Pesquisa mostra que a preocupação de executivos do agro com os riscos da inteligência artificial está acima da média brasileira
A cibersegurança é considerada o maior desafio para produtores e empresas aplicarem sistemas de inteligência artificial (IA) dentro e fora da porteira. A privacidade de dados coletados por drones em uma lavoura, por exemplo, e o controle sobre essas informações são a principal preocupação de representantes do setor.
De acordo com Kenneth Corrêa, professor de MBA da Fundação Getulio Vargas (FGV) e especialista em IA, a apreensão é legítima e reflete a digitalização no agro. Para ele, quanto mais dispositivos conectados, maior a superfície para cibercriminosos. “Porém, essa vulnerabilidade não pode impedir o crescimento do uso da IA, e sim impulsionar práticas de segurança mais robustas.”
Em pesquisa realizada pela PwC Agtech Innovation, executivos do setor demonstraram uma preocupação em relação aos riscos da IA acima da média brasileira. O principal fator é justamente a cibersegurança, citada por 80%. Esse mesmo aspecto foi declarado por 74% de executivos brasileiros de outros setores e 64% no recorte global.
Corrêa acredita que os profissionais da área devem investir em educação digital para saber coletar e armazenar seus próprios dados e fazer parcerias com startups e instituições de pesquisa, tudo pela segurança de suas informações. O professor lembra de um ataque ransomware à JBS em 2021 que custou US$ 11 milhões em bitcoins no resgate para evitar o vazamento de dados.
Pela ocorrência de situações como essa, é fundamental a instalação de sistemas de detecção de invasão e backups rotineiros de dados. “Ao mesmo tempo, existem ataques também usando IA, o que torna a tarefa ainda mais desafiadora”, ressalta Luciana Miranda, diretora de operações da consultoria de tecnologia AP Digital Services.
Os especialistas argumentam que também é caro contratar profissionais especializados que saibam gerir tecnologias, como alimentar um algoritmo ou pilotar um drone. “O agro compete com outros setores por talentos em ciência de dados e IA”, observa o professor da FGV.
A escassez de conectividade no campo também é apontada como um gargalo, já que soluções de IA baseadas em nuvem são inviáveis sem uma conexão de qualidade. No Brasil, apenas 37% dos imóveis rurais têm cobertura 4G em toda área de uso agropecuário, segundo estudo divulgado pela ConectarAGRO com dados de 2023.
Corrêa pondera que a IA se tornou uma expressão da moda, à medida que algumas empresas rotulam tecnologias já existentes como “IA”, a fim de parecerem mais inovadoras. Para evitar essa “pegadinha”, é crucial olhar além do rótulo e focar nas funcionalidades e resultados reais. “O mais importante é buscar evidências de como a tecnologia está melhorando a tomada de decisões, além de fazer testes em pequena escala antes de adotar uma solução em larga escala”, orienta.
Fonte: Globo Rural
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