O Bradesco anuncia nesta segunda-feira (5)no lançamento de seu marketplace voltado ao agronegócio, o E-agro, no qual produtores e pecuaristas poderão comprar máquinas e equipamentos agrícolas, fertilizantes, defensivos, sementes e serviços, pagando com Cédula de Produto Rural (CPR) digital – título amplamente usado por produtores – e, futuramente, linhas de crédito rural. Desenvolvido dentro de casa em parceria com o inovabra, ambiente de inovação do Bradesco, e com a IBM Consulting, tendo o reforço da contratação da head do marketplace, Nadege Saad, que até 2022 era diretora de estratégia de outro marketplace, o Agrofy – o E-agro surge para fortalecer a posição do Bradesco junto ao agronegócio enquanto concorrentes privados e novos entrantes do mercado financeiro aumentam as investidas no setor. Também está nos planos elevar, por meio dele, a participação do banco nos financiamentos de clientes produtores e expandir essa base para mais agricultores, revela o vice-presidente do Bradesco, José Ramos Rocha Neto, em entrevista.
“O principal objetivo dessa iniciativa é consolidar o Bradesco como grande player privado do agronegócio brasileiro. Temos 851 agências dedicadas ao agronegócio, regionais com equipe técnica e agrônomos e estamos vindo com o marketplace com um serviço integrado único até agora, no qual será ofertada à essa base enorme de clientes Bradesco uma máquina ou insumo e lá mesmo ele poderá obter financiamento por meio de uma linha rural ou CPR (Cédula de Produto Rural) digital, sem pisar em uma agência”, afirma Rocha. “Com isso teremos vários ganhos: aumentar o nível de satisfação do produtor, o que é super importante porque o fideliza aqui dentro; trazer clientes novos, porque tem gente que vai olhar para o vizinho e ter curiosidade; e aumentar o volume de negócios com os mesmos clientes”, continua o executivo.
O Bradesco tem hoje uma carteira de crédito para o agronegócio de R$ 101,7 bilhões, que abrangem linhas de financiamento, títulos e outros meios de oferta de recursos ao setor. Consideradas apenas linhas de financiamento para custeio da safra ou investimentos de longo prazo, são quase R$ 53 bilhões. Os produtores rurais correntistas totalizam aproximadamente 2 milhões, com diferentes níveis de relacionamento com o banco. O plano, de acordo com Rocha e com o diretor de Agronegócios do Bradesco, Roberto França, é levar para o E-agro 10% dessa base, ou 200 mil agricultores correntistas, no primeiro ano. Em cinco anos, o objetivo é alcançar 80% deles, ou cerca de 1,6 milhão de produtores rurais.
França explica que produtores clientes contratam, em média, 30% de suas necessidades de crédito com o banco, seja por linhas do Plano Safra, com taxas de juros controladas pelo governo, seja por linhas com taxas de mercado ou títulos, como a tradicional CPR. Os demais recursos são tomados com outros bancos, distribuidores de insumos ou produtores de insumos agrícolas. Com a E-agro, a intenção é puxar o porcentual para cima, para perto dos 50%. Para o primeiro ano de operação, o banco já tem R$ 54 bilhões em crédito pré-aprovado a ser concedido pelo marketplace. “Vamos oferecer recursos obrigatórios (linhas do Plano Safra mantidas com recursos provenientes de depósitos à vista) e a CPR complementando a necessidade do produtor. Por aí pretendemos atendê-lo com cerca de 50% do crédito que ele precisa”, disse França.
Além de levar correntistas para o E-agro, o Bradesco também pretende atrair novos clientes, sejam eles produtores que hoje tomam crédito com outros agentes financeiros ou que se financiam junto a tradings, fabricantes de insumos ou distribuidoras de insumos. Até o fim do ano, ou seja, no primeiro semestre da safra 2023/24, a meta é trazer ao menos 5 mil novos clientes. Em cinco anos, o número deve subir para 50 mil. “Acreditamos que vamos atingir essa meta muito rapidamente”, diz França. Como novos clientes, explica ele, o banco considera os não-correntistas e também quem tem conta no banco mas não toma crédito com ele. Para os recém-chegados, a pretensão é emprestar de 15% a 30% de suas necessidades de crédito.
O E-Agro começa a operar com 13 parceiros, como os fabricantes de máquinas e implementos agrícolas Massey Ferguson, Jacto, Stara, Valtra e Jumil, as empresas de insumos Boa Safra Sementes, DSM, Neogen, Nitro, Latina Seeds, Cibra, KWS Sementes e Tecnomyl, além do setor de serviços com a Agrosmart e a Sapiens Agro. Mas a previsão é chegar ao fim do ano com mais de 50 empresas colocando seus produtos à venda no ecossistema virtual. Neste momento, produtores terão algumas opções de pagamento no fim da compra: se forem correntistas do banco, poderão tomar um crédito por meio de uma CPR digital, com assinatura pela plataforma. Se não tiverem conta no Bradesco, poderão pagar com pix, cartão de crédito ou boleto bancário ou mesmo abrir uma conta no banco para poder emitir a CPR.
A partir de agosto, o banco ampliará as opções de pagamento no marketplace com linhas de crédito rural do Plano Safra. Correntistas poderão escolher entre a CPR digital, linhas de custeio agrícola e custeio pecuário, inclusive do Pronaf (programa governamental focado na agricultura familiar) e Pronamp (voltado a médios produtores) e, mais adiante, de investimentos de longo prazo do BNDES. “Vamos gradualmente lançando todo o portfólio (de crédito) que já temos dentro banco”, diz França. Há planos de incorporar outros serviços como, por exemplo, contratação de seguro rural pela plataforma.
Em 2024, o E-agro também oferecerá opções de crédito para não correntistas. Apesar de utilizarem sistemas diferentes, banco e marketplace têm suas bases de dados integradas, o que permitirá utilizar o histórico dos produtores junto ao banco para oferecer taxas de crédito condizentes. Outro formato de concessão do crédito será por convênio com cooperativas agrícolas e distribuidoras de insumos, que atuarão como avalistas do produtor que tomará o recurso.
Diferentemente do também privado concorrente Itaú, que comprou participação no marketplace Orbia – fruto da parceria inicial da Bayer com a Bravium e que também tem a fabricante de fertilizantes Yara entre seus acionistas – o Bradesco optou por criar seu marketplace do zero dentro de casa. “Nós entendemos que com a nossa participação na cadeia do agro, teríamos envergadura para ter um operação própria (de marketplace) sob o guarda-chuva da organização Bradesco. Não foi uma discussão simples porque ela (a operação) teria um risco, de entrarmos em um negócio novo, que é o marketplace para o agro”, conta o vice-presidente do Bradesco. “Mas viemos de uma experiência bem sucedida de marketplace, que é o Shopfácil, o que nos levou à decisão de trazer um profissional que já conhecesse bem isso”, continuou Rocha, referindo-se à Nadege Saad.
A executiva acrescenta argumentos para a escolha pelo marketplace próprio. Um deles é a insegurança manifestada por produtores usuários de outros ambientes de compra online sobre a idoneidade e capacidade do fornecedor de entregar o produto. Outro ponto a ser superado era o fato de que marketplaces concorrentes trabalham por “leads”, ou seja, antes de efetuar a compra de fato, produtores precisam enviar aos vendedores das lojas consultas sobre os produtos de interesse. “Existe uma curadoria para a escolha dos parceiros (de venda), porque se houver problema na entrega da mercadoria, o produtor tende a associar com o E-agro e a corporação Bradesco”, reforçou Rocha.
A inserção do Bradesco no mundo do comércio digital do agronegócio também tem em vista a transição da gestão das fazendas para as novas gerações de produtores, alguns deles nativos digitais, e as mudanças de hábitos inclusive dos mais velhos, cada vez mais acostumados a fazer compras pelo celular. “Por muito tempo a indústria (de produtos para o campo) será figital”, diz Saad, em referência ao termo que combina as palavras físico com digital.
Fonte: Estadão
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