Em seminário promovido na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, apresentou o plano estratégico para alavancar a produção e utilização doméstica de gás natural. Entre 2023 e 2027, serão feitos investimentos da ordem de US$ 5,2 bilhões para a implantação de novos projetos voltados à exploração e escoamento de até 55 milhões de m³/dia (metros cúbicos por dia) do produto.
Esta iniciativa, de suma importância para a segurança energética e a promoção da indústria do País, vai demandar vultosos aportes financeiros de longo prazo para abrir um novo capítulo na trajetória da indústria sucroenergética nacional. Trata-se da produção de biogás e biometano, duas fontes adormecidas nos canaviais brasileiros e que podem tornar ainda mais sustentáveis os setores elétrico e de transporte.
Segundo o último Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE), elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), é enorme o potencial da cana-de-açúcar para a fabricação do biogás. É uma alternativa renovável para substituir o gás natural, de origem fóssil. Aproveitando-se subprodutos oriundos da fabricação de açúcar e etanol, como a vinhaça e a torta de filtro, estima-se que a produção de biogás pelo setor sucroenergético possa atingir 34,9 bilhões de m³ em 2032.
O biogás tem vantagens comparativas em relação ao processo tradicional de extração do gás natural em plataformas petrolíferas. Em termos de logística e custos de produção, uma versão “verde” pode ganhar capilaridade, sem grandes investimentos na construção de dutos. Enfatize-se que a maior oferta de biogás reduzirá custos de acionamento de usinas térmicas movidas a energia fóssil.
No município de Guariba, em São Paulo, a multinacional brasileira Raízen, gigante do segmento sucroenergético global, aproveita esta nova oportunidade desde 2020. Estamos falando de uma das maiores plantas de biogás no mundo, com 21 MW de capacidade instalada para produção de bioeletricidade. Este investimento retrata a expertise, o portfólio e o compromisso da agroindústria canavieira com a transição energética.
No setor de transportes, o biogás, que pode ser injetado na malha dos gasodutos, representa outra janela para a indústria canavieira no segmento de biocombustíveis. Por meio de um processo de purificação do biogás, uso da vinhaça, torta de filtro e palha da cana, as usinas sucroenergéticas estão aptas a produzir o biometano, substituto do óleo diesel. Com emissão zero de materiais particulados, responsáveis pela má qualidade do ar, o biometano da cana pode suprir cerca de 20% da demanda de diesel no setor agropecuário, segundo estudos da EPE.
O etanol e a bioeletricidade inauguraram uma sequência histórica rumo à bioeconomia no Brasil. Hoje, com a produção de biogás e biometano, abre-se uma nova trilha para a agroindústria brasileira.
Jacyr Costa Filho
Presidente do Cosag – Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp e sócio da Consultoria Agroadvice
Fonte: Diário da Região
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