, avalia José Augusto de Castro, presidente executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). “Em time que está ganhando não se mexe”, afirma.
Maurício Une, economista-chefe do Rabobank Brasil, pensa de forma semelhante. Com a manutenção do presidente, o banco prevê que o crescimento do PIB da China passe de 2,8% em 2022 para 5% em 2023. No ano passado, a China cresceu 8,1%, movimento que deve ser impactado neste ano em decorrência dos seguidos lockdowns para conter a COVID-19.
E a volta do ritmo de crescimento da China pode ocorrer em um momento no qual os Estados Unidos e a Zona do Euro devem crescer bem menos, em razão do aperto monetário para controlar a inflação. O banco prevê que o PIB americano passe de alta de 1,6% neste ano para alta de 0,4 em 2023; no mesmo período, o PIB da Zona do Euro deve passar de alta de 2,9% para queda de 0,7%.
“Então, ter de fato a China passando por essa fase de liderança política nesse congresso é importante para retomada de demanda externa brasileira. Vai ser uma fonte de demanda externa muito importante para ajudar na estabilização da economia brasileira no ano que vem”, avalia Une, para quem a economia brasileira crescerá 0,6% em 2023. Neste ano, a economia brasileira deve crescer 2,7%. Para ele, apenas as commodities metálicas sofrerão solavancos, mas a perspectiva é de manutenção da demanda chinesa por produtos do agro brasileiro.
Há riscos
A professora do Insper Larissa Wachholz, sócia da Vallya Agro, que foi assessora especial do Ministério da Agricultura de 2019 a 2021, com foco na China, ressalta que os primiros dez anos de governo de Xi Jonping foram benéficos para o agronegócio barsileiro. Especialmente nos períodos de maiores preocupações sanitárias no país.
Por outro lado, a situação levou a China a se preocupar mais com a garantia da segurança alimentar de sua população e também com a segurança dos alimentos que fornece. São pontos que devem nortear um eventual próximo mandato de Jinping, avalia Larissa. O presidente será cobrado a oferecer proteína para a classe média chinesa em quantidade suficiente, importar grãos para ração animal e também mostrar que está em busca da diversificação de fornecedores.
Ela lembra que a China tem metas de autossuficiência, principalmente de arroz, milho e trigo, embora ainda precisa importar. Na soja, o país tem demonstrado que é incapaz de ser autossuficiente, o que coloca em perspectiva até quanto tempo a produção de soja brasileira terá espaço no país asiático, dentro de uma perspectiva dos chineses tentarem diversificar seus fornecedores de alimentos.
“A China não gosta de ser dependente, de ter um único fornecedor. E se soja é crítico, sentem desconforto. Nesse sentido, é importante perceber que é um risco para a gestão do Jinping e que eles tentarão mitigar de alguma forma, seja buscando outros fornecedores, principalmente de soja em grão, mas para outras commodities, como o milho”, diz Wachholz.
O presidente executivo da AEB não descarta que há esse risco, mas pontua que ele não existe pelo menos a médio prazo. As informações de que a China poderia buscar fornecedores de soja na África é, para Castro, motivo de especulações por enquanto.
“A China está buscando alternativas, mas não é de uma hora para outra. A África é alternativa, mas ninguém sabe se é viável e qual o custo de logística. Há muita interrogação na África, é um território muito desconhecido até para os técnicos do agronegócio. Mas se a China conseguir outro país para produzir soja, será um impacto para o Brasil”, avalia.
Mauricio Une, do Rabobank, pondera que o o Brasil também precisa continuar em busca de novos destinos para as vendas externas do agro e evitar surpresas no futuro. “A gente está, ainda assim, com perspectiva de uma balança comercial neste ano bastante importante. Cabe ao Brasil continuar sempre procurando parceiros para diversificar.”
FONTE: Globo Rural
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