Depois de sete meses, o dólar operou na maior parte desta quinta-feira abaixo dos R$ 5 reais. Fechou a R$ 5,04 — recuo de 0,30% em relação ao fechamento de quarta-feira.
O comportamento do câmbio é sempre imprevisível. Quem se acha capaz de definir seu movimento futuro está sujeito a quebrar a cara. Mas isso não impede avaliações.
A reação imediata do mercado teve a ver com o chamado efeito Fed, conjugado com o efeito Copom. O Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos surpreendeu os analistas ao aumentar os juros básicos (Fed Funds) nos Estados Unidos em apenas 0,25 ponto porcentual, para a faixa entre 4,50% e 4,75% ao ano. E indicou que a desaceleração deve ser a tônica do seu movimento monetário. Ou seja, indicou que o dólar pode começar a perder valor em relação a outras moedas fortes. O mercado apenas tentou antecipar-se.
O efeito Copom, por sua vez, foi a demonstração de firmeza dada pelo nosso Banco Central, de que, apesar das pressões do presidente Lula, o Copom seguirá com o aperto monetário (juros altos) para empurrar a inflação para dentro da meta, que neste ano é de 3,25% e em 2024, de 3,00%, com margens de tolerância de até 1,5 ponto porcentual. As últimas projeções do Boletim Focus indicam novo estouro da meta em 2023.
Mas há outros fatores que podem estar ajudando a derrubar o dólar em reais. Um deles é a impressão geral de que a recessão mundial prevista para este ano pode não ser tão acirrada quanto se imaginava há alguns meses. A China saiu do regime de isolamento social imposto pela política covid zero. O inverno não está tão forte no Hemisfério Norte, o que indica mais consumo e mais produção.
A própria desaceleração da alta dos juros iniciada pelo Fed é, também, indicação de recessão mais branda nos Estados Unidos.
A principal consequência disso poderá ser o maior consumo de commodities (alimentos e minérios), o que beneficiaria as exportações brasileiras, que podem compensar com maior tonelagem certa quebra de faturamento pela valorização do real. Ou seja, podem entrar mais dólares, não só por mais investimentos, dados como certos, como também pela balança comercial. Se isso se confirmar, uma das consequências será menos inflação, a partir da redução dos preços dos importados, especialmente os do petróleo. E, nisso, o presidente Lula poderá dar-se conta do quanto vale a firmeza do Banco Central na condução da política de juros.
Mas atenção: o câmbio é preço sensível a lambanças na política econômica. Se o governo insistir por atalhos parecidos com os da Nova Matriz Econômica da presidente Dilma, o câmbio voltará a empinar.
Celso Ming
Comentarista de Economia do jornal O Estado de São Paulo
Fonte: O Estado de S. Paulo
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