A Arábia Saudita tentará aumentar os preços do petróleo em uma reunião decisiva hoje em Viena, com a intenção de irritar os EUA e ajudar a Rússia.
Sauditas, russos e outros produtores deverão anunciar grandes cortes na produção na reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep+), segundo fontes a par das discussões.
O tamanho da redução na oferta ainda será acertado, mas a Arábia Saudita e a Rússia estão pressionando por cortes de 1 milhão a 2 milhões de barris por dia ou mais, embora isso possa ocorrer ao longo de vários meses. A decisão provavelmente suscitará contramedidas dos EUA, segundo analistas.
“Esta não é a Arábia Saudita de antigamente e os EUA talvez tenham sido um pouco lentos ou relutantes em reconhecer isso nas questões de energia”, disse Raad Alkadiri, analista do Eurasia Group. “Se eles querem um preço maior do petróleo, eles indicaram claramente que vão buscar isso, mesmo que isso resulte em uma resposta direta dos EUA.”
A reunião de hoje dos membros da Opep e outros produtores foi convocada à pressas, com ministros correndo para Viena, na Áustria, para o que analistas classificaram como a reunião mais importante em anos.
Acredita-se que a principal autoridade de energia da Rússia, Alexander Novak, deverá comparecer e apoiar um corte substancial na produção, com o petróleo russo já sendo negociado com um grande desconto, após as sanções afastarem os compradores europeus.
Uma fonte a par das discussões disse que os cortes seriam feitos na produção existente, e não nos níveis das cotas que alguns países membros da Opep+ não conseguem cumprir após anos de má gestão e baixos investimentos.
Tal corte deverá ter um grande impacto sobre os preços, que caíram no terceiro trimestre, dando um impulso às chances eleitorais dos democratas nas eleições legislativas de novembro.
Os preços continuam altos pelos padrões históricos e, com a possibilidade de um grande corte na produção ficando clara, o petróleo do tipo Brent, a referência internacional, subiu acima de US$ 90 o barril ontem – um aumento de 7% desde o fim de semana.
As tensões entre a Arábia Saudita, maior exportador mundial de petróleo, e os EUA, maior consumidor, surgem no momento em que analistas alertam para uma guerra global por energia cada vez maior, provocada pela invasão da Ucrânia pela Rússia.
Sauditas e russos intensificaram seus esforços para reduzir a produção para conter a queda nos preços do petróleo, que chegaram a alcançar US$ 120 do barril no começo de junho – com grande impacto na receita do Estado russo.
Os EUA querem reduzir as receitas da Rússia com petróleo para sufocar o financiamento às suas forças armadas, o que torna a cooperação da Arábia Saudita com Moscou uma fonte de tensão entre o governo saudita e a Casa Branca.
Helima Croft, ex-analista da CIA e chefe de análises da RBC Capital Markets, disse que a Rússia deverá voltar suas atenções para perturbar os mercados de petróleo, depois de já ter cortado a maior parte de seu fornecimento de gás para a Europa. “Acreditamos que atos mais assimétricos e disruptivos vêm por aí, à medida que nos aproximamos do inverno”, disse ela.
O risco de novas tensões entre os EUA e a Arábia Saudita surge dois meses e meio após Biden ter viajado a Jidá para se encontrar com o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, e afirmado que o país adotaria “medidas adicionais” para aumentar a oferta de petróleo.
Os esforços da Casa Branca para reduzir os preços da gasolina nos EUA incluíram meses de diplomacia com os produtores de petróleo do Golfo Pérsico, pedidos para que os produtores americanos de xisto aumentem a oferta e a liberação de petróleo dos estoques emergenciais do governo.
Na semana passada, Brett McGurk e Amos Hochstein, duas autoridades de alto escalão do governo Biden, visitaram a Arábia Saudita na mais recente de uma série de reuniões bilaterais.
Em agosto, a secretária de Energia dos EUA, Jennifer Granholm, orientou as refinarias a formar estoques em vez de exportar mais combustível. Ela alertou que o governo dos EUA estava preparado para considerar outras exigências ou medidas emergenciais.
A secretária de Imprensa de Biden, Karine Jean-Pierre, disse ontem que a Casa Branca não comentaria antecipadamente nenhuma movimentação da Opep+. Ela acrescentou que os EUA continuarão se concentrando em “dar todos os passos para que os mercados sejam suficientemente abastecidos para atender as demandas de uma economia mundial em crescimento”. Jean-Pierre disse que os EUA não consideram novas liberações das reservas estratégicas.
Mas os EUA e outros países do G-7 (grupo das sete maiores economias ricas) planejam impor um teto às vendas de petróleo da Rússia ainda neste ano, uma medida que poderá levar a uma oferta menor do país, junto com um aperto das sanções europeias contra Moscou em dezembro.
“Os produtores da Opep+ temem que esse limite aos preços para a Rússia possa depois se tornar um precedente para um uso mais amplo contra outros produtores”, disse Bob McNally, diretor da Rapidan Energy Group e ex-assessor do governo de George W Bush.
Fonte: Valor Econômico
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