
Durante o evento de abertura da safra 2025/2026, realizado pela Canaoeste em Sertãozinho-SP, o presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), Luiz Carlos Corrêa Carvalho, alertou para os impactos crescentes das instabilidades internacionais sobre o setor sucroenergético. “Tensões globais já refletem no mercado de açúcar brasileiro”, afirmou o executivo, ao traçar um panorama que combina redução de área colhida, desafios logísticos e incertezas no comércio internacional.
Segundo Carvalho, a nova safra já começa sob um sinal de alerta. A área de colheita será 200 mil hectares menor em comparação à anterior, e a previsão é de queda de produtividade em diversas regiões, agravada por um regime de chuvas abaixo do ideal. “A safra 23/24 foi histórica em volume, mas isso se deveu, em grande parte, ao aumento da área colhida. Agora, com menos terra disponível e clima mais instável, o setor terá de se preparar para uma temporada mais difícil”, analisou.
Além dos fatores internos, o cenário externo também traz preocupações. A guerra comercial entre Estados Unidos e China, combinada à desaceleração econômica em países da Ásia e à instabilidade nos fluxos logísticos globais, pressiona diretamente as exportações brasileiras. “O Brasil precisa diversificar seus compradores. Nossa dependência da China está ficando pesada, e qualquer retaliação comercial pode comprometer o escoamento da produção”, pontuou.
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Portos no limite
Um dos pontos críticos destacados por Carvalho foi a capacidade dos portos brasileiros, que devem operar no limite em 2025. “Teremos dificuldade para dar saída ao açúcar como tivemos em outros anos. Os terminais já estão sobrecarregados com a exportação de milho, e isso cria um gargalo logístico sério para o setor sucroenergético”, disse. A situação pode comprometer a fluidez das exportações justamente em um momento de expectativa por déficit global na oferta de açúcar.

Apesar da pressão sobre a cana-de-açúcar, o etanol de milho continua em alta e já representa uma fatia significativa da produção nacional. Segundo o presidente da ABAG, esse crescimento é estratégico para o país, principalmente diante da possibilidade de avanço da mistura E30 (30% de etanol na gasolina). “Se o E30 for aprovado, ganhamos mais de um bilhão de litros de etanol líquido. A decisão final não está mais conosco, o setor já fez sua parte”, afirmou.
O desequilíbrio entre oferta e demanda também é um fator de atenção. Estima-se que o Brasil feche a safra com um déficit superior a 4 milhões de toneladas de açúcar, enquanto a projeção global pode ultrapassar 13 milhões, a depender da produção em países como Índia, Tailândia e Europa. “O estoque global está apertado, e qualquer variação climática em países-chave pode disparar os preços”, explicou Carvalho.
Fonte: Fábio Palaveri – Visão Agro
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