Organização recomenda que países do Norte Global comecem a incluir emissões da aviação internacional em suas NDCs
Responsável por 1,2% das emissões globais de carbono, a aviação internacional tem dois grandes desafios no horizonte se quiser se alinhar à meta de 1,5°C: chegar a 2050 totalmente abastecida por SAF e reduzir a demanda, conclui uma análise do Climate Action Tracker (CAT).
Antes da pandemia de covid-19, o setor emitia cerca de 600 milhões de toneladas de CO2 por ano. Após uma queda nas emissões nos anos seguintes, é esperada a recuperação dos níveis de 2019 em 2024, inclusive com a possibilidade de ultrapassar.
Sem mudanças significativas nas operações, essas emissões podem triplicar entre 2019 e 2050 e atingir de 1,3 a 1,8 bilhão de toneladas de CO2 até meados do século. Boa parte dessas emissões está associada ao uso de combustíveis derivados do petróleo.
Por isso, uma das recomendações do CAT aos governos é adotar políticas que incentivem a utilização de combustíveis sustentáveis de aviação (SAF, em inglês) em percentuais de 10% a 15% em 2030 e 100% em 2050, além de investir em pesquisa e desenvolvimento de outras opções de descarbonização, como baterias elétricas para pequenas aeronaves.
Isso deve ser combinado com medidas operacionais, como otimização de rotas, gestão do fluxo de tráfego aéreo, minimização de distâncias de voo e melhoria na eficiência energética das aeronaves. São medidas já em andamento em alguns países e, em muitos casos, por iniciativa das próprias companhias aéreas. O Brasil, por exemplo, definiu metas de descarbonização da aviação doméstica com uso de SAF.
Mas o pulo do gato estaria na redução da demanda pela aviação internacional, uma estratégia um tanto controversa, já que o setor quer continuar crescendo. “Enquanto governos e indústria se concentram nas quatro primeiras medidas, embora em graus variados, a redução da demanda recebe muito pouca atenção. No entanto, é improvável que o setor de aviação possa se mover em direção a uma trajetória compatível com 1,5°C sem reduzir a demanda”, diz o estudo.
Distante de 1,5°C
Apesar de concordar com o crescimento neutro em carbono a partir de 2020 e uma “meta aspiracional de longo prazo de emissões líquidas de carbono zero até 2050”, a aviação civil internacional está longe de uma trajetória alinhada com 1,5°C, diz o CAT.
O grupo de cientistas rastreou o avanço de políticas nacionais e acordos assumidos na Organização da Aviação Civil Internacional (Icao, em inglês) e concluiu que os governos não estão tomando as medidas adequadas para reduzir as emissões. O setor é classificado como “criticamente insuficiente”.
Um dos problemas está nas abordagens da Icao. Segundo a análise, como o Corsia se baseia na compensação das emissões de CO2 ao invés de reduções reais, e a meta de emissões líquidas zero não deixa claro o “como”, a porta ficaria aberta para “compensações controversas fora do setor”.
Outro problema com o Corsia é que os impactos climáticos não relacionados ao CO2 não são abordados. “As emissões de dióxido de carbono do setor de aviação respondem por apenas um terço do impacto climático geral da aviação. Os gases de efeito estufa indiretos – notadamente o óxido nitroso (NOx) e o impacto climático da formação de rastros e cirros de rastros – têm um efeito de aquecimento combinado maior do que o efeito de aquecimento direto do CO2”, explica.
Uma das recomendações é que os países, em particular aqueles no Norte Global, comecem a incluir emissões da aviação internacional em suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) e metas de net-zero.
Prontos para a COP29?
O CAT também atualizou suas análises sobre as políticas climáticas de seis países. Anfitrião da COP29, o Azerbaijão é classificado como “criticamente insuficiente” em sua ação climática. A NDC do país levaria o planeta a um aquecimento acima de 4°C.
Com um terço da sua economia atrelada às atividades de petróleo e gás, o Azerbaijão se comprometeu com um plano de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 40% até 2050, e em aumentar a capacidade de energia renovável para 30% até 2030.
Enquanto isso, a China pode chegar ao pico de emissões antes de 2025 e a Índia observa um rápido aumento na demanda de energia, tanto pelo crescimento do PIB (essencial para uma economia em desenvolvimento) quanto pela demanda por resfriamento em meio a ondas de calor. Mesmo caso de Singapura, onde as emissões tendem a continuar aumentando.
Há alguns meses, a Indonésia publicou o rascunho da nova NDC que pretende formalizar ainda em 2024, mas a análise do think tank aponta que apesar de um ligeiro aumento na ambição, ainda há um longo caminho para alinhar as metas com 1,5°C.
O Chile, por outro lado, é um dos poucos que está quase lá, graças à rápida taxa de expansão de energias renováveis e ao plano de eliminação gradual do carvão, que está avançando mais rápido do que o previsto.
Por: Nayara Machado Fonte: Nova Cana
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