Empresa de fertilizantes especiais cresceu cinco vezes nos últimos seis anos e vai investir R$ 165 milhões em fábrica de biológicos e expansão de unidades
Companhia tem sede em Ribeirão Preto e unidades industriais em Jaboticabal, no Estado de São Paulo
O grupo Santa Clara, que atua há mais de 26 anos na produção de fertilizantes especiais e cresceu cinco vezes nos últimos seis anos, vai investir R$ 100 milhões na construção de uma nova fábrica de biológicos e na expansão das atuais unidades.
Também prevê investir R$ 65 milhões em inovação, validações agronômicas e registro de formulações.
Com a nova estrutura, a companhia familiar, que acaba de fazer mais uma aquisição, tornando-se uma holding SA com quatro empresas, projeta chegar ao faturamento de R$ 1 bilhão até 2030.
O faturamento atual não foi revelado, mas a conta para chegar a R$ 1 bilhão considera crescer seis vezes em sete anos.
Com sede em Ribeirão Preto (SP) e unidades industriais em Jaboticabal, a 57 km da sede, o grupo exporta seus produtos para mais de 30 países da América do Sul e América Central, atende Espanha e Portugal e abriu mercado este ano na Índia e na África.
“Enquanto o mercado cresceu 23% ao ano, a Santa Clara aumentou 31% seu faturamento a cada ano. Então, a projeção de chegar a R$ 1 bilhão em 2030 é bem realista”, diz o diretor-presidente da companhia, João Pedro Cury, 37 anos, filho do fundador, José Amaro Cury.
Trajetória
O patriarca começou a trabalhar com fertilizantes em 1968 na Dow Química e fundou sua primeira empresa de nutrição de plantas em 1977.
A Santa Clara Agrociência, nome escolhido em homenagem à avó de João Pedro, que era devota da santa, nasceu em 1997, três anos após a família vender a primeira empresa.
Segundo João Pedro, que está há seis anos no comando do grupo, o crescimento acelerado da empresa se deve à expertise do pai, ao investimento de 8% do faturamento anual em pesquisa e desenvolvimento, ao profissionalismo e à governança em todas as áreas, à rapidez nos processos e à abertura do mercado internacional, que representa 15% do faturamento.
A empresa tem os resultados verificados há cinco anos por auditoria externa, mantém uma filial no Paraguai e planeja abrir unidades também no Panamá e Espanha.
As cinco estrelas do logo da empresa representam cada membro da família, que atua unida no negócio. Atualmente, José Amaro e a esposa, Ariana, estão apenas no Conselho da Família, mas a irmã Talita está no Conselho de Administração e a mais nova, a arquiteta Luisa, cuida das obras de expansão das unidades industriais do grupo.
Biológicos
A nova empresa de biológicos, a Inflora Biociência, vai ser lançada no próximo congresso da Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários (Andav), de 8 a 10 de agosto, em São Paulo.
A unidade, que deve ficar pronta em três anos, será construída em Jaboticabal, em uma fazenda de 40 hectares comprada recentemente. O grupo já tinha uma indústria de biológicos, a CCA Agroindustrial, adquirida em 2013, mas só produzia uma bioisca para um único cliente.
Com novas tecnologias, a Inflora vai fabricar produtos biológicos à base de plantas e microrganismos, apostando em um mercado de R$ 3,4 bilhões, que deve chegar a R$ 17 bilhões em 2030, segundo projeções.
Outra vantagem é o tempo menor de registro dos biodefensivos (dois a três anos) na comparação com os químicos.
Um desses novos produtos, resultado de uma parceria com a Embrapa Agroenergia que envolve pagamento de royalties, será totalmente disruptivo, segundo o diretor-presidente.
“Os produtos biológicos que estão no mercado dependem de organismos vivos (fungos, bactérias ou vírus), não duram muito no armazenamento e têm que ser usados com fungicidas químicos. Esse novo biológico que produzimos junto com a Embrapa não tem organismos vivos e vai durar muito mais”, afirma João Pedro, acrescentando que o produto está em processo de registro para o lançamento.
Até agora, a estratégia de crescimento tem privilegiado a aquisição de empresas, mas o executivo diz que, com a consolidação da holding, esse não é mais o objetivo.
“Só se surgir uma grande oportunidade”, afirma, revelando que é assediado diariamente por fundos de investimento interessados na compra da Santa Clara.
A empresa principal, Santa Clara Agrociência, responde por 90% do faturamento. O grupo adquiriu ainda, a Hydromol, que produz fertilizantes para outras empresas (modelo B2B) e até customiza fórmulas e, recentemente comprou a Linax, que fabrica há 21 anos óleos essenciais e equipamentos de destilação.
A Linax vai mudar sua sede de Votuporanga para Jaboticabal. As unidades industriais do grupo estão passando por uma ampliação que deve elevar em 250% a capacidade de armazenagem de produtos acabados e também expandir a área administrativa.
Além da Embrapa, a Santa Clara tem parcerias com 47 instituições no Brasil e no exterior para validação das tecnologias que desenvolve e também trabalha com inovação aberta. Atualmente, tem um projeto de prospecção de startups no “Vale Caipira”, no eixo de Piracicaba a Ribeirão Preto.
Culturas
A soja é responsável pela maior parte das vendas dos fertilizantes especiais, que são produtos nobres para elevar a produtividade das culturas com aplicação via semente e folhas, mas os produtos da Santa Clara também são usados no milho, cana-de-açúcar, café e hortifrútis.
No exterior, são aplicados, por exemplo, no cultivo da banana na Costa Rica, na cana da Guatemala e no coco da República Dominicana.
O carro-chefe das vendas é o Salut, que aumenta a imunidade da planta durante os períodos de crescimento e reprodução e melhora a qualidade dos frutos e flores após a colheita. O grupo produz anualmente 8 milhões de litros de defensivos líquidos e também em pó micronizado.
São fertilizantes organominerais, de sais solúveis, de concentrados solúveis, além de compostos produzidos por meio de suspensões de nanopartículas.
Empresa tem os resultados verificados há cinco anos por auditoria externa, mantém uma filial no Paraguai e planeja abrir unidades também no Panamá e na Espanha — Foto: Divulgação
Para chegar aos clientes, a Santa Clara tem investido na sua capilaridade, com o aumento dos centros de distribuição terceirizados de oito para 11 este ano. Nesses centros, o atendimento é feito em dois ou três dias. O Estado de Mato Grosso do Sul é o maior consumidor.
“Esse avanço é estratégico porque nosso mercado é de volume de oportunidades. O produtor diz que não vai investir, porém, na hora que a soja começa a crescer bonita, ele vê a oportunidade de aumentar a produtividade e só aí encomenda os fertilizantes especiais esperando entrega imediata. Nossos produtos agregam, em média, 10% na produtividade, mas em alguns casos podem chegar a 30% ou 40%.”
Equipe
Investir na equipe é outro “pulo do gato” da Santa Clara. Boa parte dos funcionários são cientistas com mestrado, doutorado e pós-doutorado. A empresa tem programa de trainees (acaba de contratar 33) e de estagiários, visando formar funcionários qualificados que “vistam a camisa” da Santa Clara. Atualmente, são 225 colaboradores, com mais 25 vagas abertas.
FONTE: Globo Rural
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