Uma análise da plataforma Climate Action Tracker (CAT), que rastreia a ação climática de governos, mostra que mesmo países ricos como Estados Unidos, Noruega, Canadá e Austrália continuam aumentando a produção e as exportações de petróleo, gás e carvão, enquanto despejam subsídios no setor.
Embora todos eles tenham metas de emissões líquidas zero até meados do século e estejam aportando recursos em energias renováveis e tecnologias de baixo carbono, o CAT alerta que nenhum dos maiores produtores de combustíveis fósseis do mundo se comprometeu a encerrar novos investimentos em petróleo e gás, em vez de expandi-los.
“Apenas produtores muito menores terminaram — ou se comprometeram a encerrar — a produção de petróleo e gás. Alguns governos, como a Noruega, são creditados por suas metas razoavelmente boas de redução de emissões domésticas, mas continuam com exportações massivas de petróleo e gás”.
De acordo com o levantamento, os EUA, maior produtor mundial de petróleo e gás, mais do que dobraram a produção de petróleo desde 2010 e aumentaram a de gás em 60%.
Até 2021, as exportações de O&G representaram cerca de 1,6 bilhão de toneladas de CO2 (GtCO2) de emissões. E sua produção está projetada para continuar aumentando.
A Austrália, maior exportadora mundial de GNL, projeta um crescimento de 11% na produção entre 2020 e 2030, visando exportar 88 milhões de toneladas anuais até o final da década.
A fabricação e combustão desse volume provocam emissões de cerca de 275 MtCO2 equivalente por ano, calcula o CAT.
Já as exportações de combustíveis fósseis da Noruega são cerca de dez vezes maiores do que as emissões domésticas.
“Um acordo de eliminação gradual de petróleo e gás é o que devemos ver saindo da COP28, juntamente com o acordo de uma meta global para energia renovável para permitir isso”, defende Mia Moisio, do NewClimate Institute.
Acordo que está bem longe de ocorrer. O presidente da conferência do clima da ONU deste ano, Ahmed al-Jaber, tem declarado que o encontro tem que decidir pela “eliminação gradual das emissões de combustíveis fósseis”.
Ao colocar o foco nas emissões, a pressão migra para adoção de alternativas que descarbonizem a indústria fóssil, como as tecnologias de captura e armazenamento de carbono (CCS), ao invés de acabar com todo um setor.
Ahmed al-Jaber é CEO da petroleira dos Emirados Árabes Adnoc, país que sediará, em novembro, o principal evento mundial sobre clima. E está cercado de animosidade por sua relação com o O&G.
O sultão claramente não está sozinho. O G7 — grupo dos sete países mais industrializados do mundo — adotou uma linguagem flexível em relação ao papel dos combustíveis fósseis na matriz global, especialmente considerando aspectos de segurança energética.
E a Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) aponta que óleo, gás e carvão terão lugar na matriz energética até 2050, assim como indica que será preciso acelerar o investimento em CCS.
O CAT, por outro lado, critica essa abordagem, por entender que os principais produtores de petróleo e gás estão desviando a atenção da necessidade real de reduzir pela metade as emissões de gases de efeito estufa até 2030 — o que significa reduzir a produção global de combustíveis fósseis.
“É necessária uma meta global de energia renovável mais ambiciosa (…) um valor superior a 1 TW de capacidade adicionada por ano, em média, a partir de hoje e nas próximas décadas. Isso apoiará a eliminação completa dos combustíveis fósseis no setor elétrico”, pedem os cientistas.
Transição justa? As maiores companhias petrolíferas ocidentais pagaram US$ 110 bilhões em dividendos e recompras de ações em 2022. Valor que supera a meta de US$ 100 bilhões dos países ricos que prometeram financiamento para nações emergentes fazerem sua transição, compara o CAT.
O grupo também observa que, apesar dos apelos urgentes das COPs anteriores para fortalecer as metas climáticas nacionais em 2022 e 2023, nenhum país importante o fez este ano. As estimativas de temperatura sob as metas de 2030 permanecem em 2,4°C até 2100 — a meta é 1,5°C.
Fonte: Agência epbr
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