O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, que assumiu o cargo na quinta-feira (26), poderá ser testado a curto prazo sobre um tema sempre delicado na estatal, o reajuste dos combustíveis. A pressão vem de dois lados: no mercado doméstico, existe a perspectiva do fim da desoneração dos impostos federais sobre o setor. No cenário externo, novas sanções da União Europeia à Rússia, previstas para o começo de fevereiro, tendem a restringir a oferta de derivados de petróleo, o que pode contribuir para uma alta das cotações. O que deve ajudar Prates a adiar decisões sobre preços, dizem analistas, é a desaceleração da economia mundial e a queda do dólar frente ao real.
Prates assumiu a Petrobras dias depois de a empresa reajustar a gasolina em 7,47% nas refinarias. Havia mais de sete meses que a estatal não aumentava o produto. No diesel, há dúvidas no mercado se também haverá reajustes. A última mudança nos preços foi em 6 de dezembro, quando a estatal reduziu em 8,91% o litro do derivado.
Segundo fontes, a companhia continua a seguir a política de paridade de importação (PPI) e nada mudou, por enquanto. O PPI, em vigor desde 2016, foi alvo de críticas de integrantes do governo Lula na campanha eleitoral. Na segunda-feira (30), no primeiro evento público já no cargo, Prates disse que o preço dos combustíveis é “assunto de governo”.
Tendência é de alta nos preços do diesel no mercado internacional, com novas sanções da Europa à Rússia
Decisões sobre preços dos combustíveis na Petrobras são tomadas pelo presidente da companhia em conjunto com o diretor de comercialização e logística e com o diretor financeiro e de relacionamento com investidores. A composição da diretoria e do conselho ainda segue a mesma da gestão anterior [ver Nomes para diretoria e conselho serão definidos esta semana].
Especialistas dizem que a tendência é de alta nos preços dos combustíveis no mercado internacional, sobretudo do diesel, com a entrada em vigor, em 5 de fevereiro, das sanções europeias aos derivados russos. O aperto das sanções ocorre no mês em que a invasão da Rússia à Ucrânia completa um ano.
O movimento de alta nas cotações dos derivados pode, no entanto, ser compensado pela tendência de desaceleração da economia global, diz Bruno Cordeiro, analista de petróleo e gás da StoneX. No Brasil, ainda há a possibilidade de que a queda do dólar ajude a compensar a alta do preço internacional dos combustíveis.
“Há uma tendência de reorganização da logística global com as novas sanções. A Europa demanda muitos combustíveis da Rússia e isso provavelmente vai se direcionar para outros mercados, como a Ásia e o Oriente Médio. A tendência é de alta nos preços. No entanto, há a questão de como vai se comportar a demanda com a tendência de desaceleração da economia. De um lado, há uma pressão sobre a oferta global e, de outro, uma preocupação com a economia”, diz Cordeiro.
Nos cálculos da StoneX, na sexta-feira (27) a Petrobras vendia diesel no mercado nacional acima do preço de paridade internacional e havia espaço para um corte de R$ 0,24 no litro. A visão é diferente da estimativa do Centro Brasileiro de Infraestrutura e Energia (Cbie), que apontava ontem defasagem R$ 0,08 no litro do diesel em comparação com o mercado externo, o que indicaria necessidade de alta de 1,74% nas refinarias da Petrobras. Para a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), ontem pela manhã o diesel da estatal estava R$ 0,05, em média, acima da paridade.
O barril de petróleo tipo Brent, principal referência internacional, fechou ontem a US$ 84,90, queda de 2,03% sobre sexta-feira. Nos últimos meses, a diretoria da Petrobras tem indicado que aguarda mudanças estruturais para realizar repasses de preços e que evita reajustes de volatilidades conjunturais: “Acredito que a interrupção do fluxo de combustíveis russos para a União Europeia é uma mudança estrutural do mercado, os países vão ter que se readaptar”, diz Cordeiro, da StoneX.
Para o diretor-executivo de refino da consultoria S&P Global Commodity Insights, Hedi Grati, outras questões que podem influenciar os preços internacionais do diesel nos próximos meses são o clima no hemisfério norte e a capacidade de produção de derivados na China.
“Temperaturas mais amenas em fevereiro e março, junto com uma atividade econômica relativamente fraca e mais exportações chinesas de diesel, podem afrouxar os mercados e pressionar a queda nos preços. Entretanto, a combinação contrária, de um rápido crescimento econômico e queda nos preços do gás, com novos picos de frio e forte demanda chinesa, poderia contribuir para o caos nas primeiras semanas e meses do embargo, elevando ainda mais os preços dos combustíveis”, diz Grati.
Tiago Sbardelotto, economista da XP Investimentos, avalia que futuras pressões de preços devem sofrer mais o impacto da tributação federal. Ele não vê grandes variações de preços do petróleo nos próximos meses. “A decisão de restringir importação de petróleo da Rússia nos parece estar precificada pelo mercado”, disse Sbardelotto.
Ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), David Zylberstajn diz que uma alta de preços resultante do fim da desoneração de impostos é algo previsível e qualquer solução a ser tomada será impopular. Ele ressaltou que as medidas do expresidente Jair Bolsonaro para segurar os preços dos combustíveis seriam um “estelionato eleitoral” caso fosse reeleito. “Não se corta impostos de uma hora para a outra”, diz.
Zylberstajn também não acredita que seria uma boa medida a criação de um fundo de estabilização de combustíveis, alternativa defendida pelo atual CEO da Petrobras, porque o problema não é exclusivo da empresa. Além disso, explicou, combustíveis são commodities, assim como soja e trigo, que também têm preços atrelados ao mercado internacional. “Quem paga essa conta? Por que fazer um fundo para combustíveis e não para outros segmentos? Distorções nunca acabam bem”, afirma.
Fonte: Valor Econômico
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