Parece jornal velho, mas, incontestavelmente, a transformação digital veio para ficar. E não precisamos ir longe para identificar que silenciosamente muitas coisas que estávamos acostumados desapareceram, foram trocadas por itens de tecnologia de toda sorte.
Nos transportes coletivos, sumiram os “passes e o dinheiro vivo”; nos bancos, as agências se tornaram boutiques financeiras; na comunicação, não me lembro a última vez que usei um telefone fixo; meu ramal sobre a mesa, agoniza há tempos. Compras on-line estão inseridas na nossa rotina: pagamentos de estacionamentos, de combustíveis e pedágios são realizadas por meio de aplicativos.
Os chatboots – com suas api?´s – revolucionaram a forma de nos comunicarmos e pedirmos serviços, com dados cada vez mais trabalhados, a fim de oferecer produtos e soluções de acordo com o gosto e o momento mais oportuno para o cliente; robôs, já em operação, realizam atividades antes inimagináveis; e aplicativos de todo o tipo mudam a forma de relacionamento em todos os setores.
Poderíamos ir longe nesta longa lista ao citar como outros tantos itens foram e estão sendo desmaterializados pela transformação digital. Aqui, no entanto, quero aprofundar um pouco mais no que vem acontecendo com o Agro.
Hoje, temos equipamentos fantasticamente preparados para serem autônomos, temos ótimos exemplos: tratores capazes de executar tarefas guiadas por GPS, sem a necessidade de um piloto; pivôs de irrigação acionados à distância, por internet, ou quando monitores de umidade de solo indicarem alguma descompensação hídrica por sensoriamento.
Enquanto isso, do alto, é possível o mapeamento das áreas de plantios por imagens fornecidas por drones ou satélites que permitem a uma central de controle identificar como estão se desenvolvendo as culturas, se estão plantadas em linhas perfeitas ou se apresentam falhas de plantios e precisam ser refeitas para melhor aproveitamento do solo, ou ainda se estão sendo infestadas por pragas e precisam ser combatidas. São estações climáticas conectadas a softwares que podem fornecer ao agricultor a precisa informação sobre as condições climáticas da região, e estes dados históricos coletados, combinados por IA, com dados do plantio e previsões climáticas, podem antecipar para ele que tipo de planta e ou insumos agrícolas usar para resultar no melhor rendimento.
Na central administrativa da produção agrícola, poderosas plataformas podem garantir um fluxo contínuo de colheita, assim como a correta alimentação da fábrica, de forma que os equipamentos em campo (colhedoras, transbordos, caminhões) estejam disponíveis no momento correto e que a colheita seja feita no momento ideal.
Aplicativos conectados vão garantir ao trabalhador do campo, muitas vezes em áreas distantes dos polos administrativos, toda a assistência on-line que precisa para desempenhar suas atividades.
Com certeza, isso já é uma realidade e, com maior ou menor intensidade, já vem ocorrendo em muitas propriedades rurais no Brasil, rendendo ao agro brasileiro prêmios e prêmios de produtividade.
No caso da Usina Coruripe, começamos, em 2021, um projeto de transformação digital para que pudéssemos contribuir com a melhora de nossa eficiência operacional, melhor experiência para os colaboradores e parceiros, e consequentemente, trazer mais retorno para nossos acionistas.
Iniciamos, primeiramente, ao projetar para o futuro como TI, uma espécie de arquitetura de referência, como deveria estar organizada, quer seja em times e processos, governança e controles, para responder de uma forma mais ágil e estratégica às demandas internas das áreas de negócio e demandas externas como os direcionamento para adoção de novas tecnologias.
Em paralelo, alinhado ao projeto de revisão de mapa estratégico e processos Kaizen que também aconteciam, criamos um projeto de “jornada digital” – denominado Conecta, para dar início às discussões detalhadas com as diretorias sobre as oportunidades de digitalização com vista a melhora dos controles e processos. De forma sincronizada, fizemos um profundo assessment e reflexão sobre nossa própria arquitetura de sistemas e infra, e mapeamos muitas oportunidades de modernização tecnológica.
Como resultado da primeira fase da Jornada Conecta, além da mensagem dada aos colaboradores sobre a necessidade da digitalização, identificamos várias oportunidades e, para elas, definimos um programa de projeto a ser realizado ao longo de três anos com prioridade para as de maior retorno.
Para garantir que o time de TI pudesse se dedicar mais à estratégia, à inovação e à entrega das demandas do projeto, fizemos parcerias com provedores globais de outsourcing e transferimos para eles todo o suporte à operação de TI, suporte SAP, sustentação da Cloud, assim como, ainda em projeto a ser encerrado em 2022, a digitalização de nosso PABX e seu respectivo suporte.
Já no primeiro ano do programa, usando metodologias de captura de valor, foram implantadas algumas plataformas, já na nova arquitetura, como gestão de pátios e carregamentos, recrutamento e seleção, despesas de viagens, planejamento e orçamento headcounting, fluxo de caixa, aplicativos de aprovação, chatboot para atendimento a usuários, single sign on, e uma nova plataforma fiscal. Ainda em andamento, troca do ERP Agrícola, plataforma de ciclo de vida de contratos (CLM), digitalização da manutenção industrial e nova plataforma de abastecimento de postos e gestão de cadastros de materiais.
No campo da infraestrutura de TI, muito precisava ser feito, pois todos estes aparatos tecnológicos, em sua grande maioria, para serem aproveitados ao máximo, precisam estar conectados à internet, quer seja por via pública, por fibras ou 2 ,3 ou 4G (não vou aqui nem citar 5G), ou mesmo alguma via privada que possibilite a conexão. Infelizmente, é neste ponto que a fragilidade da infraestrutura tecnológica no Brasil ficou exposta, pois somente 14% das áreas no Brasil atualmente são cobertas por sinal de telefonia 3G ou 4G e estas áreas estão concentradas em grandes cidades.
Com referência às áreas externas da Usina, em razão de grandes extensões de terras e baixa concentração demográfica nas áreas de plantio – e consequente baixo retorno financeiro recorrente para as operadoras de telefonia, tornou-se difícil a criação de uma rede pública para prover internet que conseguisse atender aos interesses das propriedades e dar o retorno financeiro aguardado pelas operadoras, a conta não fecha para os dois lados (investimentos altos x receita recorrente para as operadoras).
Como consequência, os times de tecnologias do Agro fazem, em sentido não literal, “chover” para que sinais de internet possam chegar, ainda que de forma limitada, aos pontos de interesse.
É uma operadora pequena de internet local que é acionada; é um enlace de rádio que é estabelecido; são fibras que cortam o campo; são serviços ainda caros de internet para contingência como os “satelitais”.
Frente a estes desafios, depois de muitos estudos, inclusive com operadoras, e projeto de orçamento caríssimos, recorremos a tecnologias de WI-FI, em redes de baixa frequência LTE?´s. Fizemos algumas parcerias e com menos de 10% dos investimentos cobrados por operadoras, conseguimos irradiar o sinal de internet por quase 80.000 hectares.
A rede, já em operação, ainda em estado de expansão, tem suportado bem as demandas. Foram conectados aplicativos de operação, aplicativos de comunicação, áreas de vivências para os trabalhadores, pivôs de irrigação, e em curso estão a conexão dos tratores e demais equipamentos em campo, assim como o IOT no campo para controle e acionamento de equipamentos de forma remota, como sistemas de gotejamento e bombas de captação.
Outro passo importante em curso é a criação de um centro de controle agrícola que vai monitorar, através de dados e imagens, em tempo real, as operações em campo. Assim, a gestão da operação pode tomar as decisões no momento necessário, quer seja realocando a força e trabalho e/ou reorganizando os equipamentos em campo para melhor operação logística.
Aliados às ações de cobertura LTE, investimos nos links de comunicação, com o aumento da sua capacidade, e também na melhora dos links de contingência; investimos na melhora da cobertura de sinal WI-FI em todas as plantas para ampliar sua cobertura e estabilidade (em andamento) e, pontualmente, em ERB (estação rádio base) na planta de Campo Florido, para melhorar o sinal de 3G e 4G. Também em parceria com a operadora da região, foi feito upgrade dos rádios de comunicação, de forma a estabilizar o sinal 3G/4G e resolver áreas de sombra na unidade de Carneirinho. Em Iturama e Campo Florido, em parceira com outra operadora, ampliamos a cobertura de sinal de telefonia celular através de fento-células e wifi-calling (tecnologia que permite o recebimento e realização de ligações 3G/4G por internet).
O projeto ainda está em construção, muitos desafios ainda pela frente, mas, em pouco tempo, (1 ano e 10 meses), já é possível comemorar algumas conquistas com todo o time de tecnologia, diretores e acionistas.
Fazer com que as coisas ocorram no momento mais correto possível tem um diferencial importante para a rentabilidade do Agro e tem tudo a ver com a transformação digital.
Marcelo Jerus
Gerente da área de Tecnologia da Informação da Usina Coruripe desde dezembro de 2020. Com graduação, MBA e pós-graduação em inovação e novas tecnologias, atua no mercado de TI há 26 anos, passou por empresas Globais como Siemens, Votorantim e Alpargatas, além de consultorias e startups de tecnologia.
Fonte: Usina Coruripe
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