Investimento sustentável é a bola da vez. Enquanto no Brasil, as soluções efetivas de financiamento verde estão apenas engatinhando, na Ásia a força econômica da China abre uma vantagem competitiva na corrida por boas práticas de ESG, descarbonização e para projetos de energia renovável.
Para a Janus Henderson, à medida que a comunidade de investidores globais continua a fazer a transição para as práticas de governança socioambiental e corporativa, a emissão de “papéis verdes” tende a acelerar nos próximos anos.
“Os investidores têm a responsabilidade de considerar todas as ferramentas de financiamento, em especial de títulos sociais”, diz em relatório ao qual o Money Times teve acesso com exclusividade.
Segundo os analistas Matt Doody e Ales Koutny, a postura chinesa envia um forte sinal sobre a liderança global em finanças verdes, abrindo espaço para mais investimentos estrangeiros em títulos rotulados com esse selo de sustentabilidade e encorajando outros mercados emergentes a seguir o exemplo, como o brasileiro.
“A China é a grande responsável por impulsionar o crescimento global da demanda de energia e já gera uma parcela significativa da eletricidade renovável do mundo”, afirmam os analistas. O governo chinês pretende alcançar 80% de seu mix total de energia a partir de fontes de combustíveis não fósseis até 2060, deixando a dependência energética atual do carvão.
Há também espaço para a China se tornar um emissor soberano líder, colocando o país asiático no caminho para abandonar o amargo posto de líder global em emissão de gases poluentes, em termos absolutos.
Como potência econômica e maior emissor de carbono da Ásia, a China quer desencadear uma revolução energética. Para tanto, a Janus Henderson estima que para atingir a meta de zero emissões até 2060, o país precisa investir 2,2 trilhões de yuans por ano (cerca de US$ 340 bilhões) até 2030 e necessita de investimentos contínuos em projetos verdes.
Como anda o ESG no Brasil?
Já o Brasil visa atingir as ambições de ser “zero líquido” e “neutro em carbono” até 2050. “Entretanto, as instituições brasileiras estão demorando para criar planos de investimentos necessários”, ponderam Jennifer James e Paul LaCoursiere, da Janus Henderson, responsáveis pelo relatório sobre descarbonização na América Latina, publicado em fevereiro deste ano.
Meses depois de falar sobre o progresso em direção à transição energética na América Latina, julho foi dedicado à Ásia. Porém, em ambas as regiões, a gestora de ativos globais ressalta a necessidade de aumento dos mecanismos de financiamento para apoiar a neutralidade nas emissões de carbono.
“Não só no Brasil, mas como em todos os outros países, a ´bankability´ dos projetos é uma questão que precisa ser abordada”, afirmam LaCoursiere e LaCoursiere. Ou seja, o conjunto de projetos para investimento permanece limitado na América Latina em relação a outras regiões do mundo, principalmente na Ásia.
“Os governos nacionais têm a responsabilidade de emitir novos títulos verdes e de sustentabilidade, criar novos benchmarks e deixar a emissão corporativa para trás”, emendam Jenifer e LaCoursiere.
Dados do Bank of America mostram que a emissão de “títulos verdes” dominou o mercado de títulos em maio deste ano, representando 59% do estoque de US$ 159 bilhões de títulos com selo ESG de mercados emergentes. Do total de 301 títulos externos corporativos, 60% vêm da Ásia, seguida de longe pela América Latina (23%).
Além disso, enquanto a China foi o maior emissor de títulos verdes em 2021, com uma proporção de títulos de US$ 66 bilhões, ou quase cinco vezes o valor emitido pelo segundo colocada na Ásia, o Brasil é o segundo maior emissor de títulos climáticos na América Latina, com emissão total de US$ 8,7 bilhões.
Ainda assim, a escala brasileira de financiamento verde é considerada pequena considerando-se o tamanho do país.
Aeris, uma brasileira com “selo verde”
No relatório de descarbonização publicado em fevereiro, a Janus Henderson destacou a brasileira Aeris. “A empresa foi citada porque demonstra a habilidade de pensar a longo prazo no crescimento de sua capacidade operacional e também porque ela é reconhecida por ter estabelecido uma sólida reputação mundial por sua excelência na produção”, afirmam os analistas responsáveis pelo relatório da América Latina.
A fabricante brasileira de pás utilizadas em geradores de energia eólica abastece a demanda de empresas globais como Vestas, Acciona e General Electric.
Para a Janus Henderson, empresas disciplinadas e inovadoras que combinem bons fundamentos corporativos e boa governança, tendem a impulsionar os fundamentos dos mercados emergentes. “É na área de inovação que encontramos os exemplos mais relevantes de estratégia e financiamento de descarbonização”, finaliza a gestora, em relatório.
Fonte: Reuters