A economia global é marcada pela inexorável transição energética, o que se replica no setor de óleo e gás. Diante de tal realidade, as empresas do segmento vivem uma fase, que passa pela diversificação do portfólio das companhias com foco na geração de energias de fonte renovável e por intensos investimentos em tecnologias de redução de emissões de gás carbônico em suas atividades.
Ao lado da transição energética, temos no cenário a instabilidade no mercado gerada pela guerra na Ucrânia, que colocou em xeque a segurança do suprimento de energia em nível global, com impacto nos preços do petróleo e do gás natural e na busca por alternativas que assegurem o abastecimento desses produtos, bem como dos seus derivados.
A atual situação repercute no custo da energia em diversos países e, indiretamente, em bens e serviços eletrointensivos e que têm no transporte um importante item na formação de preço. É praticamente um consenso a relevância da indústria de óleo e gás no suprimento de energia no médio e longo prazo, ao menos até 2050. Ainda mais agora, com o conflito armado na Ucrânia, que não dá sinais de uma resolução rápida e já coloca em risco o abastecimento de gás natural na Europa, por exemplo, onde governos começam a implementar medidas de racionamento do consumo.
Esses e outros temas importantes do setor, no Brasil e no mundo, serão debatidos por renomados CEOs, executivos, especialistas, consultores e acadêmicos na Rio Oil & Gas 2022, um dos maiores eventos de óleo e gás no mundo, que ocorre de 26 a 29 de setembro, no Rio de Janeiro.
O evento ocorre justamente em um momento em que o Brasil ganha ainda mais relevância no suprimento global, diante do seu histórico de estabilidade geopolítica, boa relação com os países vizinhos e de respeito a contratos.
Contribui também para isso o crescimento da indústria de óleo e gás brasileira. O país já é o nono maior produtor de petróleo do mundo e o oitavo maior exportador de óleo e derivados, segundo dados fechados de 2021, compilados pelo IBP. A extração de petróleo, no Brasil, deve passar da atual faixa de três milhões de barris diários para 5,2 milhões de barris/dia em 2031.
Um diferencial comparativo importante do Brasil em relação a outros produtores é que o nosso óleo é produzido com menor quantidade proporcional de carbono, abaixo da média global. Os altamente produtivos campos de Tupi e Búzios, no pré-sal da Bacia de Santos, têm intensidade média de 10 quilos de CO2 por barris de óleo equivalente, o que os coloca entre os campos com menores índices de geração de emissões no mundo. A descarbonização das atividades do setor e o emprego de novas tecnologias com essa finalidade estão entre os temas prioritários, assim como debates sobre hidrogênio verde e avanço das usinas eólicas offshore – dois temas nos quais o setor já investe e acumulou muito conhecimento ao longo de décadas, com o objetivo e contribuir com a transição para uma economia com menos emissões de gás carbônico. Além das eólicas offshore e do hidrogênio verde e outras inovações, as técnicas de captura e uso de CO2 (CCUS) serão relevantes para compensação e redução de emissões. O Brasil tem, entre outros, um exemplo de solução, com o programa de CCUS da Petrobras nos campos do pré-sal. Também estará em debate o papel do gás natural como um combustível mais limpo e essencial na transição energética, ao substituir outros mais poluentes na indústria e na geração de eletricidade. Outra discussão será sobre o melhor aproveitamento do gás das grandes reservas do pré-sal e o avanço em soluções de transporte do energético.
Diante dos números e projeções do setor, nota-se um futuro promissor para a indústria de óleo e gás no Brasil, com forte contribuição na geração de emprego, renda e arrecadação tributária. Esse horizonte, no País e no mundo, será marcado por transformações, com esse importante setor da economia investindo no uso intensivo de tecnologias, focado na descarbonização e gerando vultosos recursos para financiar a transição para uma economia com menor intensidade de CO2 em suas operações. Ao mesmo tempo, o setor deve atuar em ampla conexão com outros segmentos capazes de compensar emissões, como o de energias renováveis e de serviços florestais. A relevância socioeconômica e ambiental do setor, portanto, seguirá nos próximos anos, mas a partir de novas bases que, desde já, estão sendo implementadas.
Victor Montenegro
Fonte: Revista Exame