O Brasil pode se beneficiar de um olhar de longo prazo na área de energia capaz de garantir a entrada de receitas mesmo em momentos de crise. Atingir esse objetivo depende, porém, de ter regulações e políticas previsíveis e confiáveis, de modo a atrair investimentos.
A visão é de Daniel Yergin, um dos maiores consultores de energia do mundo. Vice-presidente do conselho de administração da consultoria S&P Global, Yergin diz que, independentemente do resultado das eleições presidenciais, é positivo para o Brasil “estar aberto ao mundo”.
Yergin tem três livros publicados, sendo que “O Petróleo” ganhou o prêmio Pulitzer. O mais recente, “The New Map”, foi lançado no fim de 2020 e ainda não tem tradução para o português. Na obra, Yergin identificou que a Ucrânia poderia ser o tema que levaria a tensões entre o Ocidente e a Rússia. Hoje Yergin participa, de forma virtual, da Rio Oil and Gas, maior evento do setor na América Latina, que vai até quinta-feira.
Ele disse que o Brasil precisa dar atenção a outro tema que também destaca em “The New Map”: a maior competição de poder entre os Estados Unidos e a China. Ele afirmou que o mercado de energia ficou mais dividido e arriscado depois da invasão da Rússia à Ucrânia e das sanções contra a energia russa. “O mundo ainda vai precisar de petróleo por um tempo.” Veja a seguir os principais pontos da entrevista de Yergin, concedida por escrito, ao Valor.
Quais são as suas conclusões sobre a atual crise de energia?
Daniel Yergin: A crise global de energia começou há um ano, quando os mercados se tornaram apertados rapidamente e agora essa crise se juntou a uma crise geopolítica global. Mas é importante notar que já existia uma crise global de energia antes de a Rússia invadir a Ucrânia. Os preços hoje estão altos e o que era um mercado globalizado agora se tornou um mercado dividido, com mais riscos. A Europa, que era o maior mercado para as exportações de energia da Rússia, está determinada a fechar a porta para a energia russa. Outra mudança foi como o GNL passou a ser visto como um grande ativo estratégico.
Como esse cenário impacta a posição do Brasil no mercado?
Yergin: O Brasil é um importante produtor de petróleo, com localização que contribui para a diversificação global e pode se beneficiar da contínua demanda global por petróleo. Mas é importante lembrar que haverá competição global pela atração de investimentos. Ser competitivo e confiável trará benefícios ao Brasil nos próximos anos. O mundo ainda vai precisar de petróleo por um tempo.
O que o Brasil precisa discutir nesse momento de eleições presidenciais no setor de energia?
Yergin: Hesito em dar conselhos em meio a eleições presidenciais. Mas eu diria que garantir que o Brasil seja visto como um país previsível e confiável em termos de regulação e políticas continuará a atrair investimentos para o país e mantendo-o competitivo. Estar “aberto” ao mundo é positivo. Seja quem for o presidente, o Brasil vai se beneficiar de se estabelecer como um país que olha para o futuro e que, assim, garante receitas para atender às necessidades mesmo durante as inevitáveis crises do mercado do petróleo.
Fonte: Valor Econômico
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