A Petrobras destacou a importância da pesquisa, desenvolvimento em inovação (PD&I) para o futuro da empresa ao divulgar, em novembro, um plano de negócios que definiu energia eólica em alto-mar (offshore), hidrogênio, captura de carbono e biorefino como os pilares de atuação em uma economia de baixo carbono até 2027. Todos esses segmentos contam com estudos em curso para avaliar a viabilidade dos investimentos. O próximo passo será a criação, pela estatal, de linhas de pesquisa específicas envolvendo projetos nessas quatro áreas. No centro dessa estratégia, está o Centro de Pesquisas Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes), ligado à Petrobras, e que vai receber R$ 3,6 bilhões em investimentos para pesquisa somente em 2023.
Situado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na Ilha do Fundão, zona norte do Rio, o único centro de pesquisa exclusivo da estatal completa 50 anos neste ano e terá aumento de 16% no orçamento para projetos em relação a 2022 e expansão de 20% sobre 2021. O Cenpes tem mais de mil pesquisadores, incluindo 180 doutores e 300 mestres.
Até então, os estudos de projetos que nas quatro áreas que a Petrobras escolheu para a transição energética eram considerados iniciativas tecnológicas e dividiam atenção com outras atividades, em estado menos avançado de desenvolvimento, como energia de ondas, geotérmica (obtida do calor proveniente do interior da Terra), nuclear e baterias. Agora, a carteira prioritária passa a ter linhas de pesquisa específicas. “Com isso, canalizamos muito mais recursos para aprofundar nessas áreas, sem paralisar o que estava sendo feito em outras”, diz a gerente-executiva do Cenpes, Maiza Goulart.
Na visão dela, os segmentos escolhidos pela Petrobras têm alto grau de maturidade tecnológica, em especial a energia eólica offshore, mas ainda há gargalos. No caso do hidrogênio, é preciso avançar em questões como o transporte e armazenamento, além de baratear a tecnologia de eletrólise, a partir da qual o hidrogênio é produzido.
“A grande contribuição da tecnologia nessas áreas é reduzir os custos e torná-las mais eficientes. Mas, quando se fala de negócios, isso não depende só da tecnologia, como também de avançar com legislação no Brasil e em modelos de parcerias de negócios. Outros aspectos precisam avançar na mesma velocidade que a tecnologia tem avançado para que se tenha a curto prazo um grande projeto anunciado pela Petrobras”, diz.
Apesar de os negócios de baixo carbono terem ampliado a relevância no portfólio do Cenpes, a maior parte dos investimentos previstos para este ano vai para a área de exploração e produção de petróleo e gás. O segmento é o carro-chefe da estatal graças ao desenvolvimento de tecnologias que fizeram com que ela se tornasse uma das líderes em produção em águas profundas com baixo custo e menor emissão de carbono.
Em 2021, a Petrobras ganhou o prêmio Offshore Technology Conference (OTC), o “Oscar” da indústria do petróleo, pelo conjunto de inovações desenvolvidas para viabilizar a produção de Búzios, no pré-sal da Bacia de Santos. “Temos cada vez mais aumentado investimentos em renováveis e descarbonização, que são portfólios com desenvolvimento de tecnologias principalmente em fase de estudos de engenharia. Mas essas áreas têm orçamento menor, em comparação com portfólios que têm produção de equipamentos [de exploração e produção]”, diz a gerente.
As pesquisas em exploração e produção abrangem novos equipamentos, digitalização, aprendizado de máquina, inteligência artificial e outras tecnologias para reduzir os impactos e custos das atividades de petróleo. Um exemplo é a tecnologia Hisep, patenteada pela Petrobras, que visa separar e reinjetar no fundo do mar, o gás com elevado teor de gás carbônico produzido junto com o óleo.
Uma das premissas da estatal hoje é que o mundo vai continuar a precisar de petróleo enquanto ocorre a transição para novas fontes. “Na descarbonização, nossas pesquisas têm sempre algum dos pontos do tripé: eficiência, troca de combustíveis ou captura de carbono para zerar as emissões. Ainda há um caminhão de oportunidades na indústria para aumentar a eficiência, que é mais barato”, diz.
Segundo Goulart, depois da exploração e produção, os segmentos que mais recebem investimento em pesquisa dentro do Cenpes são a logística e o refino. Há uma interseção, inclusive, com uma das atividades escolhidas pela Petrobras como foco para a transição energética, o biorefino, que é a produção de combustíveis menos poluentes. A pesquisa tem sido fundamental para o avanço desse setor. Em 2022, a Petrobras concluiu testes em frota de ônibus do diesel com conteúdo renovável, o “diesel R”, o primeiro para esse tipo de combustível realizado no Brasil com condições reais de uso.
Outros estudos incluem o bioquerosene de aviação e bunker, combustível de navegação, com conteúdo renovável. Em diferentes estágios de maturação, a Petrobras tem linhas de pesquisa para teste do uso de diferentes matérias-primas como base para biocombustíveis, caso dos óleos vegetais. “Começamos a olhar também para a segunda geração, que são as matérias-primas que aproveitam resíduos, como resíduos florestais, lixo, pirólise de plástico, um pouco da economia circular. Somos agnósticos, olhamos todo o espectro de matérias-primas”, diz Goulart.
Fonte: Valor Econômico
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