Vice-presidente de estratégia e sustentabilidade da empresa, Paula Kovarsky detalha as condições para que novas plantas sejam construídas e reforça aposta de exportar E2G “para o mundo”
A primeira planta de biometano da Raízen, em Piracicaba (SP), ficará pronta até dezembro. Uma de suas clientes, a Yara Brasil, usará biometano, no lugar de gás natural, para produzir amônia verde e, assim, chegar ao “fertilizante verde”.
O adiamento da inauguração da usina – antes previsto para 2023 – foi comunicado aos investidores da Raízen, no ano passado, como uma reavaliação necessária diante de um mercado que não parecia ver valor suficiente no biogás para geração de energia.
O cenário não mudou tanto. Mas a empresa, em vez de apenas refletir a demanda, está interessada em mostrar ao Brasil – e ao mundo – do que é capaz. “Tudo o que o povo mundo afora está falando que vai fazer daqui a, sei lá, 10 anos, 15 anos, a gente já está fazendo aqui hoje”, disse a vice-presidente de estratégia e sustentabilidade da Raízen, Paula Kovarsky.
“Temos potencial de produzir mais, mas, antes de investir em novas plantas, queremos uma resposta de preço do mercado. A gente precisa ter um reconhecimento melhor sobre o atributo sustentável do biometano”, reforçou.
A Raízen espera o reconhecimento do valor sustentável do biometano nas formas de investimentos de infraestrutura e avanços nas regras de incentivo à economia de baixo carbono, no Brasil e no exterior. “Para entregar o meu biometano, eu preciso de rede de distribuição”, disse Kovarsky. “Se eu puder entregar aqui e eventualmente vender o crédito de carbono lá fora, poderei melhorar o potencial de monetização”.
Uma logística viável para distribuir o biometano também é uma condição para que a Raízen decida se continuará investindo em novas plantas deste produto. “Temos potencial de produzir, conectável na rede, esse é um tema importante, mas a gente consegue chegar a 1 milhão e meio de metros cúbicos por dia”, afirmou.
Quando anunciou a construção da planta de biometano, em 2022, a Raízen previu investimentos de R$ 300 milhões. A capacidade de produção da unidade, anexa ao bioparque Costa Pinto, em Piracicaba (SP), foi estimada em 26 milhões de m³ de gás natural renovável por ano.
Outro fator pode ajudar a companhia nos seus planos em relação ao biometano. O projeto de lei Combustível do Futuro (PL 528/2020), aprovado pela Câmara dos Deputados e com votação no Senado prevista para o começo de setembro, seria um estímulo a novos investimentos.
O texto prevê a adição inicial de 1% de biometano ao gás natural, em 2026, com aumento progressivo ao longo dos anos.
“Se o Combustível do Futuro emplacar a obrigação de fazer blend, você cria um mercado que remunera melhor o desenvolvimento de biometano”, disse a vice-presidente da Raízen. “Tem gente que é contra, por dizer que encareceria o gás natural. Qualquer que seja o preço do biometano, ele vai impactar em 10% só do preço, porque o resto continua sendo gás natural”, ressaltou.
Paula Kovarsky ressalta que os estímulos previstos no projeto de lei terão impacto variado, porque nem toda fonte de energia é igualmente transportável. “O Brasil tem potencial de produzir hidrogênio verde a um custo muito competitivo. O problema é que ele não viaja, né? Então você tem que desenvolver um uso para esse hidrogênio próximo da produção”, afirmou. “Amônia verde é uma alternativa, mas ainda assim o transporte não é trivial”.
E2G para conquistar o mundo
Além de variar seu portfólio de soluções de bioenergia no Brasil, a Raízen quer diversificar geografias, aumentar as exportações e exportar tecnologia. “A gente quer criar soluções exportáveis. Não tem nada de errado nisso, porque a solução exportável vai gerar divisa do mesmo jeito para o Brasil”, afirma. “Isso porque lá fora o mercado paga adequadamente pelo atributo renovável”.
A solução mais exportável atualmente é o etanol. “É o primeiro da fila porque tem densidade energética mais alta e excelente transporte. Até como forma de carregar hidrogênio, o etanol é bom”, diz a executiva.
A Raízen desenvolveu com a finlandesa Vartsila navios flex, capazes de usar um blend de bunker e etanol. “O mercado de combustível marítimo é infinito em volume”, afirma.
Paula Kovarski também considera o mercado de combustível sustentável de aviação (SAF) “infinito em volume”. Por esse motivo, afirma, o etanol pode prevalecer, mesmo estando menos desenvolvido que a rota de produção Hefa, que utiliza gorduras animais e óleo de cozinha usado.
De acordo com ela, a produção via Hefa bateria em um teto de 30 bilhões de toneladas, insuficiente para a demanda. “Eu sempre brinco que, no limite, nós acabaríamos precisando incentivar as pessoas a comer mais no McDonald’s para poder produzir SAF. Não faz sentido”.
A executiva não entra em detalhes, mas afirma que a Raízen estuda exportar a tecnologia do etanol de segunda geração (E2G) para países com produção relevante de cana de açúcar. “Talvez a gente não esperasse ver isso, mas os Estados Unidos ainda queimam bagaço de cana”, afirma. “Ao transformar o bagaço em E2G, você evita as emissões da queima e pode eventualmente se beneficiar de todos os programas de incentivo”.
Por: Marcelo Moura Fonte: Nova Cana
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