Entre 2019 e 2022, apesar de todas as turbulências vivenciadas (pandemia de covid-19, quebra de safra, guerra na Ucrânia) pela economia brasileira, o universo agro (aqui compreendido como agropecuária e agroindústria) registrou um desempenho positivo, e bem acima dos demais setores econômicos nacionais. Em números: nesse período, o Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP), divulgado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), acumulou alta de 29,2%. A Agroindústria, por sua vez, não chegou a registrar crescimento, porém, manteve-se estável (0%), ao contrário da Indústria Geral, que contraiu 1,4%, de acordo com os dados do Índice de Produção Agroindústrial (PIMAgro), do Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getulio Vargas (FGV Agro). O desempenho da produção gerou reflexos positivos e expressivos no mercado de trabalho associado ao universo agro.
No Brasil, em 2019, o setor agro concentrava 13,62 milhões de pessoas ocupadas. Três anos depois, em 2022, o setor alcançou 13,96 milhões de postos de trabalho, ou seja, foram criadas 344,15 mil novas ocupações, uma expansão de 2,5%, superando o nível de pessoal ocupado antes da pandemia de covid-19. Os dados são do estudo do Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getulio Vargas (FGVAgro), com base nos microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC).
De acordo com Felippe Serigati, coordenador do estudo e pesquisador do FGVAgro, a forte e estrutural expansão e desenvolvimento do universo agro brasileiro tem claros reflexos sobre o mercado de trabalho do setor. “Um dos aspectos é justamente a intensa incorporação de profissionais formais, com maior qualificação e que acessam remunerações mais elevadas. O presente estudo trata precisamente do acelerado.
Processo de formalização da população ocupada associada ao setor, e faz parte de novo um monitoramento trimestral e contínuo do FGVAgro a respeito do mercado de trabalho do universo agro. Esse monitoramento dialoga integralmente com as demais informações do IBGE (fonte original dos dados — PNAD Contínua), bem como com o Índice de Produção Agroindustrial (PIMAgro), também do FGVAgro.”
O levantamento revela ainda que o setor registrou uma forte substituição de trabalhadores informais1 por profissionais formalizados, com maiores direitos trabalhistas, maior estabilidade e melhores remunerações. Assim, enquanto foram gerados 359,62 mil postos de trabalho formais2, foram destruídas 15,47 mil vagas informais.
A expansão acumulada de 2,5% da população ocupada no universo agro, entre 2019 e 2022, decorreu do crescimento dos ocupados nos dois principais segmentos do setor: 2,8% na Agropecuária e 2,1% na Agroindústria.
1 Em informais estão: empregado no setor privado sem carteira de trabalho assinada; trabalhador doméstico sem carteira de trabalho assinada; empregado no setor público sem carteira de trabalho assinada; e empregador sem CNPJ, conta própria sem CNPJ e trabalhador familiar auxiliar.
2 Em formais estão: empregado no setor privado com carteira de trabalho assinada; trabalhador doméstico com carteira de trabalho assinada; empregado no setor público com carteira de trabalho assinada; militar e servidor estatutário; empregador com CNPJ; e conta própria com CNPJ.
Dentro da Agropecuária, o resultado foi puxado pelo crescimento da Agricultura (5,7%). Em contrapartida, a pecuária perdeu vagas, 72,72 mil (-2,4%), o que pode estar relacionado à maior implementação, na atividade, de tecnologias poupadoras de mão de obra.
Outro fato relevante é que a taxa de formalidade da Agricultura foi a maior registrada de toda a série histórica, que teve início em 2016, com 23,5%. Vale destacar que a maioria dos produtores rurais são classificados como informais, pois são categorizados como conta própria sem CNPJ, o que pode superestimar a informalidade do setor.
Nos últimos três anos, na Pecuária (2,4%), houve contração dos postos de trabalho, porém, por conta, exclusivamente, da forte redução dos informais (-3,9%). Entre os formais, assim como na agricultura, também ocorreu expansão (3,2%). Apesar da taxa de formalidade apresentar alta (de 21,4% para 22,6%), ela está abaixo do seu recorde (24,1%).
Agroindústria
Na agroindústria, foram gerados, entre 2019 e 2022, 109,94 mil postos de trabalho, passando de 5,17 milhões para 5,28 milhões de vagas (alta de 2,1%). No entanto, essa foi a geração líquida de postos de trabalho, uma vez que houve criação de 215,45 mil vagas formais (6,4%) e destruição de 105,51 mil de informais (-5,8%). Com isso, a agroindústria atingiu, em 2022, o maior contingente de pessoas ocupadas em vagas formais de toda a sua série histórica (iniciada em 2016). Além disso, verifica-se que a taxa de formalização da agroindústria aumentou desde o início da pandemia, passando de 65,1%, em 2019, para 67,8%, em 2022.
O aumento das vagas no mercado de trabalho da agroindústria foi derivado, tanto do segmento de produtos alimentícios e bebidas quanto de não-alimentícios, uma vez que registraram taxas de crescimento de, respectivamente, 1,6% e 2,4%.
Na agroindústria de produtos alimentícios e bebidas, entre 2019 e 2022, foram geradas 28,93 mil vagas. Para isso, foram eliminados 71,98 mil postos informais (-16,8%) e criadas 100,92 mil ocupações formais (7,3%) — alcançando o maior patamar de vagasformais da série histórica. Como consequência, a taxa de formalização do segmento aumentou significativamente, passando de 76,4%, em 2019, para 80,7%, em 2022.
A alta da população ocupada no segmento de produtos alimentícios e bebidas foi alcançada por uma congruência de fatores, uma vez que houve expansão nas vagas na produção de alimentos de origem animal (3,9%) (intensiva em mão de obra) e na de alimentos de origem vegetal (1,0%), porém, o setor de bebidas registrou contração (-12,3%).
Em todos os setores do segmento de produtos alimentícios e bebidas, o número de vagas informais diminuiu. Porém, no caso do setor de alimentos de origem animal e vegetal, além da queda dos informais, houve alta dos formais — isso fez com que a taxa de formalidade de ambos os setores aumentasse ao longo da pandemia (de 78,6% para 83,1%, no caso de alimentos de origem animal, e de 65,5% para 69,5%, no caso de alimentos de origem vegetal).
Na agroindústria de produtos não-alimentícios foram geradas 81,00 mil vagas (alta de 2,4%). Para isso, foram destruídos 33,52 mil postos informais (-2,4%) e criadas 114,53 mil ocupações formais (5,8%). Como resultado, a taxa de formalização da agroindústria de produtos não-alimentícios aumentou no período, passando de 58,9% para 60,8%.
Enfim, a forte expansão da produção registrada pelo universo agro entre 2019 e 2022, apesar de todas as turbulências observadas no período, gerou reflexos positivos e contundentes sobre o mercado de trabalho associado ao setor. Nesse estudo, o FGVAgro deu destaque para uma das faces dessa dinâmica: o intenso processo de formalização da força de trabalho, tanto nas atividades agropecuárias quanto na agroindústria.
Fonte: FGVAgro
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