Embaixador, que já representou o Brasil em Londres e Washington, avalia que o setor precisa buscar mercdos independentemente dos desdobramentos da escalada protecionista dos EUA

O setor privado do Brasil, em particular o agronegócio, precisa aproveitar oportunidades de livre comércio que já pode usufruir, enquanto o governo tem de buscar novos acordos bilaterais para reforçar a presença brasileira no comércio mundial, em meio à escalada protecionista do presidente americano, Donald Trump.
Essa é a visão do embaixador Rubens Barbosa, presidente do Instituto Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice) e que já representou o Brasil em Londres e Washington. Para ele, “o setor agrícola [brasileiro] tem que se posicionar para buscar outros mercados e ampliar suas vendas, e não ficar esperando que os outros cheguem”.
O diplomata concorda com a maioria dos analistas que acredita que haverá um aumento da demanda da China pelos produtos agropecuários brasileiros, mas vê esse cenário com ressalvas.
“A China está [com negociação] paralisada com os Estados Unidos, não se sabe o que vai acontecer, se eles vão se entender ou não, se a China vai parar de importar dos Estados Unidos produtos agrícolas. Então, é muito difícil fazer uma avaliação por causa dessas incertezas todas”, afirma.
Para o diplomata, “a tendência é que o agro brasileiro se beneficie, mas de que maneira, a gente vai ter que aguardar”.
Enquanto esse cenário segue indefinido, o Brasil precisa começar a se movimentar, diz. “Tem que começar a procurar e aumentar as exportações antes mesmo de esse quadro ficar mais claro”, sustenta. É o que outros países já estão começando a fazer.
“A concorrência vai ser muito grande. Existem outros países que são grandes produtores agrícolas, como na Europa, a Argentina. Então, o setor agrícola [brasileiro] não pode ficar esperando”, afirma.
Entre os acordos dos quais o Brasil já faz parte e usufrui pouco, ele cita a Associação Latino-Americana de Integração (Aladi). “Ninguém está aproveitando isso. Nós temos que prestar mais atenção aqui para a região”, defende.
Mesmo em outros continentes há oportunidades. É o caso do Acordo Abrangente e Progressivo para a Parceria Transpacífico (CPTPP, na sigla em inglês). “O Uruguai pediu para se aproximar [do CPTPP] e a China está pedindo para se aproximar. Por que o Brasil não faz a mesma coisa?”.
Composto por 13 países, a Aladi prevê tarifa zero para uma série de produtos do comércio regional. No âmbito da associação, o Brasil é signatário de 50 acordos, sendo dois “acordos de alcance parcial” relacionados à agropecuária.
Na Ásia, ele destaca a importância da aproximação diplomática promovida pelo governo no mês passado com o Japão e o Vietnã, além de ver potencial também com a Indonésia. Barbosa defende ainda aproximação com o Canadá e o México.
Além disso, o Brasil também precisa se preparar para melhorar sua competitividade. “O Brasil tem condições de atender [um aumento da demanda]. Este ano o Brasil vai ter safra recorde de 330 milhões de toneladas.”
Esses esforços, porém, devem ser feitos considerando uma nova visão estratégica de inserção do país no mundo. Na opinião de Barbosa, “o comércio internacional, como entendido depois da Segunda Guerra Mundial nesses últimos 80 anos, terminou”.
“O livre comércio terminou. A partir de agora existe o protecionismo, o unilateralismo, a autonomia soberana, que vai predominar. Os países vão cuidar dos seus interesses”, avalia.
Essa mudança na conjuntura global vai demandar uma nova visão de médio e longo prazo do governo brasileiro e do setor privado.
Em sua avaliação, o projeto da Lei de Reciprocidade Comercial garante ao Brasil um “instrumento” para preparar o país para o que vier a ocorrer. “A gente tem que se preparar para todas as possibilidades”, defende.
Por: Camila Souza Ramos | Fonte: Globo Rural
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