Prestes a completar 30 anos de existência, o Grupo Potencial tem uma visão ambiciosa para o futuro: se firmar como um dos maiores players do mercado de energia no Brasil.
Para tanto, o grupo não tem poupado esforços. Sua megausina de biodiesel em Lapa é, de longe, a maior do país com 900 mil m³ de capacidade instalada — quase 40% acima da segunda colocada — o que já garantiu ao grupo uma honrosa 16ª posição entre as empresas do ramo de energia no ranking Maiores e Melhores da revista Exame. Com faturamento próximo a R$ 10 bilhões, o grupo empresarial também ocupa a 76ª posição no ranking geral. Não é pouca coisa, e mais está por vir. Além de seguir prospectando oportunidades na área de energias renováveis, a empresa está investindo cerca de R$ 100 milhões para instalar um terminal em Betim (MG) com o objetivo de aumentar sua presença num dos principais hubs nacionais de combustíveis e ajudar a suprir a demanda por logística nessa área.
O diretor do Grupo Potencial e CEO Potencial Petróleo, Carlos Eduardo Hammershmidt, não nega que seja um grande desafio. Mas garante que a empresa que comanda está pronta. “Nós estamos nos preparando para vencer qualquer desafio dos novos tempos”, disse o executivo durante a entrevista que concedeu à BiodieselBR.com.
BiodieselBR.com — Da última vez em que nos falamos, um dos pontos mais importantes foi sobre a ambição do Grupo Potencial de se posicionar como uma empresa de energia. Essa continua sendo a meta?
Carlos Eduardo Hammershmidt — A transição energética não é uma questão somente do Grupo Potencial; é uma questão mundial. Quem trabalha com combustíveis originados de fontes fósseis, se não olhar com carinho para as energias renováveis, pode não participar mais do mercado no futuro. Se posicionar com uma empresa de energia é, portanto, uma questão de garantir o futuro do grupo.
BiodieselBR.com — E como essa transição está fluindo?
Carlos Eduardo Hammershmidt — Muito bem. Os dados do ranking Maiores e Melhores da Exame saíram há algumas semanas e o Grupo Potencial ficou entre as 20 maiores empresas do Brasil no ramo de energia.
BiodieselBR.com — Que investimentos vocês têm no horizonte para aumentar sua presença no mercado de biocombustíveis?
Carlos Eduardo Hammershmidt — Temos a questão da extratora [de óleo] que está no nosso portifólio de investimentos. Vamos colocar uma planta de extração de óleo de soja que é algo que está ligado ao nosso negócio de biodiesel. Já faz parte de nosso business. E, claro, também estamos de olho em oportunidades em outras fontes renováveis [além do biodiesel] que ainda podem vir.
BiodieselBR.com — Como está o andamento desse projeto de extração de óleo de soja?
Carlos Eduardo Hammershmidt — Nós postergamos um pouco o projeto, até por uma questão de mercado. Estamos passando por uma retração na demanda de biodiesel e, consequentemente, de óleo no Brasil. Nós tínhamos uma previsão de aumento da mistura obrigatória para 14% este ano e isso não aconteceu. O resultado é uma sobreoferta de óleo no mercado interno. É o que vem fazendo o Brasil bater recordes de exportação de óleo de soja. Se não houver um olhar mais carinhoso dos nossos governantes para o biocombustível, muitos projetos — como o nosso — vão demorar mais do deveriam para sair do papel. Nesse momento as extratoras de óleo soja vem passando por resultados negativos e algumas tem até pensado em parar suas operações.
BiodieselBR.com — Esse é um projeto que, embora tenha uma sinergia óbvia com a produção de biodiesel, se distancia um tanto da origem da Potencial no setor de distribuição. Como vocês estão lidando com isso?
Carlos Eduardo Hammershmidt — É uma situação parecida com quando nós decidimos entrar no biodiesel em 2011. Esse era um negócio que não fazia parte do nosso portfólio. Por não sermos uma empresa do ramo industrial, muita gente dizia que teríamos muita dificuldade. Mas a gente se adaptou, tanto que hoje temos a maior usina de biodiesel das Américas. Então, eu acho que tudo é uma questão de adaptação e de busca do conhecimento certo. Não tenho dúvidas de que temos capacidade de entrar no mercado [de processamento de soja]. Será um desafio, mas nada impossível. Entrar em mercados novos é algo que empresas que queiram participar do processo de transição energética terão que fazer. Ou fazem, ou vão parar no meio do caminho.
BiodieselBR.com — Além da aposta no setor de energia, onde mais a Potencial vem prospectando oportunidades?
Carlos Eduardo Hammershmidt — A infraestrutura de logística no Brasil é deficiente, então também estamos apostando em terminais de distribuição. Nesse momento estamos investindo em torno de R$ 100 milhões num terminal em Betim que terá 26 milhões de litros em capacidade estática, podendo movimentar até dez vezes esse volume. É uma questão de dar mais flexibilidade e dinâmica para o mercado no dia a dia. Ele vai ser interligado com a Refinaria Gabriel Passos da Petrobras e servir como um polo primário para atender às distribuidoras. Empresas que queiram armazenar produtos na região de Betim, vão ter mais essa opção.
BiodieselBR.com — E por que em Betim?
Carlos Eduardo Hammershmidt — Atuamos lá há mais de 10 anos e temos uma carteira de clientes bem estabilizada. Então, não é um mercado completamente novo para nós pelo lado das vendas e nem em relação a terminais, até porque já temos terminais próprios em todos os estados da Região Sul. Betim possui bases, mas nenhuma que eu conheça com toda a estrutura e tecnologia que queremos implantar. É uma localidade deficiente em termos de opções de infraestrutura logística. Já tem cinco anos que a Potencial vem estudando a instalação deste terminal. Minas Gerais é o estado que mais tem municípios no Brasil. Isso já cria muitas oportunidades logísticas. Além disso, Minas é estratégico para o escoamento de biocombustíveis produzidos no interior do país sentido porto e para a volta dos combustíveis derivados do petróleo. Tudo isso faz de Betim um local muito bom.
BiodieselBR.com — Quais foram os desafios desse projeto?
Carlos Eduardo Hammershmidt — Betim tinha uma dificuldade muito grande de conseguir um terreno adequado porque tem uma geografia muito irregular. Levamos muito tempo para encontrar o terreno certo para viabilizar esse investimento.
BiodieselBR.com — Esse é um investimento que está mais ligado ao braço de distribuição do Grupo, não?
Carlos Eduardo Hammershmidt — Não necessariamente. Podemos usar essa infraestrutura para vender nosso biodiesel em Minas Gerais. Isso é algo que pode gerar oportunidades tanto para a Potencial Biodiesel quanto para a distribuidora. Vai depender o momento do mercado. Queremos ficar cada vez mais competitivos e a logística é uma questão crucial nos mercados onde atuamos. Se não tiver uma logística boa, você sofre bastante.
BiodieselBR.com — O mercado de biodiesel tem sido muito adverso?
Carlos Eduardo Hammershmidt — Estamos com dificuldade, como todas as empresas também estão. Hoje temos usinas com 30%, 40%, 50% de ociosidade. A Potencial não é milagrosa, estamos enfrentando dificuldades como todo mundo. Já tem um ano que a Frente Parlamentar do Biodiesel, junto com as entidades do setor, vem tentando mostrar aos nossos agentes reguladores e ao governo que o retorno do cronograma do Conselho Nacional de Política Energética é positivo para o mercado como um todo. Por mercado, quero dizer o agronegócio brasileiro. A indústria nacional de biodiesel vem sofrendo com essa falta de previsibilidade governamental e levando a uma retração dos investimentos. Esse é o grande problema temos enfrentado hoje.
BiodieselBR.com — Foi o que levou vocês a pausarem o projeto da esmagadora, não?
Carlos Eduardo Hammershmidt — Sim. Essa falta de previsibilidade teve como reflexo o atraso em nossa extratora de óleo de soja. Se nós tivéssemos B14 e indo para a B15, eu acredito que a extratora estaria muito mais avançada. Mas nós não abandonamos o projeto, estamos fazendo devagar e esperando o momento certo para dar uma acelerada porque, cada vez mais, o mercado de biodiesel exige que você tenha outros produtos na carteira que sirvam como uma segunda opção de vendas. Da mesma forma que o etanol tem o açúcar. No momento, a opção tem sido o óleo de soja; se a empresa não vende biodiesel, ela pode vender o óleo. Nesse momento, contudo, os dois estão dando resultados negativos. A situação está muito difícil o que coloca milhares de empregos em risco. Infelizmente a agricultura familiar já deve estar sentindo esse reflexo no bolso, só a nossa empresa beneficiava mais de 30 mil famílias.
BiodieselBR.com — E qual a perspectiva para 2023? Vocês esperam um ano com menos sustos?
Carlos Eduardo Hammershmidt — Recentemente, nós tivemos a informação de que Ministério de Minas e Energia queria rever parte das regras do RenovaBio. Como houve uma pressão muito grande das entidades vinculadas ao agronegócio, essa questão foi adiada e evitamos uma tragédia em todo setor. O que a gente precisa é de um consenso dos nossos decisores, não podemos retroceder em decisões já tomadas como o biodiesel. Somente em nosso setor foram investidos mais de R$ 13 bilhões para a demanda projetada para os anos seguintes. O Brasil já tem capacidade de fazer até 13 milhões de metros cúbicos de biodiesel o que daria para atender até um B20. Com o B15 nós teríamos mais industrialização [da soja] no mercado interno e, também, reduziríamos a importação de diesel. Todo mês nós vemos chegar cargas e cargas de diesel importado, mesmo tendo capacidade de atender boa parte do consumo com produto nacional. Estamos gerando emprego, renda e tributos para outros países. É o que me deixa mais triste.
BiodieselBR.com — E qual tem sido o impacto do novo sistema de comercialização pós-leilões? Ficou mais fácil agora que existe a possibilidade de ajustar os preços numa periodicidade menor?
Carlos Eduardo Hammershmidt — Eu não acho que tenha ficado mais fácil navegar o mercado. A oferta de soja é muito concentrada entre março e abril que é quando entra a safra. Se acontece uma queda grande do óleo em Chicago, vai ter muita gente que já está ´comprada´; que está com os preços travados e ´hedgeados´. Por isso, eu acho que ficou muito mais difícil de acertar os preços sem os leilões. Inclusive para as distribuidoras. Hoje eu vejo muitas distribuidoras dizendo que eram mais felizes com os leilões e que o mercado ficou mais difícil.
BiodieselBR.com — Por quê?
Carlos Eduardo Hammershmidt — Porque os grandes players da distribuição dominam aproximadamente 70% do mercado nacional. São empresas que têm muitos anos de mercado. Porém não podemos esquecer que o mercado brasileiro possui aproximadamente 100 distribuidores de combustíveis, mais de 300 TRRs e mais de 40 mil postos revendedores, sendo altamente competitivo. No leilão, você tinha uma isonomia em logística, preço e controle eficaz de mistura. As distribuidoras menores tinham mais facilidade de comprar nas usinas que apresentavam uma logística mais favorável.
BiodieselBR.com — A venda das refinarias também vem mudando a logística, não?
Carlos Eduardo Hammershmidt — Sim. A privatização da RLAM está sendo uma escola. Depois que a refinaria da Bahia foi privatizada, por exemplo, tivemos uma mudança radical na logística por lá. Muitas vezes, o produto mais barato está em Minas e as distribuidoras têm que mandar um caminhão até lá. Isso muda muito a logística também para o biodiesel, porque você precisa ter um frete de retorno para o caminhão não ficar circulando vazio. Quando o distribuidor decide onde vai comprar o diesel, ele acaba optando por comprar o biodiesel numa localidade diferente porque o caminhão precisa voltar carregado. Isso está mudando muito a dinâmica da logística no Brasil.
BiodieselBR.com — Todas essas mudanças na logística também foi um fator para o investimento em Betim?
Carlos Eduardo Hammershmidt — A nossa proposta é, dar oportunidade para que o cliente compre nosso biodiesel em diferentes regiões do Brasil. Oferecer opções de logística para o cliente é fundamental porque o custo do frete rodoviário acabou ficando caro.
BiodieselBR.com — Ano que vem teremos a liberação da importação de biodiesel. A competição externa preocupa a Potencial?
Carlos Eduardo Hammershmidt — Eu não acredito que o biodiesel importado será competitivo em relação ao produto brasileiro. Só se eles tiverem algum incentivo fiscal. E, mesmo assim, acho que o produtor brasileiro vai conseguir bater de frente, até porque temos muita matéria-prima disponível. A questão da qualidade também nos favorece. O biodiesel brasileiro tem uma das especificações mais rígidas do mundo, o biodiesel importado vai ficar de 40 a 45 dias dentro de um navio o que gera o risco de chegar fora de especificação. E se chegar com um produto de má qualidade nos portos, como o importador vai resolver esse problema? No mercado interno isso se resolve facilmente.
BiodieselBR.com — Na Conferência BiodieselBR 2021, você demonstrou grande preocupação de que o fim dos leilões pudesse trazer para o mercado de biodiesel práticas pouco ortodoxas. Quase um ano depois, como você sente a mudança?
Carlos Eduardo Hammershmidt — Eu não posso é dizer o que está acontecendo no mercado como um todo, mas sei que hoje existem dificuldades de venda em algumas regiões do Brasil como acontece com o etanol. Temos percebido que muitas esmagadoras que eram bastante ativas na época dos leilões, hoje estão optando por exportar o óleo de soja. Elas deixaram de produzir o biodiesel porque não estão conseguindo ter um preço competitivo [no biodiesel].
Fonte: BiodieselBR
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