É frequente o debate entre produzir e preservar o meio ambiente, narrado quase sempre como sendo antagônicos, ou seja, na luz das discussões não seria possível ao mesmo tempo produzir e preservar (ou pelo menos respeitar) os recursos naturais.
Toda forma de produção gera algum impacto por menor que ele seja, e nesse ponto é certo que o agronegócio receba boa parte das atenções e questionamentos já que a sua atuação ocorre em relação direta com a natureza e seus recursos. Mas também é fato que o mercado consumidor mudou muito, tem exigido cada vez mais dos produtores e não aceita mais algumas práticas consideradas normais no passado. Uma parte mais específica desse mercado está disposta a pagar um preço diferenciado em um produto que garanta suas origens harmônicas e em sintonia com o ambiente, ou seja, percebem que existe valor em um produto com essas características.
Na economia, se alguém está disposto a comprar encontrará alguém disposto a vender, mas não é disso que estamos falando aqui. Produzir alimentos com respeito ao meio ambiente não deveria ter como único objetivo atender a um nicho de mercado específico e disposto a pagar por isso. Nós, seres humanos, somos muitos e precisamos nos alimentar. Dados da FAO indicam uma escalada assustadora da fome no mundo e produzir alimentos com qualidade, em quantidade adequada e distribuí-los com custos acessíveis é uma grande questão. Considerando que voltar a caçar e coletar alimentos não é uma alternativa viável, o desafio está em encontrar novos caminhos que minimizem os impactos da cadeia sem sacrificar a produtividade. Para tanto, é preciso investimentos em pesquisas que são complexas, demoradas e nem sempre alcançam no curto prazo o resultado desejado, mas é possível!
Motivo de orgulho para o Brasil, um dos mais bem sucedidos programas de controle biológico do mundo, e que ainda hoje é utilizado em nossas lavouras: o controle da “broca da cana-de-açúcar” (Diatrea saccharallis) por uma minúscula vespa, a Cotesia flavipes. As pesquisas começaram no ano 1973, contemporâneas à Conferência de Estocolmo, e se intensificaram com a criação de um centro de pesquisas do IAA/PLANALSUCAR onde hoje funciona o Centro de Ciências Agrárias, campus da Universidade Federal de São Carlos, no município de Araras, interior de São Paulo. Utilizada em escala comercial a muitos anos, passou pelo entendimento e desenvolvimento de técnicas de multiplicação desta praga, já que o seu predador é um parasito obrigatório, ou seja, depende da praga para cumprir o seu ciclo de vida.
Vários outros casos ilustram esse álbum, como a descoberta de fungos e bactérias e a adoção de diferentes técnicas de produção que tem trazido excelentes resultados.
Nosso agro é forte, a nossa pesquisa competente e o brasileiro criativo por natureza. Juntos podemos mostrar que uma produção economicamente viável, em escala e com respeito ao ambiente é mais que possível, é a nossa vocação.
Rodrigo Amoroso