Pesquisadores no remoto deserto da Puna, na Argentina, descobriram micróbios (extremófilos) que tornam possível o crescimento de plantas em solo degradado, além de aumentarem em 9% a 13% a produtividade em solo fértil, podendo substituir fertilizantes sintéticos. Com base nesse conhecimento, a empresa Puna Bio levantou US$ 3,7 milhões para lançar comercialmente seu primeiro produto para soja na Argentina, uma alternativa competitiva com soluções biológicas já existentes, além de expandir testes para trigo e milho em busca da aprovação regulatória nos Estados Unidos e no Brasil.
A rodada foi liderada pela At One Ventures e Builders VC, com participação da SP Ventures, e Air Capital, além do follow-on dos investidores da rodada anterior: IndieBio (SOSV), Glocal e Grid Exponential.
A equipe fundadora da Puna Bio descobriu e estudou por mais de 20 anos a vida na Puna, deserto na região do Atacama nos Andes, um local de muita altitude (4.500m acima do nível do mar) cheio de salinas, vulcões ativos e um solo desértico. “La Puna” é o deserto mais alto e seco da Terra, com um quinto das chuvas do Vale da Morte. No entanto, mesmo sob essas condições extremas de solo degradado, ácido, irradiado por raios ultravioletas (UV) e salinizado, existem organismos de 3,5 bilhões de anos que não apenas sobreviveram, mas prosperaram nessas condições.
“Olhando para as propriedades genômicas das bactérias desse ambiente extremo – que se assemelha à Terra primitiva, ou mesmo Marte -, podemos entender como genes específicos fazem com que as plantas superem estas condições de estresse”, disse no comunicado a co-fundadora e CRO María Eugenia Farías, que estudou a Puna por 20 anos e publicou mais de 100 artigos sobre o tema. “Essas propriedades podem então ser aplicadas à agricultura, para auxiliar o crescimento das culturas em ambientes semelhantes com falta de nutrientes, condições de seca, mudanças drásticas de temperatura e alta radiação UV, além de aumentar produtividade em condições normais, que são um dos maiores desafios do agronegócio global”, acrescentou.
“Os cientistas estão trabalhando muito com organismos geneticamente modificados, como soja e trigo tolerantes à seca, e vimos a Puna Bio como um complemento a esses esforços”, observou Laurie Menoud, sócia-fundadora da At One Ventures.
A empresa já identificou e isolou cepas específicas de extremófilos que reduzem a necessidade de fertilizante nitrogenados em aproximadamente 20% e estão realizando testes com novas cepas que visam a aumentar esse número para 30%. A redução dos fertilizantes nitrogenados reduzirá, por sua vez, as emissões de carbono, uma vez que atualmente são a fonte de um terço das emissões agrícolas totais.
A Puna Bio foi fundada no fim de 2020, e rapidamente escalou suas operações de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) em testes de campo na Argentina e nos EUA, tendo tratado mais de 600 toneladas de sementes de soja e realizado testes em mais de 20 mil hectares na América Latina.
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