Companhia francesa teve mais de 30 mil hectares queimados, tanto de lavouras próprias como de fornecedores
A companhia francesa Tereos já perdeu ao menos R$ 100 milhões com os incêndios nos canaviais que abastecem suas usinas no Brasil neste ano, afirmou Pierre Santoul, presidente da companhia francesa no Brasil, em entrevista a jornalistas. O valor refere-se a investimentos adicionais que serão necessários nesta safra (2024/25) e na próxima.
A companhia teve mais de 30 mil hectares queimados, tanto de lavouras próprias como de fornecedores, sendo que metade foi de lavouras já colhidas e metade com cana ainda a colher. Além disso, 2 mil hectares de vegetação nativa em áreas de preservação permanente (APP) e reserva legal foram queimadas.
O volume de cana afetado foi de 1,7 milhão de toneladas, segundo ele. Além disso, os incêndios devem prejudicar especialmente a produção de açúcar a partir da primeira quinzena de setembro.
Apesar disso, Santoul espera que a moagem de cana da safra atual seja maior do que na temporada passada, superando 21 milhões de toneladas. O motivo, segundo ele, foram as ótimas condições climáticas de 2023, na época do desenvolvimento da cana que está sendo colhida neste ano.
“O canavial chegou à safra deste ano sem estresse hídrico. Apesar da seca histórica [neste ano], a Tereos vai moer mais cana do que no ano passado, e em ATR também [vai produzir mais]. A resistência do canavial está excepcional pelo pouco estresse hídrico do ano passado e por tudo que fizemos de agricultura regenerativa para ter um canavial com boa saude”, afirmou.
Haverá, por outro lado, algumas perdas de eficiência. Embora a recomendação técnica seja de processar a cana que passou pelo fogo em até 48 horas, as indústrias não conseguem processar toda a cana queimada de uma vez só por causa do alto volume atingido e pelo excesso de fibras. “Ainda estamos processando cana que pegou fogo em 23 de agosto”, disse.
Além disso, a Tereos não vai conseguir atingir sua meta de direcionar 60% da cana para a produção de açúcar nesta safra. Os incêndios “degradaram a qualidade do canavial”, disse Santoul. As usinas do Centro-Sul já vinham com dificuldade nesta safra de produzir mais açúcar a partir da cana por causa de uma menor qualidade da cana.
O executivo disse não ser possível ainda prever qual será o mix açucareiro desta temporada. No ciclo passado, a Tereos direcionou 67% de sua cana para a produção da commodity.
A maior preocupação, porém, é com a próxima safra. “As soqueiras estão com estresse hídrico. Se não tivermos boas condições meteorológicas a partir de agora até abril, com certeza vai ter uma redução ainda mais expressiva de safra”, afirmou Santoul. Ele disse que, se nesta safra o Centro-Sul deve perder 10% da moagem em relação à safra passada, é possível que haja uma nova quebra de 10% na próxima temporada se não houver boas chuvas nos próximos meses.
Compromisso
Os incêndios devem provocar ainda um impacto negativo na estratégia de descarbonização da Tereos. Em março, a companhia francesa apresentou à organização Science-Based Targets iniciative (SBTi) seu compromisso de alcançar a neutralidade de emissões até 2050, com a meta intermediária de cortar as emissões dos escopos 1 e 2 (relacionada à atividade industrial e consumo energético) em 50% até a safra 2032/33 e em 36% as emissões do escopo 3.
Embora os incêndios provoquem uma grande liberação de gases de efeito estufa para a atmosfera, Santoul avalia que deve prevalecer o entendimento de que a rebrota da cana deve absorver os gases liberados, equilibrando o balanço de emissões.
Porém, haverá outras emissões a serem consideradas. “Dos 15 mil hectares de soqueira queimados, grande parte já tinha recebido tratamentos, e vamos ter que retratar. Então terá dupla contagem na emissão de carbono”, disse. Além disso, a Tereos ainda avaliará quais áreas precisarão ser replantadas.
Por: Camila Souza Ramos Fonte: Globo Rural
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