Renúncia do ex-ministro Martin Guzmán gerou temores de uma mudança para políticas mais populistas e gastos estatais no país
A nova ministra da Economia da Argentina, Silvina Batakis, tomou posse nesta segunda-feira (4) e rapidamente se moveu para acalmar os que caíram após a renúncia, no sábado (2), de seu antecessor, Martin Guzmán.
A saída do então ministro gerou temores de que se desencadeasse uma mudança para políticas mais populistas e gastos estatais no país.
O peso do mercado paralelo, observado de perto, caiu cerca de 8%, à medida que as pessoas se aglomeravam nos populares mercados de câmbio paralelos para comprar dólares após a saída abrupta de Guzmán.
Batakis, uma funcionária pública de carreira amplamente vista como próximo da extrema esquerda da coalizão peronista governista que quer aumentar os gastos, imediatamente prometeu contenção fiscal.
“Acredito no equilíbrio fiscal e acho que temos que caminhar nessa direção”, disse ela em seus primeiros comentários.
Nesta segunda-feira (4), o peso no mercado paralelo caiu para 260 por dólar, mais do dobro da taxa de câmbio oficial de 126 pesos por dólar, protegida por controles de capital. O índice de ações S&P Merval da Argentina caiu 1% e os títulos perderam 0,8% em negociações fracas devido ao feriado de 4 de julho nos Estados Unidos.
A saída de Guzmán destacou divisões no governo, foi um golpe para o presidente Alberto Fernández antes das eleições de 2023 e alimentou os temores dos investidores de que o governo gastaria mais para aliviar os altos níveis de pobreza.
Guzmán foi o arquiteto de um acordo de US$ 44 bilhões fechado este ano com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que veio com metas econômicas, incluindo equilíbrio fiscal e inflação. Os mercados o viam como uma influência moderadora no governo.
O Citi emitiu uma nota dizendo que os primeiros comentários de Batakis seriam fundamentais para avaliar o quão acentuada uma guinada esperar na política, acrescentando que qualquer mudança em direção ao controle de preços e outras restrições cambiais poderiam levar o país ao “populismo” econômico.
Então, “a deterioração do sentimento e das condições de mercado que vem ocorrendo nas últimas semanas pode acelerar”, acrescentou o banco.
Os investidores temem que uma política econômica muito mais flexível possa ser definida à medida que a ala populista do governo da vice-presidente Cristina Fernández de Kirchner ganha terreno.
“O conflito virou o campo a favor de Cristina, que está concentrando o poder novamente”, disse à Reuters o analista político Ricardo Rouvier, referindo-se a ex-presidente que comandou o país durante dois mandatos.
A consultoria local Portfolio Personal Inversiones disse que Batakis provavelmente seria guiada, em grande parte, pelos “kirchneristas” e o Citi disse que Batakis não criaria a mesma “força de equilíbrio” que Guzmán criou.
“Esta é, sem dúvida, uma mudança para políticas menos ortodoxas”, escreveu o economista do Morgan Stanley, Fernando Sedano.
A porta-voz presidencial Gabriela Cerruti disse à rádio local que “não haverá modificações” sob Batakis
“A direção econômica está garantida. As metas (com o FMI) para o primeiro trimestre foram totalmente cumpridas. Agora Silvina tem que sentar e assumir o ministério e elaborar seu próprio esquema operacional”, disse Cerruti.
O país sul-americano tem taxas de câmbio amplamente divergentes devido aos rígidos controles cambiais que limitam as compras em dólares a apenas US$ 200 por mês, empurrando as pessoas para mercados paralelos e informais, onde os dólares cobram prêmios muito mais altos.
Os controles cambiais em vigor desde 2019 mantiveram a taxa de câmbio oficial do peso em um caminho de enfraquecimento lento, mas a lacuna para os mercados paralelos populares tornou-se cada vez mais ampla devido a crises econômicas, inflação alta e temores de dívida.
Fonte: CNN Brasil