Iniciativa é fruto de uma parceria com Coplacana e Embrapa, que desenvolveu a tecnologia para o rastreamento
A Usina Granelli, de Charqueada (SP), começará a vender açúcar mascavo com informações desde a produção da cana até o processo de industrialização, protegidas pela tecnologia blockchain. A iniciativa é fruto de uma parceria com a Cooperativa dos Plantadores de Cana do Estado de São Paulo (Coplacana) e com a Embrapa, que desenvolveu a tecnologia para o rastreamento.
As informações poderão ser acessadas pelos consumidores enquanto o produto ainda estiver nas prateleiras. As embalagens terão um QR Code que apresentará dados como data do plantio, variedade de cana usada, geolocalização da fazenda que cultivou a matéria-prima, área de preservação permanente (APPs) da propriedade, análise microbiológica do açúcar e parâmetros como teor de sacarose, umidade e cor.
A tecnologia foi criada pela Embrapa Agricultura Digital, que desenvolveu o Sistema Brasileiro de Agrorrastreabilidade (Sibraar) e o adaptou à cadeia da cana. Pelo contrato de parceria, parte das vendas será revertida à estatal de pesquisa na forma de royalties. Responsável pelo desenvolvimento do software, o pesquisador Alexandre de Castro explica que o sistema pode disponibilizar todo tipo de informação que os produtores quiserem apresentar.
Muitos produtos já contam com QR Codes em suas embalagens com informações aos consumidores, mas em geral o código remete apenas ao site da empresa ou a dados que não são “protegidos”, afirma Castro. Com o blockchain associado ao QR Code, o sistema garante a integridade da informação desde sua inserção. Essa “proteção” dá segurança ao consumidor e apoia o trabalho de auditorias. “Se alguém altera uma informação, o QR Code é inativado, e não só do produto, mas de todos os lotes”.
Garantia ao consumidor
Segundo a Embrapa, o sistema é uma forma de garantir que o açúcar mascavo não foi adulterado. O problema, comum nesse mercado, ocorre com a mistura do açúcar mascavo ao cristal e a outras substâncias durante a fabricação.
A criação de um sistema de rastreabilidade pode até ser um diferencial competitivo, mas também atende a uma demanda crescente sobretudo na Europa, onde os legisladores querem garantias de rastreamento dos produtos agropecuários importados. A Embrapa trabalhará agora em mais uma etapa da parceria com a Usina Granelli para estender o uso do blockchain ao RenovaBio, a política que estabelece mandatos de emissões para estimular o consumo de biocombustíveis.
Segundo Castro, o Sibraar pode ser aplicado em qualquer cadeia “vertical” em que os fornecedores de matéria-prima entregam seus produtos diretamente na indústria, como é o caso da cana e de hortifrútis. Já em cadeias com mais intermediários, como a de grãos, leite, café e cacau, haverá adaptações. “Nesse caso, temos que colocar o sistema em cada ponto onde ocorre a mistura [de matérias-primas]”, adianta.
O uso de sistemas com blockchain para apresentar informações aos consumidores está no início no agro, e ainda não há um padrão de informações que o setor privado tem a obrigação de divulgar em sistemas de rastreabilidade.
Fonte: VALOR ECONÔMICO