“RenovaBio navega em mar azul”, a afirmação é do servidor Paulo Costa, que participou de forma efetiva da construção do RenovaBio – Política Nacional de Biocombustíveis e foi um dos responsáveis pela escrituração, registro e comercialização dos CBIOs na B3. Em entrevista exclusiva para a Agência UDOP de Notícias, Costa destaca a emissão, até novembro passado, de 4,3 milhões de CBIOs, 53% a mais do que no mesmo mês do ano passado, “um novo recorde de emissão”.
Segundo o servidor, especialista no tema, faltando quatro meses para o encerramento do prazo para o cumprimento das metas do ano de 2023 (que ocorrerá, excepcionalmente, em 31 de março de 2024), a quantidade de CBIOs já é suficiente para o cumprimento de todas as metas individuais dos distribuidores de combustíveis fósseis estabelecidas no Despacho ANP nº 1.319/2023.
Confira abaixo a entrevista completa de Paulo Costa, com destaque para sua visão atual da Política Nacional de Biocombustível, do papel do RenovaBio como diferencial do Brasil no processo de transição energética e qual sua visão para os preços dos CBIOs na B3.
Agência UDOP de Notícias – Como participante de boa parte do processo de construção do RenovaBio, sendo o responsável, inclusive, pela escrituração e comercialização dos CBIOs na B3, como você avalia o atual estágio da Política?
Paulo Costa – A Política Nacional de Biocombustíveis navega em mar azul. Todos os processos de definição das metas de descarbonização, certificação das Usinas, construção do lastro, emissão, registro e comercialização dos CBIOs operam como planejamos. Grande parte desse sucesso está ancorado no apoio que tivemos dos produtores e distribuidores de combustíveis, em parceria com os representantes do mercado financeiro, ANBIMA, Banco Central do Brasil e Comissão de Valores Mobiliários.
O aumento anual da quantidade de CBIOs negociados na B3 em conformidade com o aumento da meta dos distribuidores, o aumento do número de transações, a transparência das negociações da moeda ambiental, bem como, o aumento da quantidade de analistas CNPI cobrindo o mercado evidenciam essa declaração.
Agência UDOP de Notícias – O MME anunciou recentemente que foi estabelecido um novo recorde de emissão de CBIOs em novembro passado, assim, podemos concluir que a quantidade de títulos já é suficiente para o cumprimento de todas as metas individuais dos distribuidores de combustíveis fósseis?
Paulo Costa – Os produtores de biocombustíveis conseguiram antecipar em 4 meses a quantidade necessária ao cumprimento das metas do ano de 2023 (que ocorrerá, em 31 de março de 2024), ou seja, a quantidade de CBIOs já é suficiente para o cumprimento de todas as metas individuais dos distribuidores de combustíveis fósseis. Esse fato aumenta a confiança na Política e tira a tensão sobre os preços.
Agência UDOP de Notícias – A tendência natural dos preços dos CBIOs nesta época do ano, segundo sua expertise, é pela manutenção ou queda nas cotações? O adiamento das comprovações das metas pode influenciar nas cotações?
Paulo Costa – O CBIO é um ativo de grande volatilidade devido a concentração de compradores dada pelo espelhamento do mercado de distribuição de combustíveis. Com a entrada de novos atores, o peso das grandes distribuidoras de combustíveis diminui e a volatilidade tende a diminuir. Os novos atores podem ser investidores pessoa física, fundos de investimento, especuladores não residentes e grandes companhias que reconheçam no CBIO a capacidade de abater suas emissões de carbono.
Além do balanço entre a oferta e a meta de CBIOs, a data de demonstração das metas é preponderante na formação dos preços na B3. Quando anunciaram a expansão dos prazos de comprovação em 15 de julho de 2022, o preço do CBIO saiu da casa dos R$ 195/CBIO para R$ 96,51/CBIO em 5 pregões. Tal volatilidade se deu pela quebra da credibilidade e a expansão dos prazos.
Como as metas desse ano serão comprovadas em 31 de março de 2024 e o estoque no emissor está no maior patamar do ano, acredita-se que o preço não tenha grandes oscilações e a liquidez permaneça baixa.
Agência UDOP de Notícias – Mesmo a grande parte dos distribuidores já estando próximos de fecharem suas metas compulsórias para este ano, há uma parcela deles contrária aos CBIOs e, inclusive, alegando que o RenovaBio encareceu em demasia os preços do diesel e gasolina comercializados no Brasil. Qual sua percepção sobre esta argumentação?
Paulo Costa – Quando construímos o RenovaBio, identificávamos dois grandes riscos, o primeiro risco: associado a potenciais alterações equivocadas nas regras da Política. O segundo risco dado por interpretações tendenciosas dos seus impactos.
O Comitê RenovaBio, responsável pela gestão da Política, realiza simulações em modelo de sistemas dinâmicos das metas de descarbonização e o seu impacto nos preços dos combustíveis fósseis. O modelo efetua a simulação de 2.000 cenários possíveis para computar o impacto econômico do CBIO no preço dos combustíveis (Gasolina C e Diesel) para o ano corrente, ou seja, para o cumprimento das metas do RenovaBio. Em leitura às atas do Comitê divulgadas na internet, o impacto é bem pequeno.
Agência UDOP de Notícias – Podemos dizer que o Brasil possui um diferencial positivo em termos de sustentabilidade, por conta do RenovaBio, nesse momento de transição energética tão necessária em todo o mundo?
Paulo Costa – O RenovaBio é o mercado de carbono regulado que deu certo. A Política Nacional de Biocombustíveis deve ser espelhada para os demais mercados pelo mundo. Apresenta boa governança e credibilidade.
Nas negociações internacionais, além do biocombustível, etanol, biodiesel, SAF e biometano, os negociadores devem dar ênfase ao CBIO. A moeda ambiental é facilmente negociada no balcão da B3, tem boa liquidez, elimina intermediários na transação e apresenta transparência na formação de preços.
Fonte: Agência UDOP de Notícias
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