‘Misturador de insumos’ tem bateria independente e pode ser acoplado em qualquer modelo de drone; objetivo é aproveitar melhor os insumos, evitando o desperdício dos produtos químicos e de água
A invenção do produtor rural e empresário Paulo Ude, entraria, facilmente, para os ‘Anais das Ideias Simples e Revolucionárias’, caso existisse mesmo essa publicação. Ele criou um drone com um misturador de calda acoplado que homogeneiza o conteúdo a ser aplicado nas lavouras, impedindo que esse seja mal aproveitado.
Com fama de ‘professor Pardal’ entre os amigos, Paulo nasceu em Dores do Indaiá, no Centro Oeste de Minas e, desde muito jovem, gostava de inventar coisas e de empreender. Filho de um gerente de cozinha que, mais tarde, se tornou um pequeno produtor rural e de uma dona de casa, aprendeu cedo a se virar. “Quando tinha 10 anos, fazia sacolé e pulava o muro de uma escola perto da minha casa pra vender para as crianças”, contou. Aos 18, mudou-se para os Estados Unidos. Trabalhou como instalador de pisos, entre outras profissões. “Quando voltei tinha dinheiro suficiente para pagar todas as dívidas do meu pai e ainda comprar pra ele uma fazenda cheia de gado e uma Strada zero”, orgulha-se.
Certa vez, Paulo participou de um programa para aprendizes de empreendedores do Sebrae, chamado Empretec, por meio do qual o participante é desafiado a criar uma empresa, elaborar um plano de negócios e de vendas. “Como estávamos na Semana Santa, tive a ideia de criar uma fábrica de velas. Mas e a inovação? Onde entraria? Pensei, pensei, pensei…e tive a ideia de acoplar dois palitos de fósforo e um papel de superfície rugosa para que o fósforo pudesse ser riscado e a vela, acesa. E foi assim, com essa ideia ridícula de tão simples que eu ganhei o prêmio”, rememora.
Ideia do misturador surgiu de experiência empírica
A ideia de criar o drone com misturador veio da sua própria experiência como produtor rural. Paulo é sojicultor e percebeu que os produtos químicos colocados no equipamento não se misturavam bem, gerando desperdício, diminuindo a eficiência desses e, às vezes, até obrigando a uma reaplicação dos produtos. Para o primeiro protótipo. ele usou um espeto de churrasco como hélice, instalando-o rudimentarmente no tanque do drone. “Mostrei para meu vizinho e engenheiro de automação Johnathan Tanaka e ele reconheceu que a ideia era boa, mas precisava ser aprimorada”.
Tanaka contou à Itatiaia que a empreitada foi trabalhosa. Juntos, eles desenvolveram algumas peças do ‘nada’, moldando toda a ferreteria e a parte aerodinâmica. Contaram ainda com a importante consultoria do pesquisador Adriano Vilames da Silva, do Centro de Pesquisas em Aplicações de Agroquímicos da Basf América Latina, com sede em São Paulo. Foi ele quem orientou que a hélice deveria ter um formato de ‘U’ para facilitar a homogeneização dos produtos sólidos com os líquidos, entre outras importantes considerações.
Assim foi feito. Todo esse processo de materialização do misturador levou cerca de seis meses e envolveu muitas modificações, ajustes, melhorias e dezenas de testes em campo. O lançamento oficial do produto, finalmente, aconteceu em junho na feira Agro Efetiva, em Botucatu (SP) e foi muito bem recebido.
O engenheiro Tanaka contou que bastaram algumas explanações e demonstrações práticas para ‘choverem’ pedidos de várias partes do Brasil e de países como Uruguai, Bolívia, Paraguai, Guatemala e Colômbia. Um vídeo sobre o lançamento publicado pelo influencer do agro, Thamylon Dias, teve mais de 40 mil vews num único dia.
Economia de água é outra vantagem em relação ao sistema convencional de aplicação de insumos
Em tempos em que sustentabilidade vale ouro, outra vantagem do misturador é que proporciona grande economia de água. “Para se ter uma ideia, para pulverizar dez hectares, o drone utiliza dez litros de água. Enquanto que, utilizando-se um equipamento convencional (por terra) para pulverizar os mesmos dez hectares, seriam gastos 150 litros de água.
“A água é o condutor dos insumos agrícolas até à planta, facilitando a homogeneização dos produtos. Para aplicar os insumos ou defensivos, precisamos dela”, explicou.
Drones provocaram verdadeira revolução no campo e vieram para ficar
Na avaliação de Paulo, o uso dos drones na agricultura é um caminho sem volta por facilitar enormemente o trabalho do homem do campo, com funções como: análise da plantação, aplicação de insumos, tomadas de decisões e segurança da propriedade.
Até o final de 2026, o Brasil deverá ter 90 mil drones em uso, segundo estimativa da Associação Nacional do Sindicatos das empresas de aviação agrícola (Sindag), lembrando que o país usa apenas 8% de seu território para a agricultura. Ou seja, é um campo com um potencial enorme a ser explorado.
Por: Maria Teresa Leal
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