Muito além do melhoramento genético, projeto redefiniu a maneira como olhamos para a cana-de-açúcar no Brasil e no mundo
Em 2024, o Programa Cana IAC, do Instituto Agronômico, comemora 30 anos de contribuições significativas para o setor bioenergético. Fundado com o propósito de ser uma iniciativa multidisciplinar, o projeto é reconhecido por ir além do melhoramento genético, abrangendo também áreas como nutrição, resistência a doenças e pragas, fisiologia da cultura da cana, análise climática e muito mais, sendo um dos grandes responsáveis por redefinir a maneira como olhamos para a cana-de-açúcar no Brasil e no mundo.
A cerimônia de comemoração dos 30 anos do Programa será realizada juntamente com a entrega do Prêmio + IAC, no dia 8 de março, das 8h às 14h, em Ribeirão Preto-SP. O evento é exclusivo para as empresas conveniadas ao Procana IAC. A premiação homenageia pessoas físicas ou jurídicas que, na área agrícola, destacaram-se pela contribuição nas esferas científicas e tecnológicas ou em atividades práticas que propiciem o desenvolvimento da agricultura sustentável, a melhoria da renda do agricultor e do agronegócio paulista.
Sobre o Programa Cana IAC, ele se destaca por ser responsável por 35 variedades de cana, das quais 34 são destinadas ao setor bioenergético e uma para fins forrageiros, contribuindo significativamente para a produtividade e qualidade dessa cultura no Brasil. A eficácia do manejo pelo critério da Matriz de Ambientes do Programa Cana IAC resulta em um aumento de 30% na produtividade, enquanto o Prevclimacana IAC alcança aproximadamente 90% de acertos na estimativa de safra.
Esses resultados, somados à credibilidade conquistada ao longo dos anos, refletem-se na parceria com 200 empresas em todo o país, 600 experimentos realizados em 11 estados e na abrangência de 500 mil quilômetros rodados anualmente para atividades de experimentos e transferência de pacotes tecnológicos, sem contar os mais de 6 mil visitantes anuais que reforçam a importância e o impacto do Programa Cana IAC na transferência de tecnologias e no desenvolvimento do setor bioenergético brasileiro.
“Essa composição de trabalhos fez com que o programa de melhoramento genético sofresse uma grande influência e fizesse com que as variedades, quando produzidas, fossem caracterizadas para essas diversas áreas, permitindo aos produtores utilizarem-nas de forma mais específica e, com isso, obterem melhores resultados“, explica o coordenador do programa e diretor-geral do IAC, Marcos Guimarães de Andrade Landell.
“São programas como esse que fazem do Brasil a potência bioenergética que é. A tecnologia científica nos surpreende a cada dia, na medida que vamos descobrindo novas variedades, possibilidades e horizontes. Não só o Programa Cana como também todo o IAC se apresenta como um verdadeiro fenômeno brasileiro. Estamos falando de um dos berços das mentes responsáveis por fazer do setor o grande motor na busca por um futuro sustentável, inovador e de economia forte. Meus cumprimentos ao querido Marcos Landell e a todos do IAC”, ressalta Alex Ramos, presidente da Visão Agro.
Décadas de excelência
O Programa Cana foi apresentado em 1994 como uma proposta de cooperação entre empresas do setor, o IAC e a Fundação de Apoio à Pesquisa Agrícola. Sua excelência sempre foi sustentada por uma equipe de pesquisadores e técnicos altamente qualificados, apoiados por infraestrutura de ponta, incluindo a Estação de Hibridação na Bahia que, em 2024, completa 15 anos de operação.
“A importância de uma estrutura como essa é essencial; ela é a base, é o início do processo de desenvolvimento de uma nova variedade. A estação de hibridação é onde são realizados os cruzamentos, a hibridação da cana-de-açúcar. É lá que mantemos nossas coleções de trabalho e cana-de-açúcar, e com essas coleções, é possível estabelecer as hibridações e, a partir delas, produzir semente de cana, no caso, a semente verdadeira que é uma cariopse“, ressalta o pesquisador do IAC e coordenador da área de melhoramento genético da cana-de-açúcar, Mauro Xavier.
Além da estação, o Programa conta também com o sistema de multiplicação de MPB (Mudas Pré-brotadas) para a transferência do ganho genético para as áreas de produção de Cana-de-açúcar. “É um sistema que rapidamente incorpora essas novas variedades na área de produção de cana-de-açúcar, dando oportunidade para que os produtores tenham um produto do melhoramento, ou seja, as variedades melhoradas com alto potencial de produção. Portanto, o sistema de multiplicação MPB tem como principal objetivo ser um sistema que permita ao produtor de cana-de-açúcar acessar rapidamente os produtos do melhoramento da cana-de-açúcar”, afirma Xavier.
Matriz do Terceiro Eixo
Uma das tecnologias mais importantes desenvolvidas pelo Programa Cana é a Matriz do Terceiro Eixo, um manejo que combina inovação e modernidade para proteger os canaviais contra adversidades climáticas, como déficits hídricos elevados. Essa abordagem tem impulsionado a produtividade e a qualidade, gerando resultados excepcionais para as empresas que a implementaram. No âmbito das variedades, destaca-se o reconhecimento para as empresas que adotam características como porte ereto e autoperfilamento.
“Quando produzidas, elas são caracterizadas para essas diversas áreas, permitindo aos produtores utilizarem-nas de forma mais específica e, com isso, obter melhores resultados. Se pegarmos as cinco variedades de todos os programas de melhoramento que temos aqui no Brasil, veremos que as mais eretas serão as IAC“, conclui Landell.
O início
A regionalização do melhoramento genético da cana começou com o pesquisador Raphael Alvarez, no final da década de 80, período em que os programas da Planalsucar e da Copersucar recuaram. Esse cenário proporcionou o reposicionamento do programa do IAC. Fez-se a extinção da forma administrativa de seção e o programa foi incorporado à antiga Divisão de Estações Experimentais do IAC, que reunia todas as fazendas do Instituto no estado de São Paulo. Essa reforma aumentou a interface das pesquisas com a agroindústria sucroenergética de forma descentralizada na época. Nascia ali o Programa Cana IAC.
Em outubro de 1994, era oficialmente criado o ProCana: um convênio de cooperação entre o IAC, agroindústrias do açúcar e do álcool e a Fundação de Apoio à Pesquisa Agrícola (Fundag). O projeto principal é o melhoramento genético visando variedades de cana mais produtivas, com maior teor de açúcar e outras características de interesse econômico. Projetos da área de fitotecnia interagem com estudos em fisiologia, fitopatologia, entomologia, pedologia, fertilidade, adubação, climatologia e matologia.
O Programa Cana IAC é configurado com uma rede, em que a relação dos pesquisadores é horizontal e não hierárquica e as atividades são coordenadas de forma consensual e participativa. Mesmo não trabalhando no mesmo local, os cientistas e técnicos estão sempre em contato, conforme a programação e a disciplina de trabalho definidas em conjunto. Participam do Programa equipes do IAC e da APTA Regional de Piracicaba.
A partir dos seedlings produzidos na Estação de Hibridação na Bahia, as sementes desses cruzamentos compõem experimentos de campo em diversas regiões do Brasil. Após anos de seleção, os clones promissores são cultivados em experimentos regionais nas usinas conveniadas. Após mais alguns anos, são novamente testados também nessas usinas parceiras em diversos estados. O desenvolvimento de variedades ocorre em ciclos mínimos de oito anos, incluindo as seleções locais, regionais e estaduais. A cada ano tem início um novo ciclo.
Referência mundial
Atualmente, o Programa é referência e exemplo para os países interessados na viabilização da canavicultura sustentável. Ele é desenvolvido com apoio de agências de fomento estaduais e federais e parcerias com a iniciativa privada.
“O Programa Cana IAC é um exemplo notável de como a ciência e a inovação podem transformar uma indústria inteira. Ao completar 30 anos, ele não apenas redefiniu a maneira como olhamos para a cana-de-açúcar, mas também se tornou um pilar fundamental para o desenvolvimento do Brasil como potência bioenergética. Parabenizamos o Instituto Agronômico por essa conquista e agradecemos por seu compromisso contínuo com a excelência e a sustentabilidade”, conclui Alexandre Ramos (Mahal), CEO da Visão Agro.
Por: Fábio Palaveri – Visão Agro
Assista abaixo o vídeo de comemoração aos 30 anos do Programa Cana:
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