Estratégia em investimentos sustentáveis não é nova, mas ganhou novas camadas com o chamado investimento ESG. Em 2022, um em cada oito dólares dos investidores americanos estava em um fundo que leva em conta fatores ambientais, sociais e de boa governança
É provável que ao longo do dia você vai se deparar com reportagens – além dessa – sobre os desafios, as oportunidades e a necessidade de se buscar o desenvolvimento socioeconômico aliado à conservação da biodiversidade para que continuemos tendo um planeta para chamar de casa. O dia 5 de junho de 2023 marca a 50ª vez do Dia Mundial do Meio Ambiente. Uma agenda ampla para demandas globais urgentes e que pedem outras posturas, inclusive na decisão de investimentos.
A estratégia em investimentos sustentáveis não é nova, mas ganhou novas camadas com o chamado investimento ESG ( do inglês Environmental, Social and Governance). Em 2022, por exemplo, um em cada oito dólares dos investidores americanos estava em um fundo que leva em conta fatores ambientais, sociais e de boa governança.
A crescente proeminência do tema atraiu a atenção de políticos e reguladores. A Securities and Exchange Commission (SEC), a comissão de valores mobiliários americana, propôs regulamentos no ano passado que forçariam regras mais rígidas em relação aos nomes dos fundos de sustentabilidade, teoricamente tornando mais fácil entender o que um determinado fundo possui.
“Esperamos começar a ver os gestores de ativos se tornarem mais intencionais com a marca para melhorar a compreensão do público e, por sua vez, ajudar o investidor”, diz Alyssa Stankiewicz, diretora associada de pesquisa de sustentabilidade da plataforma Morningstar.
Por aqui, o novo marco regulatório dos fundos de investimentos, que será implementado pela Resolução 175 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e entrará em vigor em 2 de outubro – depois de um pedido de adiamento por parte do mercado – pretende contribuir com a organização e supervisão dos mercados de fundos. Divulgado em dezembro de 2022, ele traz uma regra geral sobre os fundos de investimentos e cada modalidade tem um anexo específico.
No caso dos fundos sustentáveis, entre as principais obrigações, estão regras para adoção de terminologia ligada a finanças sustentáveis e equiparação de créditos de descarbonização a ativos financeiros. Também são estabelecidas guias para diferenciar fundos com integração ESG de fundos com benefícios ambientais, sociais e de governança.
Com a rotulagem e a busca por uma maior transparência de dados ESG, a expectativa é que haja um avanço na identificação desses investimentos, assim como maior eficiência em combater o greenwashing, termo usado para aquelas empresas que dizem ter práticas ESG, mas que são apenas para inglês ver.
A Resolução, que será o novo marco regulatório desse mercado e substituirá a Instrução CVM 555, se soma à autorregulação da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) sobre aspectos ESG e alcança alinhamento com outros mercados no setor financeiro brasileiro, como as regras de setembro de 2021 do Banco Central e de julho 2022 da Superintendência de Seguros Privados (Susep).
Diante desse arcabouço, a avaliação é de que o mercado nacional se alinha a outros mercados mais maduros de fundos com temática sustentável, como o europeu, e abre espaço para se consolidar no cenário que interessa aos investidores.
“O setor financeiro nacional vem passando por um fortalecimento da agenda de finanças sustentáveis. Na agenda de riscos, a incorporação de aspectos sociais, ambientais, climáticos e de governança nas decisões de investimento e financiamento ganha força, envolvendo temas recomendações de compra e venda de ativos e processo decisório ESG nos comitês de gestão de riscos, crédito e ativos sob gestão”, observa Emerson Morelli, líder de Wealth & Asset Management da EY.
Como decidir sobre um fundo de agenda sustentável
É fundamental começar conhecendo a gestora, assim como acontece para a escolha de qualquer fundo. A identificação dos investimentos requer atenção com as nomenclaturas. Atualmente, na linguagem da Anbima, os fundos possuem tese de investimento sustentável que causam impacto positivo. Na linguagem da CVM, os fundos têm tese de investimentos com benefícios ambientais, sociais e de governança (vale destacar que não está claro quais são as regras mais específicas em relação aos processos que devem reger esse padrão).
E na escolha do produto, outro ponto que precisa ficar claro é que há diferentes formas de se considerar um ativo sustentável.
Atualmente, os fundos geralmente se enquadram em três categorias principais:
1. Fundos socialmente responsáveis
As estratégias de investimento socialmente responsáveis existem desde a década de 1950 e tendem a ser mais sobre o que um fundo não possui do que o que ele possui. Esses fundos podem possuir um portfólio amplamente diversificado, mas evitarão investir em empresas com receitas significativas de setores controversos. No início, eram frequentemente álcool, jogos de azar e tabaco. Mais recentemente, os fundos começaram a excluir indústrias como armas de fogo e produção de combustíveis fósseis.
2. Fundos ESG
Os fundos com uma estrutura ESG geralmente buscam investir em empresas com alta pontuação em critérios ambientais, sociais e de governança. Isso normalmente significa que eles estão trabalhando para reduzir seu impacto ambiental, tratar bem funcionários e clientes, valorizar a diversidade corporativa e alinhar suas políticas com os interesses dos acionistas.
3. Fundos de impacto
Esses tipos de fundos buscam criar um progresso tangível em direção a metas sustentáveis. A Morningstar, por exemplo, divide esses fundos em cinco grupos: Ação Climática; Ecossistema saudável; Escassez de recursos; Necessidades básicas; Desenvolvimento Humano.
A diferença, na prática, é que enquanto um fundo ESG pode recompensar empresas com baixas pegadas de carbono, por exemplo, um fundo de impacto climático pode investir em empresas que fabricam painéis solares ou turbinas eólicas.
Diante do atual enquadramento adotado pelos mercados de capitais globais, se você estiver interessado em adicionar um investimento desses grupos ao portfólio, é importante se perguntar o que você espera com ele e, o mais importante de tudo, provavelmente, o que você NÃO espera ter com ele.
Se você quer ganhar dinheiro ou se proteger contra riscos enquanto investe de acordo com seus valores pessoais, é provável que um fundo ESG atenda melhor suas intenções. Se você não aguenta a ideia de contribuir para um determinado tipo de empresa, pode procurar um fundo socialmente responsável. Se você deseja “não causar danos” ou “fazer a diferença” com seus investimentos, pode querer um fundo de impacto.
Para quem decide investir, é sempre necessário acompanhar como está sendo feita a supervisão e monitoramento sobre esses aspectos para não haver surpresas negativas.
*Com informações da CNBC Make It
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