Muitas usinas sucroenergéticas buscam aproveitar subprodutos de seus processos para obter novas receitas, usando vinhaça para produzir fertilizantes e biogás, por exemplo, ou a biomassa para produzir etanol e energia. Mas nenhuma havia explorado o mercado de gás carbônico industrial como faz agora a Cocal.
A empresa começou a operar a planta de gás carbônico “food-grade” em seu parque de Narandiba (SP) em março, e recentemente alcançou ritmo que permite garantir entregas ao mercado. A companhia investiu R$ 25 milhões na unidade, erguida em 18 meses.
A aposta no gás carbônico “food-grade”, muito usado em indústrias de refrigerantes e cervejarias, só foi possível porque a Cocal já tem uma planta de biometano. Em uma usina de cana convencional, só se obtém o gás carbônico no período de cerca de oito meses em que ocorre a moagem de cana, já que ele resulta do processo de fermentação da sacarose para a produção de etanol.
Mas, na planta anexa de biometano que a Cocal construiu, também há emissão de gás carbônico no processo de transformação do biogás. Com isso, a operação pode se estender por todos os meses do ano, já que a empresa armazena torta de filtro (resíduo da usina) para que a biodigestão em biogás também ocorra na entressafra da cana.
Segundo André Gustavo Alves da Silva, diretor comercial e de novos produtos da Cocal, para entrar no mercado de gás carbônico “food-grade”, é fundamental assegurar o suprimento ao longo do ano, o que não seria possível se a empresa aproveitasse apenas o CO2 de sua usina de etanol. “Nesse mercado, a garantia de suprimento é tão importante quanto preço”, diz.
“Diferencial de sustentabilidade”
Hoje, uma das maiores fornecedoras de gás carbônico liquefeito “food grade” é a gigante de fertilizantes norueguesa Yara, que extrai o CO2 a partir da amônia, produzida por sua vez a partir de gás natural. Silva acredita que o fato de a Cocal produzir o gás carbônico a partir de uma planta como a cana, e não de uma matéria-prima de origem fóssil, pode atrair clientes que buscam um “diferencial de sustentabilidade” no produto.
A expectativa é que a capacidade atual da planta garanta à empresa uma participação de mercado de 3% a 5%. A planta da Cocal tem capacidade de processar 48 toneladas de CO2 por dia, ou 16 mil toneladas ao ano. Desde maio, a planta já está operando em sua capacidade máxima.
É importante ressaltar que a captura do gás carbônico para venda a outra indústria não significa que esse gás deixará de ser emitido na atmosfera. A diferença é que, se hoje o gás carbônico é emitido no processo industrial de uma usina comum, aumentando a pegada de carbono no escopo 1 de emissões (relativo à produção), no caso da Cocal, esse gás passará a ser emitido apenas no consumo, migrando a pegada para o escopo 3 de emissões (relacionada à cadeia de produção).
Porém, Silva afirma que, quando uma indústria alimentícia substitui o gás carbônico “food-grade” de origem fóssil por um de origem vegetal, há comparativamente redução da pegada de carbono, já que, no primeiro caso, há emissões de gases de efeito estufa para a queima dos derivados fósseis e produção da amônia.
A Cocal já está com dois contratos comerciais em negociação, incluindo com uma grande indústria de bebidas. Silva diz que o produto está atraindo clientes de várias regiões que buscam um produto “verde”. O plano da Cocal é acertar vendas tanto em contratos de longo prazo, de cinco anos, garantindo a entrega e o armazenamento do produto nos pátios das indústrias dos clientes, como no mercado físico. A expectativa da empresa é que o investimento se pague em três a cinco anos.
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