Avaliação é da consultoria StoneX, que vê cenário favorável para o biocombustível na safra 2024/25
A despeito dos problemas com a safra de cana-de-açúcar do ciclo 2024/25, principalmente pela seca no Centro-Sul e incêndios no interior de São Paulo, o cenário do etanol deve continuar favorável no Brasil, em especial pela alta produção do biocombustível originado do milho. A avaliação foi feita nesta quinta-feira, 10, por Breno Cordeiro, da StoneX.
A consultoria prevê para a safra atual, que termina em março do ano que vem, uma moagem total de 593 milhões de toneladas de cana, queda de 3,2% em relação à temporada 2023/24. “Resultado de uma produtividade que ainda pode sofrer”, destaca, em relatório.
Neste cenário, Cordeiro estima que a produção do combustível a partir do cereal vai crescer 30% em comparação com a temporada 2023/24 e compensar os efeitos da quebra na safra de cana. A oferta total de etanol deve aumentar 1,2%, projetou, durante o 7º Encontro Desafios e Oportunidades dos Mercados de Commodities.
No cenário global, a demanda por etanol continuará aquecida, em especial para o hidratado. Isso se expressa já no quarto trimestre de 2024. “As projeções apontam para uma demanda de 20,9 bilhões de litros de hidratado este ano, alta de 30,3% em relação ao mesmo período de 2023, apesar de uma perspectiva de finalização de safra 2024/25 mais curta do que o ciclo 2023/24”, explica a StoneX, em relatório.
Por outro lado, os incêndios no Brasil deixaram consequências a longo prazo, como a queda de produtividade de cana-de-açúcar para a safra 2025/26. Mesmo sem números precisos, a StoneX já considera a possibilidade de o Brasil voltar a ter uma relação de preços entre o etanol e a gasolina que pode fazer o consumidor optar pelo combustível fóssil ao abastecer o veículo.
Cordeiro acrescenta, entretanto, que esse é um efeito de normalização da entressafra da commodity que é visto desde 2021/22 pelo mercado. Mas a mudança de comportamento de consumo deverá parecer brusca, pois, neste ano, com um maior direcionamento de cana para a fabricação do biocombustível, o consumidor adquiriu mais etanol do que gasolina devido aos preços mais atrativos nos postos de abastecimento. No entanto, em 2025, a diferença deverá diminuir e tornar o combustível fóssil mais atrativo ao consumidor final.
“A movimentação se dá pelo início antecipado da moagem ao longo do ciclo de 2024/25, que permitiu avanço da oferta e etanol e, ao mesmo tempo, as dificuldades de produção do açúcar fez com que o mercado apostasse no biocombustível. Mas o cenário de estoques futuros deve começar a cair ao longo do ciclo 2024/25 e devemos observar os preços chegando na venda das usinas e esses preços devem voltar a subir, já que a paridade deve voltar a respeitar a entressafra da cana, diferente do que observamos no último ciclo”, detalhou Cordeiro.
Para o próximo ciclo (2025/26), a expectativa é que a oferta total de etanol seja menor. Somado a isso há uma redução da safra de cana e uma valorização de mix mais açucareiro, fazendo com que a produção de etanol possa recuar 2,8%, mesmo com a produção de outras origens em alta, como milho e trigo.
Exportações
As previsões para as exportações de açúcar para o ciclo de 2025/26 deverão “desacelerar”, provocando uma redução e um favorecimento aos embarques do etanol brasileiro. A StoneX estima que as exportações de etanol aumentem 5% em 2025/26.
O negócio do biocombustível trará capital para as usinas como um efeito compensatório, algo que não vinha acontecendo, pois o produto estava voltado principalmente ao mercado doméstico.
Cordeiro, entretanto, explica que essa movimentação não é extraordinária, nem nova ou sequer ruim. Ele indica uma “normalização” do ritmo de exportações de etanol acumulados no histórico do Brasil desde a safra 2021/22.
Com a mudança no foco, a queda esperada de destinação do etanol para o mercado interno é de 3,7% na temporada 2025/26, destacou o analista.
Açúcar
Já o mercado de açúcar deve ainda sofrer os efeitos do encerramento da colheita em 2024/25 e das preocupações com as consequências das queimadas e períodos secos nas regiões produtoras do Brasil. Com a entressafra, a oferta da commodity tende a diminuir.
De outro lado, o diferencial de preço em relação ao etanol hidratado está em mais de 700 pontos e continua em processo de “maximização”. A situação favorece o direcionamento de matéria-prima para a commodity, que deve chegar a 51% no mix de produção das usinas.
Para os analistas Marcelo Di Bonifacio Filho e Rafael Borges, da StoneX, o que acontece a partir de agora com os preços futuros é uma espera de números para entender os impactos da temporada 2025/26. Neste último trimestre de 2024, agentes de mercado continuam de olho no início da temporada no Hemisfério Norte e em um eventual aumento de produtividade na Índia.
O governo indiano, aliás, emitiu sinalizações que mexeram com os preços do demerara na bolsa de Nova York, como divulgar limites de produção de cana a ser direcionado à produção de etanol, por exemplo. Mais recentemente, a decisão foi pelo desvio de 4 milhões de toneladas de sacarose para fabricação de etanol – ou 6,8% menos açúcar. A decisão pode pressionar o quadro de oferta e demanda pelo produto, embora, na avaliação da StoneX, ainda não ofereça riscos em termos globais, já que os estoques de passagem estão “saudáveis”.
Com isso, entre fatores altistas e baixistas, a performance do açúcar demerara em Nova York tem sido bastante mista, indicando uma falta de direcionamento mais claro da commodity, particularmente para os contratos com vencimento em março de 2025, que registraram uma alta acumulada de 9,1%, ou 188 pontos.
Por: Isadora Camargo Fonte: Nova Cana
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