Iniciativa visa desenvolver biodefensivos sustentáveis e eficazes para enfrentar o desafio das plantas daninhas na agricultura brasileira
As plantas daninhas representam um desafio significativo para a agricultura no Brasil, ocasionando perdas consideráveis na produção agrícola. Essas plantas competem com as culturas por recursos essenciais como água, nutrientes, luz e espaço, além de funcionarem como hospedeiras de pragas e doenças. Elas também liberam substâncias tóxicas no solo, inibindo o crescimento saudável das plantas cultivadas. A resistência crescente de muitas espécies a herbicidas comerciais agrava ainda mais o problema, tornando o controle das daninhas uma tarefa cada vez mais complexa.
Visando enfrentar esse desafio de maneira eficiente e sustentável, um projeto de pesquisa em rede reúne cientistas de cinco universidades federais: São Carlos (UFSCar), Santa Catarina (UFSC), Fluminense (UFF), Rio de Janeiro (UFRJ) e Goiás (UFG). O objetivo é desenvolver novos produtos e processos para o controle fitossanitário, com foco em biodefensivos. Estes produtos naturais ou derivados de fontes naturais, como plantas, microrganismos (fungos e bactérias), minerais e animais, oferecem uma abordagem ecológica que é menos prejudicial à saúde humana e ao meio ambiente em comparação com os defensivos químicos tradicionais.
A coordenação do projeto está a cargo de Márcio Weber Paixão, professor do Departamento de Química (DQ) da UFSCar, que é a instituição-sede da iniciativa. Paixão destaca que, atualmente, o Brasil possui cerca de 800 herbicidas registrados, dos quais pelo menos 50 enfrentam resistência por parte das plantas daninhas. “Além disso, muitos desses herbicidas têm impactos ambientais adversos, como a contaminação de rios, solos e ar, além de riscos para a saúde humana e efeitos negativos sobre a fauna e flora. O projeto visa superar esses problemas”, explica Paixão.
Os pesquisadores irão sintetizar e avaliar a atividade herbicida de compostos inibidores da enzima 4-hidroxifenilpiruvato dioxigenase (HPPD), conhecidos por interromper a produção de pigmentos essenciais para a fotossíntese, resultando na morte das plantas daninhas. Esses compostos são promissores devido à sua alta seletividade, que permite eliminar ou inibir as plantas daninhas sem prejudicar significativamente as culturas agrícolas desejadas.
A obtenção desses compostos será realizada a partir de fontes renováveis, como resíduos de madeira e cana-de-açúcar. “O objetivo é utilizar moléculas derivadas da biomassa lignocelulósica, que é menos tóxica para as culturas agrícolas”, detalha Paixão. A biomassa lignocelulósica, composta principalmente por lignina e celulose, pode ser extraída de resíduos agrícolas (como palha de cana-de-açúcar e restos de milho), resíduos florestais (como serragem e resíduos de madeira) e plantas. Esta fonte sustentável é frequentemente utilizada nas indústrias de energia, química e farmacêutica, substituindo recursos não renováveis como o petróleo e aproveitando resíduos que, de outra forma, seriam descartados.
Após a síntese dos compostos, o projeto incluirá testes de germinação para avaliar sua eficácia, seguidos de sua introdução no mercado. Esses testes verificarão a seletividade dos compostos em relação a culturas como soja, milho, cana-de-açúcar, arroz e feijão. “Ao identificarmos os compostos mais eficazes, teremos produtos capazes de combater as plantas daninhas sem afetar as culturas, promovendo novos mecanismos de ação com foco na sustentabilidade”, afirma Maria Isabel Ribeiro Alves, professora na UFG e membro do projeto.
O estudo está alinhado com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030, especialmente o ODS2 – Fome Zero e Agricultura Sustentável. A colaboração entre cientistas de diferentes universidades federais fortalece a pesquisa, permitindo uma abordagem interdisciplinar e o intercâmbio de experiências que contribuem para soluções inovadoras no controle de plantas daninhas na agricultura brasileira.
O projeto é financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), por meio da Chamada Pública MCTI/CNPq/CT-AGRO Nº 32/2022, e tem uma duração prevista de três anos.
Fonte: Portal do Agronegócio
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