Matriz energética brasileira já é composta por 49,1% de fontes renováveis
Como desastre anunciado que se materializa impondo suas graves consequências, a crise do clima é reflexo tardio de um progresso fundado nas fontes fósseis. A descarbonização da matriz energética global é tarefa prioritária se quisermos garantir um futuro viável à humanidade.
A boa notícia é que o desafio imposto da transição energética abre oportunidades. A matriz brasileira já é composta por 49,1% de fontes renováveis, segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Ante a uma matriz energética global de apenas 14,7% de fontes renováveis.
Temos um diferencial sustentável de partida e pesquisa e inovação que possibilitam a oferta de novas fontes de energia limpa. O desafio para o Brasil é fazer boas regulamentações, construindo assim segurança jurídica.
Recentemente aprovado no Congresso Nacional e aguardando sanção presidencial, o PL 2308/2023, estabelece o marco legal do hidrogênio de baixa emissão de carbono. Dentre as múltiplas avenidas rumo à transição energética, o hidrogênio de baixo carbono é uma das mais promissoras.
Segundo a Predence Research, o combustível já representa um mercado de US$ 26 bilhões, que pode chegar a mais de US$ 100 bilhões até 2033. E o Brasil teria capacidade de gerar um volume de energia 2 mil vezes maior do que a energia gerada por Itaipu, segundo o GIZ (sigla para Acordo de Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável).
Com o marco legal para o hidrogênio de baixo carbono, o Brasil acompanhará a tendência global no campo das políticas públicas voltadas à descarbonização da matriz energética, podendo se consolidar como fornecedor de energia verde e, principalmente, de produtos feitos com baixo carbono.
Ainda nesse cenário, está em tramitação, sem consenso, o PL 528/2020, que dispõe da descarbonização do gás natural e biocombustíveis. Entre os pontos mais debatidos está a adição do biometano ao gás natural para ajudar a descarbonizar, o que pode também encarecer ainda mais o insumo que já é, no Brasil, um dos mais caros do mundo. Isso afetará a indústria, que é o principal consumidor de gás natural no país.
O potencial da economia verde e a sua regulamentação precisam ser vistas pelo Brasil. Abrigamos em nosso território a maior floresta tropical, assim como 20% da biodiversidade do planeta. Como expoente das “soluções baseadas na natureza”, o país conta com uma miríade de bons exemplos que podem inspirar o mundo na caminhada por uma economia de baixo carbono. Temos água, vento e sol e uma importante experiência com o uso da bioenergia.
A exemplo da cana-de-açúcar e seus produtos, como etanol, biometano e etanol 2G, a biomassa das árvores cultivadas também possui um escopo amplo e diversificado de produtos energéticos florestais. Exemplos são o licor preto, coproduto obtido no processo de fabricação de celulose, e o carvão vegetal.
Este setor, inclusive, já gera quase toda sua energia de forma renovável, chegando a 87% do que consome. Trata-se de uma indústria rumo à autossuficiência energética, baseando-se em uma matriz com alta renovabilidade.
Na energia gerada a partir de árvores que são plantadas, colhidas e replantadas para fins industriais há também a possibilidade de produção de hidrogênio. A rota mais consolidada é a geração do H2 como coproduto em fábricas de celulose branqueada.
Mas outras rotas inovadoras vêm sendo exploradas, como a gaseificação da madeira e o uso de biomassa florestal como fonte direta de energia renovável para a eletrólise da água – processo que dá origem ao hidrogênio como combustível. Exemplo nesta seara é a parceria firmada entre Suzano e Eletrobras, que visa o desenvolvimento de tecnologias que viabilizem a produção de hidrogênio de baixo carbono e outros combustíveis renováveis em modais logísticos.
Se quisermos aprofundar essa rota verde, é fundamental ter boas políticas públicas que levem a descarbonização. Os projetos de lei em discussão no Congresso Nacional – ou em vias de sanção presidencial – devem refletir o potencial brasileiro e desviar de “jabutis” que não têm conexão com o assunto e muito menos com a realidade e condições do nosso país.
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Temos que ter consciência que não possuímos os mesmos recursos de outros países nos mundo para impulsionar a descarbonização, como vimos nos Estados Unidos com o Inflation Reduction Act (IRA); ou a China investindo fortemente em energia verde e na propagação do carro elétrico mundialmente; e a força da União Europeia na elaboração de legislações globais como o Green Deal.
O Brasil acumula dívidas e problemas fiscais, com uma infraestrutura deficitária e vácuo de lideranças. Mas há para o país uma janela de oportunidade se houver foco e lançarmos regulamentações sólidas para nos diferenciar e assim transformarmos nossas vantagens competitivas em vida melhor para brasileiros e brasileiras ao mesmo tempo que apoiamos a economia planetária rumo a descarbonização.
Por: Paulo Hartung e Márcia Silva de Jesus Fonte: Globo Rural
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