Publicado em Revista Opiniões, ano 20, número 78, divisão C, nov-jan 2024
Quando falamos em sustentabilidade, podemos pensar em um longo processo histórico que demandou (e ainda demanda) um amadurecimento da consciência humana para lidar com a grande velocidade do desenvolvimento econômico e tecnológico, que, se não for bem gerido e utilizado de maneira consciente, pode trazer impactos para as pessoas e organizações. Alguns estudiosos da área afirmam que sustentabilidade é um processo em contínua mudança e adaptação, no qual se tem a capacidade de um sistema de manter sua produtividade, mesmo em situações de adversidade.
Quando entramos no mundo organizacional, falamos de “sustentabilidade corporativa”, cujo principal objetivo é atender às partes interessadas (stakeholders e shareholders) sem comprometer sua capacidade de responder às necessidades das gerações futuras.
As empresas possuem uma grande responsabilidade, pois são elas que representam os recursos produtivos da economia. Nesse sentido, é de grande importância que haja a interação e cooperação entre os agentes de um sistema (como empresas privadas, governo e comunidade) na busca por objetivos comuns, relacionando lucratividade com sustentabilidade socioambiental.
O conceito de “ESG”, acróstico das palavras em inglês, Environental, Social e Governance (Ambiental, Social e Governança) foi criado em 2005, como resultado de uma iniciativa da Organização das Nações Unidas e do Banco Mundial, tem sido o modelo mais aceito e adotado como base para definição das estratégias das organizações. Essa proposta trouxe a sugestão de que todo o aspecto de governança (políticas, valores e ações da organização, entre outros) permeia os tópicos ambiental e social. Isso significa que ser uma organização sustentável é comprometer-se com o social, o ambiental e as atitudes que comprovem os preceitos do desenvolvimento sustentável.
No agronegócio, alguns dos tópicos, que têm sido utilizados pelas organizações para a mensuração dos indicadores de sustentabilidade, incluem no elo econômico: desenvolvimento econômico, investimento em tecnologia, contribuição para o Produto Interno Bruto (PIB) local e busca contínua por ganhos em eficiência.
Na dimensão ambiental, estão incluídos: recursos renováveis, geração de energia própria, economia circular e uso eficiente da água. Já os itens incluídos na dimensão social são: saúde e bem-estar dos stakeholders, inclusão de agricultores, boas condições de trabalho, erradicação da fome e segurança alimentar.
Atualmente, os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), propostos pela ONU, são o carro-chefe dos países que visam, em 2030, estarem em um novo patamar de percepção relacionada ao tema. Muitas empresas têm utilizado esses parâmetros para promover suas ações, para atender, ao menos, a uma parte desses objetivos (ODS).
A busca pelas empresas responsáveis está ainda mais refinada. A preocupação com o longo prazo é maior e tem levado a questionamentos acerca da origem e destino de determinado produto na chamada rastreabilidade da cadeia de produção. Com ferramentas de mensuração, é possível acessar mais de um tipo de capital, não só o financeiro, mas, também, o capital natural e o capital humano, que são muito valiosos para a corporação e para o sistema em que ela está inserida.
Por meio de relatórios ESG, as empresas disponibilizam, de maneira transparente e clara, suas atividades inseridas nesses critérios em prol da governança, meio-ambiente e sociedade, abrindo caminho para possíveis investimentos. Tais informações servem para mitigação de riscos, com foco em resultados a longo prazo. Realizada anualmente, a avaliação desse conjunto de pontuações pretende identificar as empresas mais bem equipadas para reconhecer e responder às oportunidades e desafios emergentes de sustentabilidade.
Do ponto de vista empresarial, é notável a importância que a governança corporativa desempenha em prol da melhoria dos parâmetros ambientais e sociais. Os líderes e gestores precisam compreender esse papel e trabalhar de forma articulada para que a sustentabilidade não seja apenas uma “promoção de imagem”, mas, principalmente, a “promoção de mudanças” na sociedade, nos setores, nas pessoas e na própria corporação.
Em um de nossos trabalhos recentes, como linha de pesquisa na pós-graduação da Universidade de São Paulo (Neves & Martinez, 2020), propusemos alguns temas que representam a governança corporativa, e que devem ser trabalhados pelas organizações. Na sequência, cada um desses itens foram listados e podem contribuir para as discussões e decisões estratégicas de seus líderes, sendo eles:
- fornecer produtos ou serviços com respeito aos stakeholders, transparência, ética e integridade;
- implementar e manter a cultura da sustentabilidade;
- definir objetivos comuns na rede da empresa (desde fornecedores até distribuidores);
- trabalhar parcerias e alianças públicas e privadas, contribuindo para o desenvolvimento de projetos maiores e para a inovação;
- medir os impostos pagos e a contribuição para o PIB, a situação econômica antes e depois do investimento e as contribuições da empresa;
- estimular a economia compartilhada;
- interagir de forma ativa com outros agentes na promoção do desenvolvimento econômico;
- buscar certificações em sustentabilidade;
- formar equipes técnicas para auxiliar toda a cadeia de fornecedores e monitoramento, e
- criar e a gerir fundos de investimentos em projetos voltados a ações ESG.
Esperamos que essa reflexão possa contribuir para estimular discussões nas empresas e promover a conscientização de lideranças acerca de seu valioso papel de promover a sustentabilidade na rotina empresarial.
Marcos Fava Neves
Professor da FEA-USP e da EAESP-FGV
Fonte: Revista Opiniões
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