Estudo defende a adoção de estímulos para a cadeia do combustível para reduzir o custo da transição energética
A aviação comercial no Brasil poderá perder até 8% do seu potencial de crescimento em 2050 para cumprir com a meta de neutralizar as emissões acordadas no Acordo de Paris, mostra um estudo da universidade americana MIT sobre a descarbonização da aviação na América Latina.
De acordo com o estudo, cujos resultados preliminares foram apresentados nesta quarta-feira, 10, em Santiago do Chile, em um evento da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata), o Brasil tem um enorme potencial para o desenvolvimento do combustível sustentável de aviação (SAF, da sigla em inglês).
No entanto, na ausência de políticas públicas que estimulem a produção de SAF, o preço do combustível de aviação poderá praticamente dobrar com a substituição de 50% do consumo de combustível de origem fóssil por alternativas renováveis.
Em toda a região, isso poderá implicar em uma redução de demanda, com queda de 7% a 10% no volume de passageiros transportados. O combustível representa cerca de 40% dos custos do setor no Brasil hoje – impactando diretamente o preço das passagens. O setor aéreo em todo o mundo se comprometeu a neutralizar as emissões até 2050.
“A descarbonização da aviação é muito necessária, mas também bastante desafiadora. E o impacto das medidas de descarbonização no volume de passageiros transportados e na conectividade do setor vai depender dos incentivos governamentais, seja para produtores de SAF ou para as companhias”, diz Sergey Paltsev, que lidera a pesquisa no Massachusetts Institute of Technology (MIT).
O estudo “Descarbonização da aviação na América Latina de forma sustentável” foi encomendado pela Airbus e pela Latam no ano passado e tem por objetivo prover evidência científica atual para entender os caminhos possíveis para a descarbonização da aviação em seis países na América Latina: Brasil, Chile, Colômbia, Equador, México e Peru.
O SAF foi a opção escolhida pela indústria para reduzir as emissões das viagens por não demandar uma substituição de tecnologia de turbinas. O combustível está sendo desenvolvido com características que permitem que ele seja misturado ao combustível de origem fóssil sem comprometimento de performance. O SAF também pode ser produzido com as mais diferentes fontes de matéria prima agrícola (cana, milho, sorgo e outros) ou até mesmo de óleo de cozinha reciclado.
No entanto, diz o MIT, o SAF tampouco dará conta do recado sozinho. Os fabricantes de avião precisarão acelerar as tecnologias de ganho de eficiência energética, incluindo pesquisa e desenvolvimento para o uso de hidrogênio verde e bateria elétrica para voos de curta duração. O tráfego aéreo vai precisar pensar em rotas mais econômicas e as operações das companhias também precisam ser mais eficientes. Por fim, a transição energética também vai demandar programas de compensação de emissões.
“Não há dúvidas de que temos que descarbonizar, é o que vamos deixar para nossos filhos. Mas os desafios são enormes e extremamente complexos. E não apenas de custos. Mas de decisão sobre uso do solo para segurança alimentar, de tecnologia. Investimentos gigantescos são necessários e o custo de não termos uma política pública para endereçar esse tema pode ser muito mais alto”, disse o CEO da Latam, Roberto Alvo, no lançamento do estudo.
Segundo Alvo, a região tem vantagens tanto para a produção de SAF quanto para projetos de captura de carbono. “A realidade é que hoje os projetos de offset (compensação) são mais viáveis do que os projetos de SAF”, completou o CEO da Latam.
O estudo mostra que a América Latina, e o Brasil em particular, tem uma vantagem comparativa em relação ao resto do mundo para produzir o combustível de origem renovável, dada a tradição do etanol. O MIT projeta um custo do SAF no Brasil para plantas industriais maduras de US$ 0,90 a US$ 2,40 o litro do combustível. Hoje o preço do combustível fóssil de aviação é de US$ 0,70 o litro.
O estudo do MIT mostra ainda que nem todo SAF é igual. O etanol de cana-de-açúcar do Brasil ganha do etanol de milho dos EUA em termos de impacto ambiental, mas perde para alternativas que reaproveitam resíduos, como óleo de cozinha descartado, por exemplo, que tem sido uma das preferências de companhias europeias.
Ainda que centrado na América Latina, o estudo mostra como outras regiões estão enfrentando os desafios da descarbonização.
Nos EUA, por exemplo, o governo oferece um subsídio de US$ 40 bilhões em crédito tributário para reduzir o impacto inflacionário da transição energética da produção de combustível. Na Europa, as companhias aéreas estão fazendo contratos de longo prazo com produtores de SAF. O governo do Chile anunciou sua política, que envolve parcerias público-privadas, durante o evento.
Até 2030, segundo a Iata, a produção mundial de SAF deve superar a marca de 57 milhões toneladas, sendo que deste total, 2,74 milhões de toneladas serão produzidos na América Latina.
“A não descarbonização não é uma opção. As companhias que não resolverem o problema das emissões podem ser banidas de alguns países no futuro”, disse o diretor da Airbus para a América Latina, Arturo Barreira.
Fonte: O Globo
Clique AQUI, entre no nosso canal do WhatsApp para receber as principais notícias do mundo agro.