As usinas brasileiras da região Centro-Sul ampliarão a moagem de cana-de-açúcar para além do período tradicional para conseguir processar o máximo de uma safra recorde na temporada 2023/24 e aproveitar os altos preços do açúcar, segundo proprietários e diretores de usinas reunidos no Sugar Dinner, em São Paulo (SP).
A temporada de produção de açúcar e etanol no Centro-Sul geralmente termina em novembro, quando as chuvas se tornam mais frequentes — dificultando a operação das máquinas nos canaviais — e já não sobra muita cana para ser colhida.
Este ano, no entanto, uma colheita estimada em cerca de 630 milhões de toneladas e os preços do açúcar bruto em máximas de 12 anos farão com que as usinas tentem operar por mais tempo.
“Pretendemos ir até 10 a 15 de dezembro. Normalmente, a gente fecha em 20 de novembro, acima disso começa a prejudicar demais o canavial para as próximas safras”, disse José Sergio Ferrari Júnior, da usina Ferrari, em Pirassununga (SP).
Ele lembrou que o segmento investiu no canavial na safra 2023/24 e o clima colaborou com aumento da produtividade. “O setor tem renovado o canavial acima da média e as chuvas ajudaram, o que tem atrapalhado um pouco o final de safra, a operação agrícola”, ponderou.
Ele comentou que, apesar do prolongamento da safra, vai sobrar cana para a próxima temporada (2024/25), que promete também ser antecipada, para março, uma vez que o ciclo no Centro-Sul se inicia oficialmente em abril.
“Essa safra do Centro-Sul vai se prolongar o máximo possível, porém tem alguns ?´deadlines?´. Apesar de ter cana, de sobrar cana bisada que não vai ser moída, isso vai antecipar o início da safra do ano que vem, vai diminuir a entressafra”, afirmou o diretor-presidente da Alcoeste Bioenergia, Luis Antonio Arakaki.
Ele ponderou que a Alcoeste, assim como outras empresas do setor, está testando suas capacidades máximas, uma vez que correm para processar o quanto podem da cana diante dos preços favoráveis, já que há um déficit global no mercado de açúcar em meio à queda de produção em outros países.
O presidente-executivo da União Nacional da Bioenergia (Udop), Antonio Cesar Salibe, estimou em cerca de 30 milhões de toneladas o volume de cana-de-açúcar que será deixado nos campos para a colheita da nova safra, em março.
“O que conseguir, o setor vai moer. Um diretor de uma usina da região de Araçatuba me disse que eles vão até 15 de janeiro, eles vão prolongar o máximo que puderem”, afirmou.
Mais açúcar
Arakaki, da Alcoeste, disse ainda que diversos grupos estão fazendo ajustes nas usinas e ampliarão a capacidade de produção de açúcar em 2024 e em 2025, de olho na boa remuneração.
“Existem investimentos de destilarias que não tinham fábricas de açúcar, que estão entrando em produção no ano que vem e em 2025. Existe um ´retrofit´, um ganho de eficiência em todas as usinas sem exceção, colocando alguma coisa para ganhar um pouco mais”, comentou.
Ele seguiu: “Isso vai se refletir em um avanço muito grande, talvez até 4 milhões de toneladas, 3 a 4 milhões de toneladas de açúcar”. O executivo ainda lembrou que, com o mundo demandando o produto do Brasil diante da quebra de safra em outros países, aumentam os gargalos logísticos nos portos.
O diretor de agronegócios do Itaú BBA, Pedro Fernandes, disse que a instituição tem mapeado “investimentos importantes” em capacidade de produção de açúcar, de quase 1,6 milhão de toneladas por safra, além de aportes em biometano e desengargalamentos em geral.
“Ainda assim, frente à geração de caixa do setor, apesar desses investimentos, é um ano de maior desalavancagem”, disse, lembrando que o segmento tem tirado proveito dos bons preços e há expectativa de uma nova boa safra em 2024/25, em termos de cotações e volumes.
Fonte: Reuters
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