A Raízen, dona da rede de postos Shell, sentiu o impacto negativo da queda dos preços do etanol e da sobreoferta de diesel no mercado brasileiro no primeiro trimestre do ano safra 2023/24.
De abril a junho, a companhia teve resultado operacional mais fraco desde a linha da receita, mas com lucro líquido ajustado de R$ 527 milhões, queda de 52% na comparação anual, ajudada pelo reconhecimento de créditos fiscais de R$ 1,1 bilhão. O benefício fiscal nessa magnitude, indicou o comando da companhia, deve ser recorrente nos próximos trimestres.
De acordo com o diretor financeiro e de relações com investidores da Raízen, Carlos Moura, o negócio de mobilidade – que compreende a distribuição de combustíveis – perdeu competitividade por causa do forte aumento da oferta de diesel no mercado brasileiro, via importações da Rússia e aumento da capacidade de refino da Petrobras. Outras grandes distribuidoras brasileiras sentiram a mesma pressão.
Ao mesmo tempo, os preços do etanol recuaram e a estratégia na Raízen foi elevar estoques do combustível. “Essa conjunção de queda de preço do etanol e oferta de diesel afetou substancialmente o trimestre, mas isso foi pontual”, disse o executivo ao Valor.
No intervalo, a receita líquida consolidada da companhia recuou 26%, para R$ 48,8 bilhões, enquanto o resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado cedeu 11%, para R$ 3,3 bilhões.
No negócio de combustíveis, a receita operacional líquida caiu 28,3%, para R$ 40,1 bilhões, e o Ebitda encolheu 53,4% na mesma comparação, para R$ 807,1 milhões, com margem Ebitda ajustada de R$ 94 por metro cúbico (contra R$ 204 um ano antes).
“Redução do preço do etanol e oferta de diesel afetou o trimestre” — Carlos Moura
Conforme Moura, a expectativa é de normalização no mercado de diesel nos próximos meses, à medida que a Petrobras realize a manutenção em suas refinarias. Além disso, desde julho, os preços praticados pela estatal estão cerca de 23% a 28% abaixo dos valores de importação, o que é bom para os grandes “players” locais.
Na Argentina, indicou o executivo, a principal dificuldade tem sido o repasse da inflação. Apesar das turbulências políticas no país vizinho e da expectativa de que isso se reflita em mais volatilidade na economia, não está nos planos da Raízen vender a operação local, indicou Moura.
“Olhando para a frente, é uma situação preocupante, mas o balanço da Raízen está preparado para enfrentar essa turbulência”, comentou. Segundo o executivo, deixar a Argentina seria uma decisão “drástica e não eficiente” para a companhia, que chegou ao país há cinco anos. Além disso, a percepção é a de que a operação, hoje, está redonda.
O negócio de açúcar trouxe resultados fortes para a companhia no trimestre, que agora prevê moagem de cana de no mínimo 80 milhões de toneladas neste ano, em função de ganhos de produtividade. Depois de abril ter sido um mês ruim sob o ponto de vista climático, maio e junho foram “excepcionais”, indicou o executivo, e os preços mais elevados da commodity contribuíram para o desempenho positivo.
A Raízen segue com seu plano de investimento em novas plantas de etanol de segunda geração. A segunda unidade será inaugurada em setembro, em Guariba (SP), e terá três vezes mais capacidade que a planta já em operação em Piracicaba (SP).
Fonte: Valor Econômico
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